Guaíra – Ao menos 80 agentes da Polícia Federal cumpriram ontem oito mandados de prisão preventiva e 17 de busca e apreensão expedidos pela 1ª Vara Federal de Guaíra. A operação teve o alcance em cinco estados brasileiros e foi chamada de Contaminatus, que em latim significa contaminação.
O objetivo foi desmantelar uma quadrilha com ramificações em Guaíra, no oeste do Paraná, mas que agia também em outros quatro estados, todos de grande produção agrícola, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins.
O que ela fazia? Após dois anos de investigações a PF afirma que o bando, um dos maiores em atuação na região, liderava um grande esquema de contrabando de cigarros e agrotóxicos. Os produtos eram trazidos ilegalmente do Paraguai, boa parte deles estocada em Guaíra e que dali seguia para Umuarama, onde eram reembalados, no caso dos agrotóxicos, e seguiam para Sinop, no Mato Grosso, onde funcionava uma espécie de centro de distribuição para os grandes centros produtivos brasileiros, geralmente em veículos de passeios e vans.
Para dar um ar de legalidade aos negócios, o bando criou empresas de fachada. Ao menos duas foram identificadas, uma em Curitiba e outra em Sinop. Delas eram emitidas as notas fiscais falsas para o transporte dos produtos.
O rastreamento teve início após duas apreensões que totalizaram uma tonelada de agrotóxicos em 2017, mas a PF não informou a movimentação financeira da quadrilha. Os bens, as contas bancárias e as propriedades de todos os suspeitos deverão ficar indisponíveis ao menos até o fim das investigações e, caso condenados, poderá haver o perdimento de tudo o que foi adquirido com dinheiro ilícito.
Durante a operação ontem um homem foi preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo e munições.
Desdobramento para apurar receptação e lavagem de dinheiro
A ação do grupo – que não é restrita nem isolada – já deu origem a outras investigações e a operação deverá ter desdobramentos para identificar a prática de lavagem de dinheiro. O oeste é um campo fértil ao contrabando, tanto de cigarros quanto de agrotóxicos.
Segundo investigações descentralizadas da Polícia Federal, existem ao menos 30 grandes atravessadores de insumos agrícolas contrabandeados sediados somente na região. Isso porque estes produtos que entram ilegalmente no País, vindos do Paraguai, custam em média 20% do valor dos comercializados legalmente no Brasil. Entre os principais centros de distribuição no país vizinho está Cidade do Leste e Salto Del Guaíra, mas os agrotóxicos comumente são produzidos na China, sem certificação ou garantia de que são verdadeiros e que funcionam. Muitos deles, inclusive, são de uso proibido por aqui.
O que se pretende identificar agora é se os compradores sabiam da origem e eles também poderão ser indiciados. Os produtores que usaram insumos ilegais poderão ter suas áreas inutilizadas para o cultivo, além de responderem por crime ambiental.
Quanto aos contrabandistas, eles responderão por organização criminosa, contrabando, descaminho, além de crimes ambientais como a importação, comercialização, depósito, guarda e venda de substâncias perigosas à saúde humana e ao meio ambiente.
Os mandados foram cumpridos em Guaíra, Umuarama, Mundo Novo, Curitiba, Terra Roxa, Sinop, Novo Progresso (PA) e Paraíso do Tocantins (TO).
Reportagem: Juliet Manfrin