Cotidiano

EXCLUSIVO: Operação Barranca destrói rotas de acesso de contrabandistas

Santo Antônio do Sudoeste – Ação conjunta da Polícia Federal de Foz do Iguaçu, da Receita Federal, do BPFron (Batalhão de Fronteira) de Santo Antônio do Sudoeste e da prefeitura resultou ontem na destruição de 12 pontilhões usados por contrabandistas para a travessia de mercadorias contrabandeadas procedentes do Paraguai e da Argentina. A reportagem teve o acompanhamento dos jornalistas Vandré Dubiela e Ailton Santos, de O Paraná. A cidade de Santo Antônio do Sudoeste fica a 160 quilômetros de Cascavel.

Equipes de segurança desembarcaram na aduana que divide Santo Antônio do Sudoeste (Brasil) com San Antonio (Argentina) por volta das 8 horas e logo deram início ao deslocamento até os pontos utilizados para a travessia de mercadorias ilícitas como armas, munições e lança-perfume para abastecer diversas regiões do Brasil, principalmente a Sudoeste, onde estão os estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Uma retroescavadeira cedida pela Prefeitura de Santo Antônio do Sudoeste garantiu a destruição dos pontilhões e a remoção do material retirado, que foi acondicionado em um caminhão basculante. Enquanto a operação era realizada pela Polícia Federal, vários populares foram flagrados desviando da aduana e optando pelas rotas alternativas abertas pelos contrabandistas.

Esse trabalho de destruição da logística estrutural dos atravessadores é uma prática realizada a cada ano pela Polícia Federal de Foz do Iguaçu. A proximidade das cidades gêmeas Santo Antônio do Sudoeste com San Antonio serve há anos como rota alternativa para entrada de armas, munições e drogas.

De acordo com o agente da Polícia Federal de Foz do Iguaçu, Gildeto Meira, as pinguelas são erguidas principalmente para transpor o rio Santo Antonio nos dias em que o nível do rio sobe por conta das chuvas, dificultando a travessia a pé. “Quando não conseguem construir as pontes, os contrabandistas improvisam colocando grandes troncos para facilitar o acesso ao Brasil”, disse Gildeto.

Novas operações deverão ser deflagradas nos próximos dias com a finalidade de comprometer o sistema logístico dos grupos criminosos que atuam na região fronteiriça. “A operação também serve para coibir o roubo de máquinas agrícolas e motocicletas subtraídas no Paraná e Santa Catarina em direção à província de Missiones, na Argentina”.

Agrotóxicos

Outro objetivo é conter o contrabando de agrotóxicos vindos dos países vizinhos em direção ao Brasil. “Percebemos que, em função do aumento no rigor da fiscalização nas aduanas de Foz do Iguaçu e Guaíra, as quadrilhas internacionais mudaram as rotas e passaram a atravessar um volume maior de mercadorias ilícitas nesta região, que fica a apenas 60 quilômetros do Paraguai”.

O inspetor-chefe da Delegacia da Receita Federal de Santo Antônio do Sudoeste, Luiz Antonio Zottis, calcula que ao mês, os produtos ilícitos apreendidos somar R$ 200 mil em apreensões. A audácia é tanta que em alguns locais, os contrabandistas construíram tirolesas para transportar as mercadorias de uma margem para outra.

O patrulhamento na fronteira é feito de Barracão até Capanema. “Toda essa zona fronteiriça tem sido exaustivamente vigiada e as abordagens nessas passagens clandestinas são constantes”. Até então, a divisa entre Brasil e Argentina, no Sudoeste do Paraná, eram áreas desprotegidas. “As ações conjuntas, como essa, têm elevado o número de apreensões nos últimos meses”. Ele cita um ponto curioso da logística colocada em prática pelas quadrilhas. “Muitos recorrem a menores para burlar as leis brasileiras em casos de flagrante”.

Conforme o segundo-tenente Ricardo Pazin, do Batalhão de Fronteira, o trabalho não consiste apenas neste tipo de operações. “Estamos atentos e vigiando também os principais corredores rodoviários e estradas rurais utilizados para o contrabando e tráfico de drogas”, comentou.

Os 38 policiais lotados na unidade do BPFron de Santo Antônio do Sudoeste são responsáveis pela cobertura em uma área de abrangência envolvendo 56 municípios daquela região.

A equipe de reportagem tentou conversar com moradores de Entre Rios, bairro de Santo Antônio do Sudoeste localizado próximo aos pontos de travessia dos contrabandistas, mas, por medo, muitos preferiram não se manifestar sobre o assunto.