Há jogos em que afloram muito menos as potencialidades do que os problemas que um time e outro ainda precisam resolver ao longo da temporada. Foi o caso do insosso empate entre Vasco e Botafogo, ontem, no estádio Nílton Santos. Como o alvinegro é, a esta altura, um time bem mais resolvido do que rival, com uma identidade mais definida, em estágio superior, explica-se que tenha tido mais tempo de predomínio e algumas oportunidades a mais. No entanto, nada que torne o 0 a 0 um resultado incoerente com o roteiro de um clássico bem abaixo do esperado pelos pouco mais de 9 mil presentes.
Ainda que se acredite no contrário, não seria uma simples demissão de treinado que, por encanto, faria o Vasco jogar melhor do que vinha fazendo. Muito menos com um interino à espera da solução definitiva. Valdir apostou em Andrezinho e Evander como novidades, um em cada lado do campo. Do primeiro, esperava uma melhora no trato da bola, o que conseguiu por cerca de 20 minutos, não mais. Foi neste período que uma triangulação pela esquerda levou ao cruzamento e à dupla defesa de Gatito Fernández, em puro reflexo, nas finalizações de Evander e Nenê, a deste último anulada equivocadamente pela arbitragem.
Aos poucos, quando o Botafogo tratou de ter a bola, o Vasco não tinha articulação para sair de seu campo, tampouco vigor com Andrezinho, Nenê e Luís Fabiano. A bola não era retida na frente, a torcida chegava a recordar problemas recorrentes na temporada passada. Não foi com Pikachu e com Éderson no segundo tempo que o time progrediu. O Vasco ainda é dependente de Douglas para ser seu motor, para lhe dar mobilidade e alguma transição para o ataque. Até o fim do jogo, só assustaria numa cobrança de falta de Andrezinho, perto do fim, que fez Gatito brilhar novamente.
Já o Botafogo, que se propõe a voos mais altos na temporada, tenta se adaptar, com muito custo, à nova formação de 2017. Não é um decreto de que não funcionará, o caso é que, até agora, foram raros os minutos em que o time jogou verdadeiramente bem com Camilo, Montillo e Roger juntos. Ontem, o problema voltou a se mostrar. É uma formação menos veloz, menos afeita ao contragolpe, arma letal em 2016. Ontem, quando ficou com a bola no campo do Vasco, o Botafogo tinha dificuldade de encontrar soluções: pela direita, Camilo era ausente do jogo; pelo centro, Montillo não conseguia receber a bola em boas condições. A mudança de estilo demanda tempo.
O que nunca falta ao Botafogo é o ordenamento dado pelos volantes. Em certos momentos do clássico de ontem, ele apareceu. Bruno Silva e Aírton, quando conseguem conduzir a bola e se aproximar dos homens de frente, fazem o time ser mais eficiente. Numa roubada de bola em cima do vascaíno Douglas, saiu o chute perigoso de Montillo. Mais tarde, Bruno Silva conduziu até chutar com perigo. Mas foi no segundo tempo, após Jair Ventura colocar Sassá e Pimpão e ganhar armas velozes na frente, que um Botafogo mais próximo de sua característica habitual quase marcou. A três minutos do fim, Sassá ligou contragolpe em belo passe para Pimpão, mas Jean evitou o gol. Não havia mesmo como tirar o zero do marcador.