Cotidiano

Tecnologia e inovação em sala de aula é tema de debate no primeiro dia do Educação 360

RIO ? O modelo tradicional de sala de aula pouco mudou no último século, mas o advento de novas tecnologias tem transformado a relação dos alunos com o processo de aprendizagem. Enquanto alguns professores insistem em considerar invasores objetos como smartphones e tablets, outros já os veem como importantes aliados no processo de aprendizagem. O desafio dos educadores diante da era tecnológica foi tema de debate, na manhã desta sexta-feira, no encontro internacional Educação 360, realizado pelos jornais O GLOBO e “Extra” na Escola Sesc de Ensino Médio, na Zona Oeste do Rio. O evento é uma parceria com Sesc, com apoio da Coca-Cola Brasil, Canal Futura e TV Globo.

A mesa contou com as presenças da professora Léa da Cruz Fagundes, mestre em Educação e doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), e de David Cavallo, professor visitante da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFBS) e diretor do grupo de pesquisa ?Future of learning? no Media Lab do MIT. Ao longo do debate, foram apresentados três estudos de caso que mostraram que a tecnologia pode, e deve, estar presente no dia a dia dos estudantes.

? No século passado, o professor tinha o papel de repetidor. O professor não tem mais o mesmo papel, e a escola não é mais essa que ainda vemos hoje. A sala de aula é absolutamente tradicional. É uma sala fechada, com 30 alunos da mesma idade estudando os mesmos conteúdos – diz a professora Léa Cruz Fernandes, que provoca: – Por que tem que ser assim? Por que não podemos ter disposições diferentes, modelos de ensino diferentes e até alunos de diferentes idades aprendendo juntos?

O primeiro estudo de caso apresentado foi o do Media Education Lab (MEL), uma organização que acredita na rede digital como ferramenta de conexão entre alunos, empresas, governos e organizações sociais para transformar a educação de forma criativa. Bruna Waitman, formada em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas e uma das criadoras do MEL, apresentou o projeto Plataforma Faz Sentido, desenvolvida em parceria com duas redes municipais ? uma de Alagoas e outra de Salvador – que disponibiliza na rede 120 práticas inovadoras para o ensino médio.

? Em 2011, uma pesquisado americana constatou que 65% dos alunos da educação básica teriam no futuro profissões que não existem. Estamos falando de uma escola que está preparando adolescentes para criarem até suas próprias profissões. É preciso repensar o espaço da escola no sentido de estimular a criação, a autonomia e o protagonismo dos alunos – diz Waitman.
No segundo estudo de caso, foi apresentada a experiência da Escola Sesc de Ensino Médio, que investe na formação de docentes para o ensino híbrido, no qual o formato tradicional é compartilhado com a aplicação de videoaulas. A metodologia inclui o uso de dispositivos como smartphones e tablets em sala.

O terceiro estudo de caso, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi focado no uso de softwares educacionais livres para dispositivos móveis. O professor Paulo Slomp e o bolsista André Ferreira mostraram o site criado por eles, no mesmo formato do Wikipedia, que lista mais de 300 softwares livres que podem ser baixados e acessados por qualquer pessoa.

Para David Cavallo, referência mundial no uso de tecnologia na Educação, esse é o único caminho possível para um país de dimensões continentais para o Brasil garantir o ensino de qualidade a todos.

? Quando falamos no uso de smartphones, tablets ou laptops, muitos vêm logo dizer que é caro. Há 32 anos, quando fundamos nosso grupo de estudos, era impensável que hoje todos tivessem um smartphone em mãos. Quando todos começam a usar, a tecnologia se torna acessível. O baixo investimento em tecnologia na Educação não ocorre por falta de recursos ou por falta de avanço tecnológico, mas sim por falta de vontade de experimentar coisas novas. Como oferecer educação de qualidade em escala nacional? Na minha opinião, sem tecnologia é impossível.