Cotidiano

Crítica: Danilo Caymmi, de coadjuvante a intérprete perfeito

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RIO ? Se os anos tocando e cantando com Antonio Carlos Jobim relegaram Danilo Caymi à condição de coadjuvante, quando tinha talento para muito mais, o longo convívio com o maestro o transformou em perfeito intérprete da obra jobiniana. O que é pouco para dar a exata dimensão artística que o menos famoso dos Caymmis tem. Links – Danilo Caymmi – Tom Jobim

Este novo CD, voz e flauta dele, cello de Hugo Pilger, violão e produção de Flávio Mendes, tem a elegância e a economia camerística que Jobim preferia como clima de suas canções. E tudo isso num repertório nada óbvio. Algumas faixas (?Ela é carioca?, ?Água de beber?, ?Estrada do sol?, esta com participação de Stacey Kent) são pura bossa nova, mas as demais abraçam a alma modinheira de Jobim. São intimistas, cheias de um sentimento que Danilo passa adiante como raros intérpretes o conseguem. Sua ?Luiza?, por exemplo, é toda Jobim sem que em momento algum Danilo recorra à imitação. ?Chora, coração? e ?Derradeira primavera? têm o dedo de Vinicius. ?Praias desertas? e ?Por causa de você? nada devem às gravações originais. Há momentos menos conhecidos, como ?Querida? e a letra em português de ?Bonita?. Nem bossa nova, nem intimista, ?Gabriela? lembra o Jobim das trilhas sonoras. Pelo menos em parte, a baianice da melodia (?Chega mais perto, moço bonito/Chega mais perto, meu raio de sol…?) Jobim deve-a a Dorival, pai de todos os Caymmis.

Se um disco basta para provar alguma coisa, este é o suficiente para nos convencer que Danilo Caymmi, músico moldado a partir de seu trabalho com Jobim, é na verdade ele mesmo, cantor e flautista que, por maior que seja o homenageado, o artista principal é ele próprio, ex-coadjuvante.

COTAÇÃO: ÓTIMO