CARACAS Mais de meio milhão de militares iniciam nesta sexta-feira dois dias de exercícios de defesa na Venezuela. O presidente Nicolás Maduro ordenou que a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) mobilize a artilharia em uma preparação para eventuais agressões externas. O país atualmente vive em estado de exceção enquanto a oposição investe em uma intensa campanha pela saída de Maduro por meio de um referendo revogatório.
O presidente chavista sustenta que os EUA planejam uma intervenção na Venezuela a pedido da bancada de direita no país. Por isso, decidiu que centenas de milhares de reservistas e milicianos se reúnam aos mais de 160 mil efetivos da FANB.
Segundo o ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López, a medida sem precedentes não busca provocar alarme no país. Ele justificou o início os exercícios militares com ameaças internas e externas que pretendem quebrantar a revolução de Maduro.
Este referendo é para gerar as condições para esquentar as ruas e justificar um golpe de Estado ou uma intervenção estrangeira. Para isso estão tentando ativá-lo com muito pouco apoio afirmou Maduro na noite de quinta-feira.
Na última sexta-feira, o presidente declarou o estado de exceção na Venezuela, o que gerou uma série de protestos de opositores ao seu governo. As manifestações foram marcadas por pelo menos sete prisões e episódios de violência ao longo dos últimos dias. Maduro diz que não hesitará em decretar a comoção interna, que implicaria em restrições a liberdades civis, caso aconteçam atos violentos contra o seu governo.
A tensão política se soma à dramática escassez de alimentos básicos e remédios e ao alto custo de vida no país. Atualmente, a Venezuela tem a inflação mais alta do mundo, que pode atingir 700% em 2016.
LEVANTE MILITAR NO AR
Em entrevista à rede BBC, o líder opositor Henrique Capriles disse que a possibilidade de um levante militar está no ar, embora não tenha defendido uma ofensiva armada.
Não quero dizer se um levante militar tem chances pequenas ou grandes, mas está no ar. Nós não queremos isso. Se nós quiséssemos um levante militar, não estaríamos exigindo um referendo revogatório disse Capriles, o principal promotor do referendo para encurtar o mandato de Maduro.
Nesta semana, o líder opositor convocou as forças armadas a decidir se estão com a Constituição ou com Maduro, em um chamado a rejeitar o estado de exceção. Decretada inicialmente por 60 dias, a medida foi aprovada pela Suprema Corte da Venezuela, embora tenha sido inicialmente rejeitada pelo Parlamento, cuja maioria dos assentos pertence à oposição.
No estado de exceção, militares e outras forças de segurança ganham poderes especiais para manter a ordem interna e defender o país de agressões externas. Além disso, estes grupos podem tomar o controle das fontes de bens primários e de energia para enfrentar a atual escassez que atinge o país.
Se Maduro ordenar que as forças armadas tomem uma fábrica à força, as forças armadas terão que tomar a decisão sobre se vão com Maduro ou dizem a ele: Nós não vamos acatar ordens que estejam à margem da Constituição afimou Capriles.