Pela primeira vez na história da humanidade, uma geração de pessoas mais jovens consegue lidar – no sentido de manusear – com as novas tecnologias melhor que a geração dos mais velhos. Crianças e adolescentes, que nasceram neste século, dominam celulares, computadores e outras invenções melhores que nós, os pais. Alunos sabem os caminhos e os atalhos desses equipamentos melhor que os professores.
Esse processo ainda não está sendo absorvido pelos mais velhos e os mais jovens não compreendem a dimensão que isso alcança. É como se nós, com mais de 40 anos, tivéssemos vindo recentemente da escuridão das profundezas das cavernas.
Se compararmos os avanços tecnológicos e o mundo virtual que é oferecido com a realidade da escola talvez eles tenham razão.
No meio disso está o “pessoal” da transição, que nasceu nos anos 1990, quando as coisas estavam começando a tomar forma.
Todas essas invenções que nos conectam instantaneamente, que informam, que nos distraem, que nos aproximam e nos distanciam ao mesmo tempo, que criam redes de comunicações com quem não conhecemos e nos fazem conhecer melhor quem achávamos que conhecíamos, são resultados de invenções, muitas delas, de pessoas que abandonaram a escola.
Lembro que fui preparado na escola para um futuro que em parte não existiu. Perdi noites tentando desenhar letras no caderno de caligrafia e praticamente um ano em um curso de datilografia.
Meu filho, quando tinha cinco anos, digitava com dois dedos no celular mais rápido do que eu que fora preparado para “teclar” com os dez dedos sem olhar para um teclado.
A escola continua preparando seus alunos prevendo um futuro que possivelmente existirá somente pela metade. E a escola continua também utilizando métodos e ferramentas de ensino que se tornaram obsoletos em outros espaços fora dela.
Criança não merece ser vista como um futuro adulto, somente. Criança precisa viver a infância, sem acelerações. Não condeno o aprendizado das coisas, qualquer que seja, desde que ele seja compreendido em sua totalidade. Minha crítica vai ao distanciamento provocado entre a realidade do aluno e a realidade que a escola tenta impor. Somos únicos, exclusivos, com características próprias dentro de uma coletividade. Necessitamos do outro para viver, porém, somos diferentes. Temos o nosso próprio tempo, nossas características e nossos mundos. No horizonte pode existir a mesma coisa, mas cada um a verá com um olhar diferente e fará diferentes interpretações sobre a mesma coisa que está lá. Isso se chama autonomia.
Talvez o momento seja de tentar vislumbrar uma educação horizontal, onde o ensino parta de uma pergunta e que cada um possa ajudar o outro em sua resposta, com aquilo que ele percebe desse mundo. Professor pode ser o provocador de espantos, conforme falou Rubem Alves. Espantar essa geração que já não tem muito com o que se surpreender. Talvez a surpresa esteja na compreensão por parte deles, que eles têm a possibilidade de cooperar com o outro. Para isso, precisamos de uma escola que saiba ouvir, muito mais que falar ou do que apresentar receitas prontas.
E a escola continua também utilizando métodos e ferramentas de ensino que se tornaram obsoletos em outros espaços fora dela
Minha crítica vai ao distanciamento provocado entre a realidade do aluno e a realidade que a escola tenta impor
Altemir Dalpiaz é doutor em educação