Mais de 2 milhões de adultos utilizam cigarros eletrônicos no Brasil e a projeção é de que esse número cresça ainda mais esse ano, segundo Pesquisa Ipec. Apesar de proibido pela Anvisa no país desde 2009, os vaporizadores, popularmente conhecidos como “vapes”, se transformaram em uma verdadeira febre e podem ser encontrados à venda em diversos estabelecimentos como bares, baladas, além de sites, nas redes sociais e até em aplicativos de entrega.
Essa disseminação massiva fez com as pessoas passassem a se interessar e procurar ainda mais pelo produto, seja para tirar dúvidas ou encontrar lugares para comprar. Segundo levantamento no Google Trends dos últimos dois anos, entre 2021 e 2023, no Paraná a procura pelo termo ‘preço cigarro eletrônico’ cresceu em mais de 180% e por ‘vape cigarro eletrônico’, mais de 170%. No Brasil, a busca na internet por ‘cigarro eletrônico’ aumentou mais de 1.150%; já os termos ‘vape eletrônico’ e ‘cigarro eletrônico vape’ demonstraram aumento da procura em mais de 550% e mais de 650%, respectivamente, em todo o território nacional.
É importante destacar que nos últimos dois anos, a Receita Federal tem dado especial atenção também ao combate ao contrabando de cigarro eletrônico, cuja importação e comercialização é proibida no Brasil. Foram registradas 1,1 milhão de unidades apreendidas em 2022. Em uma única operação nacional, com duração de apenas um dia, em julho do ano passado, foi realizada a apreensão de 290 mil unidades de cigarros eletrônicos.
Os perigos dos produtos ilegais vendidos no Brasil são inúmeros e a exposição do tema nas redes sociais potencializa os riscos, como no aplicativo TikTok, por exemplo, onde há perfis com mais de 40 mil seguidores que dão dicas de onde comprar o dispositivo. No Instagram, lojas para a compra dos dispositivos ilegais também acumulam seguidores e engajamento, e são facilmente encontradas nas buscas dentro e fora da rede social.
Muitas vezes, o consumidor não tem o conhecimento de que 100% da comercialização no país é proveniente de contrabando. “Sem uma regulamentação que estabeleça as regras para comercialização, fabricação, comunicação e conteúdo desses produtos, todos esses consumidores estão expostos a produtos ilegais e desconhecem qual é a procedência, quem são os fabricantes ou qual é a composição real desses dispositivos”, explica Dra. Alessandra Bastos, farmacêutica, ex-diretora da Anvisa e consultora da BAT Brasil.
É importante reforçar que os cigarros eletrônicos não são inócuos, porém, quando regulamentados são consideradas alternativas de risco reduzido em relação ao cigarro convencional, como ocorre em cerca de 80 países que já regulamentaram os produtos. Relatório do governo inglês (Nicotine vaping in England: 2022 evidence update summary”), publicado em setembro de 2022, concluiu que os vaporizadores são até 95% menos prejudiciais à saúde, ou seja, 20 vezes menos nocivos.
A revisão Cochrane, divulgada em novembro de 2022, também pode ser usada como referência, quando demonstra que o cigarro eletrônico de nicotina é a opção mais eficaz para ajudar as pessoas a pararem de fumar quando comparado a outros tratamentos de reposição de nicotina.
“A proibição, que inicialmente foi uma medida de proteção já que há 14 anos não existiam muitos estudos científicos sobre o assunto, hoje inviabiliza o acesso a essa opção, de forma monitorada e fiscalizada, além de deixar o consumidor totalmente vulnerável para adquirir um produto sem qualquer tipo de controle sanitário”, comenta Dra. Alessandra.
84% dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) já regulamentaram os vaporizadores e produtos de tabaco aquecido como alternativas de risco reduzido em relação ao cigarro convencional, entre eles, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Nova Zelândia e todos os países da União Europeia. “Enquanto o Brasil ignorar as evidências científicas e não utilizar a experiência internacional para regulamentar o mercado de cigarros eletrônicos, a população corre risco de uma crise de saúde pública, pelo uso desregrado e descontrolado dos dispositivos. Estamos atrasados nessa discussão quando olhamos ao redor do mundo”, conclui a ex-diretora da Anvisa.