Cotidiano

Transporte público: Cascavel perdeu 50% dos usuários em 2021; no Brasil foram 10,8 milhões

Mesmo antes da pandemia a queda no número de usuários vem ameaçando o setor, situação que piorou, e muito, a partir do início de 2020

Transporte público: Cascavel perdeu 50% dos usuários em 2021; no Brasil foram 10,8 milhões

Cascavel – O transporte público de Cascavel está desde o começo da pandemia da Covid-19 “nadando contra a maré” para se manter. Mesmo antes da pandemia a queda no número de usuários vem ameaçando o setor, situação que piorou, e muito, a partir do início de 2020. O fato é que o serviço precisa ter um custo acessível para a população para ser atrativo e, ao mesmo tempo, manter uma qualidade para que seja utilizado.

A reportagem do Jornal O Paraná conversou com a diretora do Departamento de Transporte da Transitar, Larissa Boeing, sobre o momento atual do serviço em Cascavel. E a diretora confirma: o transporte público com certeza foi um dos setores mais impactados com a pandemia. Larissa Boeing destaca, porém, que o sistema registra perda de usuários há pelo menos 15 anos. O uso de patinetes elétricos e de outros veículos desse tipo são cada vez mais comuns e parte deles, de pessoas que antes utilizavam o sistema público.

O fato é que para manter os ônibus circulando, durante o dia e boa parte da noite, alguém precisa pagar a conta e a tarifa não está sendo suficiente para que o sistema fique no “azul”. “Temos uma drástica queda de passageiros pagantes e um movimento natural de passe livre, por isso, é que o Município teve que passar a bancar parte dessa fatia para conseguir manter o sistema”, disse Boeing.

Queda de 50%

Desde o início da pandemia, o Poder Público está subsidiando parte da tarifa para que o sistema consiga se manter. Para se ter uma ideia, se compararmos 2021 a 2019 a queda de usuários é de cerca de 50%. Neste ano, uma parte foi recuperada, mas ainda não chega aos índices de antes da pandemia, quando a média diária era de 75 mil utilizações e, hoje, é de cerca de 55 mil. “Recuperamos um pouco, mas ainda é pouco”, disse Larissa.

A tarifa do transporte para os usuários desde o começo de junho é de R$ 4,50, mas o custo total é de R$ 7,10, diferença atualmente paga pelo Poder Público. A frota atual do sistema é de 151 ônibus com 61 linhas que passam pela a maior parte da cidade. O contrato com as duas empresas que exploram o serviço na cidade já encerrou, porém, foram prorrogados até que a nova licitação seja realizada, o que deve acontecer ainda antes do final deste ano.

Segundo Larissa Boeing, a nova licitação deve ser publicada até o fim deste mês e uma das contrapartidas do Município será a aquisição de 15 ônibus elétricos, que serão mantidos pela empresa vencedora da licitação. Serão um total de 2 ônibus articulados e 13 em tamanho padrão. A nova licitação vai escolher a empresa que vai operar o serviço nos próximos 15 anos.

Foto: Paulo Alexandre

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Paranhos defende políticas públicas para o transporte

O prefeito de Cascavel, Leonaldo Paranhos, que também ocupa o cargo de vice-presidente de Agronegócio da Frente Nacional de Prefeitos, participou de segunda-feira (8) até ontem (10), em São Paulo, do seminário da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, a NTU, que acontece paralelamente à Feira Latinoamericana do Transporte (Lat.Bus Transpúblico).

Paranhos tem defendido em reuniões realizadas pelo Brasil que o sistema de transporte seja subsidiado. “Temos o desafio de oferecer qualidade no transporte e, claro, sempre com a preocupação de não elevar o preço das tarifas. Se nós queremos pessoas para continuar no sistema de transporte, é preciso ver o transporte como uma política pública, assim como é a saúde, a educação, a segurança pública. As pessoas usam o sistema de transporte porque precisam e, evidentemente, temos que oferecer um transporte de qualidade, com rapidez, segurança e economia”, destacou.

Para o prefeito, os governos municipais, dos estados e o federal precisam criar uma política pública para garantir às pessoas transporte de qualidade, um tema urgente e prioritário. “Vamos fazer a nova licitação dos ônibus já num sistema cooperado, no qual a Prefeitura vai bancar parte da tarifa do usuário, para garantir que o preço seja acessível”, enfatizou.

“Socorro”

A pandemia evidenciou a necessidade de políticas públicas para o setor. Com o impacto das restrições impostas pelo coronavírus, pela primeira vez os subsídios foram aplicados em escala significativa no transporte coletivo brasileiro. Números da NTU apontam que, ao menos 108 cidade do Brasil aportaram recursos emergenciais em diferentes formatos aos seus respectivos sistemas de transporte público, medida que evitou o colapso no setor.

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NTU alerta sobre “encolhimento estrutural”

De acordo com os dados que fazem parte do Anuário da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU 2021\2022, apontam que apesar da recuperação de 37,8% da demanda de passageiros pagantes transportados pelos ônibus urbanos em 2021 ante o ano anterior, quando comparado com o cenário de 2019, anterior à pandemia, a queda registrada ainda é expressiva, da ordem de 32,6%.

Isso equivale a uma redução de 10,8 milhões de viagens realizadas por passageiros pagantes por dia, em todo o país. Segundo a NTU, a análise da demanda se baseia na comparação para os meses de abril e outubro de cada ano. O mês de abril de 2021 registrou recuperação de 119,5% em relação ao mesmo mês do ano anterior, período no qual foram atingidos os maiores índices de isolamento social, resultando em impacto na quantidade de passageiros transportados nas cidades brasileiras. Já no mês de outubro de 2021, houve uma pequena redução de 2,1%, na comparação com o mesmo período do ano anterior.

De acordo com um monitoramento feito pela NTU sobre os impactos da pandemia, de novembro de 2021 a abril de 2022 os níveis mensais de demanda registrados oscilaram entre 66,8% e 71,3%, em relação à situação do período da pré-pandemia. Segundo a entidade, os dados podem indicar um cenário de estabilização do nível de demanda, em patamar próximo a 70% dos níveis de 2019.

Contudo, não há indicação, até o momento, de que essa perda de passageiros será totalmente revertida, indicando a possibilidade de encolhimento estrutural do setor. Em 2019, antes da pandemia, eram realizadas 33,2 milhões de viagens por passageiros pagantes por dia no país, número que caiu para 22,4 milhões em 202, ou seja, 32,6%.

Comparativos

Quanto aos passageiros equivalentes transportados ou viagens realizadas por veículo, com exceção do ano 2020, tendo em vista que esse foi o ano com maior impacto, em 2021 o indicador mostrou que 251 passageiros foram transportados diariamente, em média, por veículo, tendo em conta a média dos meses avaliados. De 2020 para 2021, houve um acréscimo de 50,5%, embora em relação a 2019 a redução seja ainda alta, de 25,1%.

O anuário indica ainda que a oferta de transporte público por ônibus aumentou 8,5%, em 2021, na comparação com o ano anterior. Já em julho de 2020, pouco mais de quatro meses após o início da pandemia, a oferta do serviço atingiu mais de 70%, da situação observada anteriormente. Em abril de 2022, o nível da oferta subiu para 82,3% do verificado em 2019. “Isso ocorreu porque o setor atendeu às orientações das autoridades sanitárias, em relação à importância de garantir o distanciamento social no interior dos ônibus”, avaliou a NTU.