Cotidiano

Mesmo simplificado, Golf 1.4 TSI é o carro a ser seguido

RIO – Antes de falar mal dos carros brasileiros, dirija um VW Golf Highline 1.4 TSI. O modelo, que era importado de Puebla, no México, passou a ser fabricado no Paraná no início deste ano.

Enquanto a versão básica Comfortline teve a parte mecânica muito empobrecida no processo de nacionalização (com a adoção de um medíocre motor 1.6 aspirado de 120cv), o intermediário Highline manteve seu excepcional motor 1.4 com turbo e injeção direta. E, agora, rende 150cv — dez cavalinhos a mais do que antes.

Houve, contudo, algumas perdas a lamentar: no que começou a ser feito no Brasil, o Golf Highline 1.4 TSI perdeu a suspensão multibraço traseira e o câmbio automatizado DSG de sete marchas e duas embreagens — que deram lugar a um prosaico eixo de torção e a uma caixa automática convencional, com seis marchas. E ainda pior: seus preços subiram. Antes o carro custava R$ 92.290. Agora, sai por R$ 99.190!

Dito assim, parece que odiamos o modelo nacionalizado após duas semanas de convivência. Mas foi justo o contrário — nos últimos meses, poucos carros de teste nos deixaram tão encantados, especialmente por seu ajuste dinâmico.

RAZÃO + EMOÇÃO

O Golf 1.4 TSI pega a frieza técnica alemã e cria emoção a partir disso. Por que todo mundo não o copia? Com esse carro, a filial brasileira da marca abre uma porta de excelência para o Primeiro Mundo automotivo. Trata-se de um Volkswagen tão bom quanto o “primo” Audi A3 1.4 TSI (de R$ 107 mil).

Recebemos para avaliação um Golf 1.4 TSI azul silk, uma sugestiva homenagem histórica ao azul Mônaco do Gol GTi 1989 — se comprássemos um, certamente seria nesse tom. É muita chinfra!

O Golf, aliás, tem um quê de Fantasma Voador, herói dito “imortal” que passa sua missão de pai para filho, modernizando-se a cada geração, mas mantendo-se fiel ao espírito lutador de seus ancestrais.

A gente sente claramente que esse Golf é um sucessor daquele seu tio-avô brasileiro Gol GTi, o primeiro carro nacional com injeção eletrônica. Guiá-lo hoje é tão bacana quanto era dirigir o Golzinho brabo no fim dos anos 80.

O estilo esportivo é realçado pelas rodas Madrid, opcionais, que calçam bons Dunlop Sport Maxx 225/45 R17. Já os aros de série têm um desenho meio genérico e usam pneus 205/55 R16.

VOLKS NO CAPRICHO

O ambiente impressiona, com aquele acabamento que não deve nada aos Golf fabricados no México ou mesmo na Alemanha. Há forração de couro bege clarinha e plásticos de primeira.

Ao perceber a qualidade da pelica que forra o volante (de ótima empunhadura, diga-se), o motorista pode até pensar em um Audi R8…

A posição de dirigir é maravilhosa como só os alemães conseguem projetar, seja em um Porsche ou um VW europeu. O banco prende e parece feito sob medida para você.

Com seu ajuste elétrico opcional, o assento do motorista desce até ficar quase rente com o assoalho. Ressalva, só fizemos uma: o ajuste manual de altura da coluna de direção podia ter um tiquinho mais de curso para baixo.

A chave atua por proximidade. Fique com este opcional no bolso, abra a porta, aperte o botão de partida e o motor acorda discreto. Vamos nos animando e o silêncio persiste: não se escuta o assovio do turbo.

ÓTIMO CONJUNTO

Apesar de seu modesto 1,4 litro de cilindrada, esse carro é brabo e acelera rápido como o pensamento. Com variação nos dois comandos, quase não se nota turbolag. E o motorista sente o turbo soprar com vontade a partir de 2.400rpm.

Daí em diante, o ponteiro do contagiros dá um salto rápido até chegar a 6000rpm, onde começa a faixa vermelha. Se o 1.4 “sem pretensões esportivas” já é assim, imagine o canhão que deve ser o Golf GTI e seu 2.0 turbo de 220cv (preços a partir de R$ 120.690)!

Apesar da substituição do câmbio automatizado DSG de sete velocidades pelo automático, de seis, não se notam patinadas, lerdeza ou qualquer preguiça de trocar marchas. O start-stop dá uma mãozinha na economia, e o consumo de gasolina na cidade ficou na casa dos 10km/l (a Volks diz que o carro faz 11,7km/l na cidade e 13,3km/l na estrada).

A suspensão é durinha e contida, mas longe de ser incômoda. O empobrecimento do eixo traseiro é algo que só será notado quando o carro for levado perto de seu limite.

OPCIONAIS CAROS

De resto é aquele lindo acerto no peso dos comandos que a marca, volta e meia, consegue fazer à perfeição. A direção é bem direta e sua assistência elétrica não exagera na dose de anestesia. Tampouco nota-se excesso de assistência nos freios. Apesar de ser um “modesto” Volks, sentimos nele mais prazer de dirigir do que em um Mercedes A200, de R$ 137.900.

Outro elogio vai para o sistema de som com qualidades que só havíamos percebido em carros de alta gama de marcas “premium”. Faz mágicas pela música: estávamos com um pendrive com músicas em MP3 gravadas do Youtube e o efeito estéreo que se ouvia era digno de um super aparelho da Bang & Olufsen…

Problema, mesmo, só os preços. Os Golf 1.4 TSI custam a partir de R$ 93.790 — com câmbio manual. O carro testado trazia todos os opcionais (incluindo park assist, câmera de ré, ajuste elétrico banco do motorista, faróis xenôn com luz diurna por LEDs, sistema multimídia com tela de 8″ e teto solar), levando o valor para R$ 127.462!

Agora é torcer para que o “depenation team” da fábrica não faça mais estragos nos próximos anos.