?É uma emoção incrível ver o esporte que a gente tanto ama ser abraçado pelo povo brasileiro de maneira tão calorosa?. Tetraplégico desde dezembro de 2010, quando foi vítima da síndrome de Guillain-Barré, o analista de sistema Daniel Gonçalves, 31 anos, era a imagem da alegria que marcou mais uma rodada do rúgbi, na Arena Carioca 1, no Parque Olímpico da Barra.
À primeira vista, a modalidade, uma das caçulas do programa paralímpico (foi demonstração em Atlanta-1996 e debutou em 2000, em Sydney), pode até causar espanto ? embora não possa haver contato físico ? devido aos choques constantes de cadeiras durante a partida. Mas basta acompanhar de perto para entender por que o rúgbi em cadeira de rodas (batizado, inicialmente, de ?bola assassina?) vem contagiando tanta gente na Paralimpíada.
Disputado em quatro períodos de oito minutos, o esporte é uma mistura do basquete com o handebol e requer três qualidades básicas: velocidade, habilidade e força. A primeira, para não desperdiçar os 40 segundos de posse de bola (que é redonda, de vôlei) ? o limite para ultrapassar o meio da quadra é 12 segundos ? que cada time tem para construir as jogadas. A segunda, para dominar a bola, driblar os adversários, passar a linha de gol e, consequentemente, pontuar. E, a terceira, para aguentar as diversas batidas entre as cadeiras. Os mecânicos são chamados com grande frequência à quadra para trocar as rodas danificadas.

NO CARNAVAL, DESTAQUE NA UNIÃO DA ILHA

Em paralelo à alegria pelo sucesso da modalidade na Paralimpíada, os integrantes da Santer Rio ? que marcam presença na Arena Carioca 1 com um bandeirão ? têm o sonho de representar o país pelo segundo ano seguido, no campeonato chamado Rúgbi Mania, em Praga, na República Tcheca.
? Nossa batalha é disputar mais uma vez o torneio. Para isto, estamos fazendo rifa, vendendo camisas, bandeirão, pedindo curtidas em nossa fanpage (Santer Rio Rugby), buscando patrocínio para, desta vez, voltar ao torneio com a equipe completa. Ano passado, fomos por conta própria, e nem todos puderam ir ? explica o técnico em informática Eduardo Mayr, de 44 anos.

Tetraplégico desde 2006 (quando quebrou a sexta e a sétima vértebras cervicais ao mergulhar em uma praia de Angra dos Reis), Mayr aposta na Paralimpíada para alcançar sua meta.
? O público tem gostado, gritado, falado da modalidade, tem sido incrível ? elogia ele, que é ex-presidente da Associação Brasileira de Rúgbi em Cadeira de Rodas, e surfava desde os 12 anos antes de se acidentar.
No Brasil, o rúgbi em cadeira de rodas está engatinhando. Tanto que apenas 12 equipes (seis na Primeira Divisão e o mesmo número na Segunda) disputam o Campeonato Brasileiro.
? São apenas 150 atletas no Brasil, muito pouco para um país do nosso tamanho. Campinas tem dominado o Brasileiro, mas o último campeão foi Belo Horizonte. Já estivemos na Segunda Divisão e, neste ano, nossa briga foi para não sermos rebaixados. E conseguimos ? diz Mayr.
Veja vídeo da equipe Santer Rio em ação:
Em dezembro, o time disputa a Copa Caixa, na Andef (Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos), uma competição nacional.
DERROTA DO BRASIL
Nesta sexta, na Arena Carioca 1, o Brasil (estreante na modalidade em Paralimpíadas, por ser anfitrião) sofreu a terceira derrota em três partidas: 52 a 32 para a Grã-Bretanha. As duas seleções, que fizeram parte do Grupo A, entraram em quadra sem chances de brigar pelo pódio. Ainda assim, com bom público presente na arena, fizeram uma partida movimentada. A empolgação da torcida era tanta que, mesmo com grande desvantagem no placar, havia gritos de ?eu acredito!? quase até o fim da partida.

E o Brasil, treinado por Rafael Gouveia, voltará à quadra às 10h30m, para tentar o sétimo lugar. Será mais uma chance de a torcida mostrar sua recente paixão pelo rúgbi para cadeirantes.