
Cascavel e Paraná - Mais uma vez, o Território Verde volta à cena, prometendo remodelar o Lago Municipal de Cascavel. O anúncio está marcado para esta sexta-feira (8), às 18h, no auditório da Prefeitura. Para quem acompanha a “saga”, já parece a reprise de uma novela antiga: muito bem produzida, mas que nunca chega ao capítulo final.
Chamado de “novo projeto” pelo Poder Público, o Território Verde está em gestação desde 2019, quando o Município desembolsou R$ 423 mil para contratar o escritório do renomado arquiteto Jaime Lerner. A ideia era criar um entorno moderno, sem perder o charme de “contato com a natureza”. Passados cinco anos, o que se apresenta agora tem muito de “velho” e pouco de novidade. Mas, como todo bom roteiro político, a “roupagem nova” é sempre bem feita e bem-vinda.
Em novembro, o Lago completa 41 anos. Ou seja, já está na idade em que deveria ser referência de maturidade. O problema é que o projeto que promete rejuvenescê-lo ainda não amadureceu. E, se não fosse por exigência do IAT (Instituto Água e Terra), talvez nem esta apresentação acontecesse.
A promessa verde
No papel, o Território Verde soa como música agradável e necessária: calçadas largas e permeáveis, ciclovias, vias compartilhadas, sombras generosas e até “mobiliário urbano específico”. A intenção é harmonizar lazer e meio ambiente, como se fosse possível conciliar sustentabilidade e burocracia sem esbarrar na morosidade administrativa.
A proposta oficial fala em transformar o Lago em espaço não só de lazer, mas também de educação ambiental, com base no Plano de Manejo que registra fauna, flora e recursos hídricos junto ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação. É bonito, é técnico, é verde. Só falta ser realidade.
Primeira fase: O começo do sonho
Segundo o IPC (Instituto de Planejamento de Cascavel), a primeira fase prevê readequação da pista de caminhada, criando espaço exclusivo para pedestres e pista de bicicletas. A lista inclui iluminação nova, bancos, portais de acesso e um sistema de câmeras que promete monitorar cada passo de quem visitar o Lago. Nada mal: além de caminhar, o cidadão poderá se sentir em um “Reality Show Verde”.
Outras novidades: um deck de lazer, chafarizes repaginados, lixeiras com tampa (a fauna agradece) e mais de 1,3 mil mudas. Na Avenida Rocha Pombo, será construído um calçadão com paver exclusivo, inspirado na Travessa Jarlindo João Grando. O presidente do IPC, Vinicius Boza, garante: “um projeto totalmente novo”, com 170 luminárias e 70 câmeras. Se depender da iluminação, não haverá mais desculpa para tropeçar durante a caminhada, só vai depender se a fiação elétrica (de cobre) vai estar protegida dos ladrões.
E para não perder o hábito, os itens mais sofisticados, como espaços gastronômicos, ficam para depois. Afinal, em Cascavel, projetos públicos amadurecem em fases — e sempre há uma próxima temporada para segurar a audiência.
Licitação: Capítulos de “suspense”
Se a obra promete emoção, a licitação não ficou atrás. A primeira empresa vencedora desistiu. A segunda também. Agora, a terceira colocada — PGC Engenharia, de Curitiba — foi chamada para assumir a missão por R$ 14,49 milhões, valor acima do inicialmente previsto. Para quem gosta de enredo, é quase uma série de suspense: desistências, desclassificações e republicações.
Enquanto isso, o tempo passa e a população continua esperando. Segundo Boza, a ordem é “agilizar e iniciar o quanto antes”. Mas como todo cascavelense sabe, em obras públicas “o quanto antes” é uma expressão bastante elástica – só lembrar o famoso “asfalto do Lago Azul”, não é?
O grande espelho d’água
Cartão-postal da cidade, o Lago Municipal integra o Parque Ambiental Paulo Gorski, com 111,26 hectares — 55 de mata nativa, 38 de lâmina d’água e 17 do Zoológico. Desde sua inauguração em 1984 pelo prefeito Fidelcino Tolentino, o Lago se consolidou como o ponto de encontro preferido da cidade.
É palco para caminhadas e corridas com seus 4,2 km de pistas, piquenique e o convívio familiar. Armazena 4 bilhões de litros de água, garantindo abastecimento em períodos de estiagem, como em 2020, quando salvou as torneiras dos cascavelenses. E ainda oferece aquele pôr do sol digno de cartão-postal. Se o projeto demorar mais alguns anos, talvez o Lago se consagre como patrimônio histórico antes mesmo da revitalização.
A polêmica das árvores
Mas nem só de flores (e novas mudas) vive o Território Verde. Um detalhe espinhoso ainda divide opiniões: o destino das 457 árvores localizadas abaixo do Lago. A retirada delas é uma determinação da Justiça, mas que precisa ter o aval do IAT que condicionou a licença após a finalização do Plano de Ação Emergencial que faz parte ainda do Plano de Segurança de Barragem do Lago.
Segundo os técnicos, as árvores não ajudam na contenção e atrapalham a fiscalização do talude. Mais da metade delas é de pinus, espécie invasora. A solução proposta? Cortar as árvores e plantar um grande gramado. Porque, ao que parece, não há nada mais sustentável do que transformar mata em tapete verde de grama.
As fiscalizações ganharam maior protagonismo em todo o país, após o rompimento da barragem de Brumadinho, uma tragédia em que devastou a região e deixou 272 mortes.
Investimento e expectativas
O Território Verde prevê três fases e investimento total superior a R$ 45 milhões. A segunda e a terceira etapas incluem o entorno da bacia do Rio Cascavel e a revitalização da barragem na Avenida Rocha Pombo. Tudo muito bonito, mas ainda em fase de “debates com a comunidade” e autorizações.
No fim, a pergunta que não quer calar é: o Território Verde vai finalmente sair do papel ou continuará sendo aquele velho projeto que, de tão verde, parece nunca amadurecer? Por enquanto, o público se prepara para mais uma audiência, mais uma apresentação e novas promessas.
A novela segue, com direito a aplausos, discursos e maquetes bem desenhadas. Mas os cascavelenses, calejados, sabem que o verdadeiro teste não será nas audiências ou nas plantas do projeto. Será nas pistas de caminhada, no gramado (se ele realmente vier), na água que abastece a cidade e, sobretudo, na paciência de quem aguarda há anos para ver o Lago renovado.