Cascavel - O Padre Genivaldo Oliveira dos Santos foi suspenso pela Igreja Católica depois das denúncias que vieram a público envolvendo seu nome o que culminou com a sua prisão no último dia 24, por meio da “Operação Pele em Lobo de Cordeiro” – desencadeada pela Polícia Civil do Paraná. A suspensão foi revelada por meio de nota da Arquidiocese de Cascavel, assinada pelo Arcebispo Metropolitano Dom José Mario Scalon Angonese, no sábado (30).
As denúncias que vieram a público também envolvem o Arcebispo Dom Mauro Aparecido dos Santos, falecido em 2021, vítima da Covid-19. As investigações estão sendo realizadas pelo Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes) que atualizou o número de vítimas, passando para três vítimas do falecido bispo e oito do padre, sendo que as oitivas e as investigações ainda estão sendo realizadas e mais pessoas serão ouvidas.
A Arquidiocese disse em nota que após o conhecimento denúncias de abuso envolvendo membros do clero, determinou a suspensão cautelar do exercício público do ministério do sacerdote mencionado, conforme as normas da igreja e adotou providências internas para apuração rigorosa dos fatos. A suspensão cautelar é um afastamento temporário e preventivo, para garantir o curso das investigações, além de impedir outros delitos. Ela pode ser revisada e alterada com o andamento do processo.
A nota relata ainda que a igreja “colabora de forma integral e irrestritamente com as autoridades policiais, ministeriais e judiciais, entregando todas as informações necessárias e sem criar qualquer obstáculo às investigações. Sabemos que toda a comunidade sofre com essa situação; também nós nos reconhecemos feridos por fatos que contradizem o Evangelho”.
Além disso, eles abriram um canal oferecendo acolhimento espiritual e psicológico, por meio do telefone (45) 3225-2324 e email [email protected]. A nota reiterou que a Igreja não compactua com qualquer forma de abuso e recordou que uma citação do Papa Francisco de que não se pode impor qualquer vínculo de silêncio sobre quem denuncia abusos ou sobre quem foi vítima. “O silêncio forçado não faz parte do Evangelho”.
Nas missas
A nota oficial da Arquidiocese assinada por Dom José Mário foi lida nas missas em todas as paróquias pelos padres e pelo próprio arcebispo. O assunto foi ainda comentado pelos religiosos.
Outra manifestação foi da família de Dom Mauro, que se pronunciou por meio de nota à imprensa, alegando que quer preservar a memória do arcebispo, reforçando que a trajetória dele foi marcada por gestos de fé, solidariedade e compromisso com a comunidade.
A família pede à sociedade e à imprensa que tratem o tema com a sensibilidade que exige, evitando julgamentos precipitados e preservando a dignidade de quem sofre e de quem já partiu, até que os fatos sejam integralmente esclarecidos.
Secretaria de Segurança
Na semana passada o secretário estadual de Segurança Pública, Hudson Teixeira, esteve em Cascavel para falar sobre os fatos ao lado da delegada do Nucria, Thaís Regina Zanatta.
Hudson disse que uma das vítimas, que atualmente é padre, relatou que a Igreja católica tinha conhecimento das denúncias e que, diante disso, a Polícia vai investigar o porquê da demora para o caso vir à tona e que por isso, todos envolvidos serão ouvidos, desde as gestões passadas até a atual.
“Temos que saber o porquê esse fato só veio ao conhecimento da polícia agora, sendo que já era de conhecimento há anos”, indagou o secretário.
Uma das vítimas do falecido é uma menina de apenas três anos, ocorrida no ano de 2008 quando ela frequentava um Cmei (Centro Municipal de Educação Infantil) no Bairro Guarujá, que era administrado por irmãs da igreja. Um inquérito sobre este caso está sendo aberto. Durante esta semana, devem prestar depoimentos mais sete pessoas, duas delas vítimas de Genivaldo, que ainda não foram ouvidas, além de cinco testemunhas. As investigações seguem sob sigilo.
A reportagem do O Paraná trouxe em primeira mão na semana passada a conversa com a irmã da menina, que hoje tem 20 anos, que relatou que soube pela própria polícia que o inquérito foi reaberto, o que gera à família uma sensação de alívio, já que na época, o inquérito foi encerrado sem nenhuma justificativa plausível. Para ela, a reabertura do caso trará respostas até então desconhecidas.
E o nome do cemitério?
Na esfera política os vereadores já cogitam propor a troca do nome do Cemitério Central de Cascavel, que hoje leva o nome do falecido arcebispo Dom Mauro. Além disso, a polícia apura ainda um acidente de trânsito envolvendo o carro do padre e ainda de um jovem que tentou suicídio e que está em tratamento, devido aos abusos. O padre também mantinha uma clínica terapêutica no Edifício Formato, no centro da cidade – a Clínica Ethos – onde ele atuava como terapeuta, clínica esta em que a polícia cumpriu mandado de busca.