Reportagem: Juliet Manfrin
Cascavel – Quase dez anos após a intensificação do fluxo migratório, sobretudo de haitianos após o devastador terremoto de 2010, o retrato que se tem no Paraná é desafiador: com sistemas que não conversam entre si, dados que não são compartilhados por instituições e informações que muitas vezes não batem, ainda não existe um mapeamento sobre migrantes e refugiados no Estado, independente do país de origem.
E você deve se perguntar como é possível inseri-los na sociedade local quando não se sabe de sua existência tampouco quantos são e onde estão. Foi pensando nisso que a Seju (Secretaria de Estado da Justiça, Emprego e Trabalho), a partir do Núcleo Estadual de Políticas para Migrantes, Refugiados e Apátridas, está descentralizando suas ações. Busca-se saber quem são, onde estão e como é possível elaborar políticas públicas para atendê-los de forma plena por todas as regiões paranaenses. Hoje, a avaliação que se faz é que todos os serviços vêm sendo feitos “tateando no escuro”.
Ontem (24) foi a vez de Cascavel receber o evento que recebeu o apoio da Organização Internacional para as Migrações, que vai percorrer, ainda neste ano, as regionais de Toledo e de Foz do Iguaçu, no oeste, mas vai passar por todas as cidades-polo do Estado.
Segundo o coordenador do Núcleo, João Guilherme de Mello Simão, ter esse mapa dará outra dimensão às ações.
O foco do debate que reuniu representantes do poder público e da sociedade civil se pautou ainda na geração de emprego, inserção no mercado de trabalho e os inúmeros desafios como preconceito, discriminação, dificuldades no idioma e tantos outros. “O Paraná é basicamente formado pela migração, então todos somos migrantes em algum nível, todos precisam ser tratados de forma igualitária, com os mesmos direitos e acessos. Além disso, para cada migrante que recebemos, existem quatro brasileiros que deixam o País para se tornarem migrantes em outro lugar. Ou seja, devemos oferecer a eles aquilo que gostaríamos que oferecessem aos nossos compatriotas lá fora”, argumenta o coordenador do Núcleo.
Ao reforçar que esses migrantes e refugiados não estão fora de seus países-mãe por vontade, mas por necessidade extrema, fugindo da pobreza, do desemprego e da guerra, a aceitação e a inserção não podem surgir como novas barreiras. “É mito que eles tiram o emprego dos brasileiros. Eles vêm com suas capacidades específicas, muitos com elevado nível de formação e desempenham funções aqui que às vezes nos são invisíveis. Se considerarmos os dados do Caged, os migrantes não chegam a representar 1%, giram entre 0,5% e 0,8% dos empregados”, esclareceu.
“Observamos que existe um fluxo migratório considerável em muitas cidades do Estado, então precisamos descentralizar as ações, oportunizando as capacitações a mais pessoas por todo o Paraná”, sugere.
Prazos
A expectativa é para que esse mapeamento leve cerca de seis meses para ficar pronto, isso contando após o término dos eventos regionalizados. Com isso, espera-se que já em 2020 o Paraná possa ter à disposição esse banco de dados. “Felizmente se trabalha muito com o apoio da sociedade civil e, se esse banco de dados já existisse, o planejamento seria estratégico”, observa João Guilherme.
O único panorama aproximado que se tem hoje são de venezuelanos no Estado, mas somente daqueles que chegaram por aqui pelo processo de interiorização do governo federal. São cerca de 1,8 mil, dos quais mais de 100 estão em cidades como Cascavel, Foz do Iguaçu e de Palotina. “Mas os venezuelanos que chegaram por conta própria, não sabemos quantos são”, admite o coordenador do Núcleo.