
Cascavel e Paraná - Antes mesmo de Cascavel ser oficialmente reconhecida como cidade, já existia por aqui um espaço dedicado ao ensino. Fundado em 1932, o Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira é mais antigo que o próprio município e, ao longo de mais de nove décadas, tem sido um dos principais pilares da educação local.

Seu início foi modesto, fruto da vontade da comunidade e do empenho de poucos professores que acreditavam no poder transformador do conhecimento. A primeira sala de aula funcionava nas imediações da Rua Pio XII, onde hoje pulsa o centro urbano da cidade.
Naquela época, a escola não contava com estrutura nem apoio político, mas com a coragem dos que sonhavam em ver Cascavel crescer. Entre os primeiros educadores estavam Aníbal Lopes e Sandálio dos Santos — nomes que mais tarde batizariam instituições municipais em reconhecimento à importância do trabalho que deu origem à primeira escola da região.
O Colégio Eleodoro Ébano Pereira nasceu antes de Cascavel, mas cresceu com ela. Das primeiras aulas dadas em uma capela simples às modernas salas equipadas com tecnologia e inclusão, a instituição representa o espírito de uma cidade que aprendeu a se reinventar sem perder suas origens.
No aniversário de 74 anos de Cascavel, o Eleodoro celebra não apenas seu passado, mas também o futuro — um futuro que continua sendo escrito todos os dias por professores, alunos e pela comunidade que nunca deixou de acreditar na força da educação.

Da Casa Escolar ao Colégio Eleodoro
Com o passar dos anos, a escola acompanhou a evolução da cidade. Em 1938, quando Cascavel se tornou distrito administrativo de Foz do Iguaçu, a instituição ganhou seu primeiro prédio próprio, então chamada de Casa Escolar Pública.
Em 1947, passou à condição de Grupo Escolar, mantido financeiramente pelo governo estadual. Entre 1959 e 1961, sob a direção da professora Irene Rickli, o grupo escolar foi transferido para o endereço atual, na Rua Carlos de Carvalho, 975, onde se consolidou como referência educacional.
O nome Eleodoro Ébano Pereira foi atribuído por decreto do governador Moysés Lupion, em homenagem a um dos primeiros pioneiros da 5ª Comarca da Província de São Paulo — território que viria a formar o atual Estado do Paraná.

Conquista da comunidade
A história do Eleodoro também é marcada por momentos de resistência e união. O diretor Cleverson Trukane, em entrevista ao Hoje Express, relembra um episódio emblemático ocorrido no fim da década de 1990, quando o colégio conquistou a cessão do prédio que antes abrigava o Fórum de Cascavel.
“Foi uma luta da comunidade”, contou. “Havia vários órgãos do Estado interessados no espaço, mas professores, pais e alunos se uniram, ocuparam o prédio por dois dias e, ao final, a Justiça liberou o uso para a escola.”
Hoje, esse edifício é fundamental para o funcionamento da instituição, abrigando setores administrativos, laboratórios e parte importante da estrutura pedagógica. “Sem esse prédio, o colégio não funcionaria da forma como funciona hoje”, reforça Trukane.

Referência em inclusão e inovação
Ao longo de sua trajetória, o Eleodoro se tornou símbolo de educação inclusiva no Paraná. Foi pioneiro na criação de um Centro de Atendimento a Alunos com Deficiência Visual (DV), ainda nos anos 1980, e mais tarde passou a atender também estudantes surdos, garantindo intérpretes de Libras em todas as aulas.
Em 2013, o colégio foi reconhecido nacionalmente pela excelência em inclusão, especialmente por meio do projeto Eleodoro Dance, criado em 2005 pela professora Sônia Flach. O espetáculo, que une dança e educação, ganhou espaço permanente no calendário cultural de Cascavel e até uma lei municipal que o oficializa como evento anual.
O presente e os novos desafios
Atualmente, o Colégio Eleodoro atende 1.200 alunos, distribuídos em 39 turmas, do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º do Ensino Médio, além de dois cursos técnicos: Administração e Desenvolvimento de Sistemas.
Segundo o diretor, a escola mantém fila praticamente zerada e continua sendo uma das mais procuradas da região central. “É um colégio bom de administrar, com boa estrutura e mais de 100 profissionais envolvidos diretamente”, afirma Trukane.
Entre as prioridades da gestão estão a instalação de ar-condicionado nas salas de aula e a reforma da quadra esportiva. “Cascavel é uma cidade muito quente, e isso afeta o aprendizado. A modernização da parte elétrica e a climatização das salas devem acontecer a partir de 2026”, explicou o diretor.
O Eleodoro também tem se destacado na formação técnica e empreendedora dos alunos. Projetos como a Feira de Empreendedorismo, realizada com as turmas do curso de Administração, incentivam os estudantes a desenvolver habilidades de gestão, precificação e planejamento. “Queremos que eles saiam daqui preparados para o mercado de trabalho, mas também com uma visão de futuro e de cidadania”, complementa Trukane.
Gestão moderna e foco no aluno
Com a implementação do Programa Parceiro da Escola, a rotina da equipe diretiva mudou. Agora, a escola conta com o apoio de uma empresa parceira para cuidar das questões administrativas e financeiras, o que permite ao corpo gestor dedicar mais tempo ao acompanhamento pedagógico.
“Isso melhorou muito a agilidade dos processos. Um simples conserto de fechadura, por exemplo, é resolvido rapidamente, e podemos focar mais nas atividades pedagógicas e no atendimento aos alunos”, observou o diretor.
Entre as iniciativas recentes está também uma campanha mensal de incentivo à frequência escolar, que premia alunos assíduos e comprometidos.
Outro avanço importante foi o fim das antigas aulas vagas, causadas pelo absenteísmo do corpo docente. Até o mês de setembro, foram 2.790 aulas substituídas, garantindo que nenhum estudante ficasse sem conteúdo.
Memória viva da educação cascavelense
O acervo histórico do Eleodoro é motivo de orgulho. Fotografias, documentos e registros das primeiras salas de aula podem ser encontrados no Museu da Imagem e do Som de Cascavel e no arquivo histórico do próprio colégio, revelando a trajetória de uma escola que cresceu junto com a cidade.
Ao longo de 93 anos de história, milhares de cascavelenses passaram pelos corredores da instituição — entre eles, profissionais de destaque nas mais diversas áreas. “A escola deixou uma marca indelével na comunidade”, resume Trukane. “Muitos pais e avós estudaram aqui e hoje veem seus filhos continuando essa história.”