Cascavel – No dia em que sete presos conseguiram fugir da PEC (Penitenciária Estadual de Cascavel), O Paraná recebeu documentos que apontam para suposta conivência da direção da unidade com a criminalidade. Um bilhete interceptado pelos agentes penitenciários mostra que líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) pediram a transferência de agentes da unidade. No bilhete está escrito:
Fiz o coro com o senhor Fabinho pra tirar aquela vagabunda lá da frente. Enquanto ela tiver lá não entra nada.
Segundo um agente que preferiu não ter o nome divulgado, Fabinho é o atual vice-diretor da unidade, Fábio Alberto, que foi transferido da carceragem da 15ª SDP em dezembro do ano passado, quando Ari Batista assumiu a direção da PEC.
A fuga já era algo planejado e sabido pela direção. Os agentes que foram transferidos sabiam disso, não compactuavam com as coisas ilícitas que acontecem lá dentro, e por isso a facção pediu a cabeça de cada um.
Segundo o servidor, a alegação da direção da unidade é de que estaria sobrando agentes.
Isso é um absurdo. Só eu, quando estava trabalhando lá dentro, fazia o trabalho de três pessoas. A fuga não foi algo repentino, ela foi arquitetada e anunciada.
Na segunda-feira, os agentes penitenciários transferidos da unidade foram até Curitiba para ter uma reunião com o secretário de Segurança Pública e Administração Penitenciária, Wagner Mesquita.
Ele não atendeu a todos, apenas aos que fazem parte do sindicato, e disse que vai levar as reclamações ao Cartaxo, disse o agente referindo-se ao diretor do Depen, Luiz Alberto Cartaxo.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Depen, que afirmou desconhecer qualquer carta ou bilhete denunciando suposta conivência. Em relação à ligação da fuga com a transferência dos agentes, a assessoria descartou essa possibilidade, visto que isso já aconteceu há mais de uma semana.
Bodyscan
Além da suposta facilitação à criminalidade, os agentes questionam a eficiência do bodyscan, equipamento adquirido pelo Governo do Estado e instalado na Penitenciária em setembro do ano passado. De acordo com o denunciante, o aparelho não funciona.
Todo fim de semana temos problemas com ele. Eu mesmo, pra testar, já passei com uma serra. Temos o caso de agente que passou com um absorvente feminino que escondia um chip de celular.
O Paraná indagou o Depen sobre o equipamento e foi informado que o aparelho funciona perfeitamente nas cinco unidades onde foi instalado. Segundo o órgão, graças a esse equipamento, no ano passado mais de sete mil celulares foram interceptados.
Sobre uma suposta facilitação de entrada de objetos ilícitos, dentre eles a serra usada pelos presos para destruir as grades da cela, o Depen disse que isso será investigado por meio de procedimento administrativo.
Sindicato acredita na ligação com transferência
De acordo com Jairo Ferreira Filho, representante do Sindarspen (Sindicato dos Agentes Penitenciários) em Cascavel, a fuga pode ter sim, ligação com a transferência de sete servidores para outras unidades prisionais.
É no mínimo estranho que os agentes que prestavam um bom trabalho, que incomodavam o crime organizado, tenham sido transferidos e, menos de uma semana depois, tenha acontecido uma fuga, afirmou.
Questionado em relação à transferência sem que outros agentes fossem realocados na unidade, Jairo disse que a queda no efetivo está diretamente relacionada à qualidade do serviço.
Pelo que nos foi repassado a atual gestão é perniciosa com os detentos, dando algumas regalias que até então não existiam. Essa facilitação e o fato de abrir mão de servidores em um local onde já havia falta de agentes demonstra uma incompetência administrativa, sentenciou.
Sobre a hipótese de agentes terem facilitado a entrada da serra na unidade, Jairo disse que não acredita nessa hipótese, uma vez que é possível que os objetos tenham sido arremessados sobre o muro.
João da Marajó seria um dos foragidos
Um dos foragidos da PEC (Penitenciária Estadual de Cascavel) seria o traficante e contrabandista de armas João Santos da Silva, conhecido como João das Armas ou ainda João da Marajó. A lista, no entanto, não foi divulgada e incluiria, também, João Carlos Dias Toledo, Ézio Rodrigues de Moraes, Rafael Gomes dos Santos Moreira, Valdecir Ribas do Carmo e Sebastião Ari dos Santos.
João, que já foi preso diversas vezes e possui antecedentes por homicídios, tentativas de homicídio e outros delitos, seria ligado ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e um dos líderes dessa facção dentro da penitenciária. Dentre os comparsas de João da Marajó estão Julio Cesar Gobetti, o “Pauladinha”, e Anderson Claiton da Silva, o “De Menor”, que na época da rebelião da PEC, em agosto de 2014, foram apontados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público como líderes do motim.
Em agosto do ano passado a reportagem de O Paraná noticiou com exclusividade a forte atuação dos presos ligados à facção dentro da penitenciária. Áudios recebidos pelo jornal mostram os presos pedindo união, falando do PCC e dizendo ter o controle da unidade prisional.