SÃO PAULO – Um dia após o GP do Brasil de Fórmula-1, em São Paulo, um asterisco ainda assombra a realização da prova no Autódromo de Interlagos em 2017. Em setembro, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) divulgou o calendário para o próximo ano com marca indicativa de pendência de confirmação ao lado da prova brasileira ? e também ao lado dos GPs da Alemanha (Hockenheim) e Canadá (Montreal).
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Uma das razões seria a fuga de patrocinadores. Dois deles, a Petrobras e a Shell, retiraram seus aportes, causando prejuízo estimado em US$ 30 milhões ? cerca de R$ 100 milhões ? aos organizadores. Tamas Rohonyi, promotor do GP Brasil, disse ao GLOBO que tem contrato com a FIA para a realização da prova até 2020:
? Temos esse contrato, é tudo o que sei. A FIA não quebra contratos, eu, tampouco. Talvez tenha havido uma certa dúvida quanto à postura, durante as eleições, de um possível novo prefeito ? disse, referindo-se ao candidato eleito João Dória (PSDB), que derrotou Fernando Haddad (PT).
Durante a campanha e em conversas reservadas, Doria tem dito que pretende privatizar o circuito pois considera a manutenção um custo elevado aos cofres públicos. Convidado pela organização a assistir a corrida, ele não compareceu.
Haddad, por sua vez, foi neste domingi a Interlagos e disse que vai se reunir com o prefeito eleito na quarta-feira para decidir o destino do circuito:
? Dependendo do que ele pretende, talvez não valha a pena concluir as obras que estamos fazendo. Ou, dependendo de como ele entender, vamos concluí-las antes de tomar qualquer decisão a respeito desse equipamento público.
A primeira parte das obras, realizada em 2014, incluiu o recapeamento da pista, o alargamento da entrada dos boxes e a criação de uma área de escape no S do Senna. A segunda etapa, no ano passado, entregou o novo paddock e a nova área de convivência das equipes. Este ano, embora tenham ficado prontos o edifício de apoio e centro operacional do autódromo, falta ainda a conclusão dos boxes e a cobertura do paddock.
Além disso, há melhorias na pista, feitas em concordância com as regras da FIA. O engenheiro-chefe do GP Brasil, Luís Ernesto Morales, diz que desde 2000, quando assumiu o cargo, o autódromo vem se transformando:
? Com a evolução da F-1, Interlagos vai se modernizando para tentar seguir atual. Não é que o circuito esteja errado, ele tem que se mover em função da evolução constante que a F-1 traz. Por isso que é uma categoria top.
Desde 2013, Interlagos vem se adequando às exigências da F-1. Um contrato firmado entre o Ministério do Turismo e a Prefeitura de São Paulo, através do Programa de Aceleração do Crescimento do Turismo (PAC Turismo), prevê um investimento total de R$ 160 milhões nas obras, dos quais até agora foram gastos R$ 120 milhões. Esta semana, o ministério liberou mais uma parcela de R$ 54 milhões, totalizando assim R$ 81,8 milhões executados.
? A ideia inicial é transformar isso aqui em um parque multiuso, com realização de eventos que extrapolam o uso da pista para eventos de automobilismo ? disse Roberto Garibe, secretário de Infraestrutura Urbana e Obras do município, que fez parte da comitiva do prefeito.
Segundo a SPTuris, empresa estatal de eventos e turismo da cidade, a F-1 movimenta cerca de R$ 260 milhões na economia local.
Na quarta-feira, Bernie Ecclestone, presidente da Formula One Management (FOM), braço comercial da F-1, esteve com o presidente Michel Temer, no Palácio do Planalto, em Brasília. Casado com a brasileira Fabiana Flosi, Ecclestone tem fortes ligações com o país e tem feito o possível para garantir a manutenção do GP Brasil.
MINISTROS COMPARECEM À CORRIDA
O brasileiro Felipe Massa espera que coloquem pressão para que a prova permaneça:
? Há algumas corridas que correm risco para o ano que vem, seja por dinheiro ou contrato. Nós sabemos como Bernie é… E o momento do Brasil é de crise. Espero que a F-1 seja mantida em São Paulo, mas há riscos.
A visita do dirigente britânico ao Planalto parece ter dado resultado. Os ministros Marx Beltrão, do Turismo, e Leonardo Picciani, do Esporte, assistiram ontem ao GP em Interlagos e defenderam a permanência da F-1 em São Paulo.
? É um evento da cidade de São Paulo e do Brasil. A manutenção da corrida é muito importante e tem o apoio do Governo Federal ? disse Picciani, que aponta ser essencial a colaboração com a Prefeitura para garantir o autódromo nas melhores condições possíveis.
A perspectiva de extinção deixou pilotos estrangeiros preocupados. Vencedor da corrida ontem pela primeira vez em dez anos, Lewis Hamilton, da Mercedes, disse estar ciente das dificuldades que os brasileiros enfrentam com a economia:
? Esse é um GP que deve permanecer, é parte da herança da F-1. E é um desses circuitos originais que não podemos perder. Os fãs são o que realmente compõem um GP. Há alguns aos quais vamos e que não têm um terço dos fãs daqui. Espero que continue, mas também entendo que é necessário um monte de dinheiro para fazer esse evento, que poderia servir para esse país e para as pessoas aqui ? disse o tricampeão da F-1.
O finlandês Kimi Raikkonen, da Ferrari, lamentou que tudo se resuma a dinheiro:
? Acho que, se dependesse dos pilotos, nós voltaríamos, mas parece que funciona assim em alguns lugares. Os pilotos gostam dos lugares, mas sempre há uma interrogação sobre o fato de voltarmos. É triste, mas tudo se resume a dinheiro, infelizmente. A maior quantia leva a corrida.