Cotidiano

Ex-gerente da Petrobras usou executivo da Odebrecht para receber propina da UTC

SÃO PAULO Ninguém pode acusar que faltou camaradagem entre os envolvidos no maior esquema de corrupção do país. Se lá atrás a Lava-Jato revelava um cartel entre os empreiteiros do país para obter contratos na Petrobras, a nova fase da operação mostra que teve até executivo da Odebrecht atuando como laranja numa conta no exterior apenas para que um operador da UTC pudesse pagar propina ao gerente Roberto Gonçalves, preso nesta terça-feira. Para receber U$ 1,6 milhão em propina da UTC, Gonçalvez pediu ao amigo da Odebrecht Rogério Araújo – hoje em prisão dominiciliar – para que abrisse uma conta na Suiça.

Embora Araújo garanta não saber qual era a origem do dinheiro, a movimentação foi feita. As investigações revelam que o dinheiro saiu do caixa-dois da UTC, que também não teria conhecimento sobre quem era o intermediário do esquema. Ainda assim, o pedido feito por Gonçalvez foi prontamente atendimento pelo ex-executivo da Odebrecht.

? Eu abri uma conta em meu nome. Cometi um desatino, hoje eu vejo que é uma coisa completamente fora dos padrões. Abri uma conta e dei para ele (Gonçalves) usar. Não deixei de ser, desculpa o termo, um ?laranja? dele, né? ? falou Araújo aos procuradores.

Só um detalhe: em meio às investigações, Araújo foi preso, a conta interceptada e o dinheiro bloqueado pelo juiz Sérgio Moro.

As propinas pagas pela UTC foram intermediadas pelo operador Mario Goes e estavam ligadas a contratos obtidos pela empreiteira no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e na venda de navios. Goes depositou os valores na conta da Suíça aberta por Araújo a pedido de Gonçalves. A revelação foi feita pelo próprio ex-executivo da Odebrecht, após o acordo de delação premiada firmado com o Ministério Público Federal (MPF

Segundo ele, Roberto teria reclamado da dificuldade para receber valores ilícitos. Por lei, Gonçalves, por ser funcionário da Petrobras, tinha suas movimentações financeiras monitoradas de forma rotineiraera. Por isso, era definido como ?pessoa politicamente exposta? Foi aí que veio a ideia de pedir uma ajuda para o amigo.

? Eu fechei essa conta, passei pra uma outra e entrou no perdimento que eu declarei à Força-Tarefa, do (Banco) Pictet. Está todo esse bolo lá no Pictet ? disse. (Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire)