Esportes

Rosane Budag, a primeira esperança brasileira de medalha na Rio-2016

Às 8h30m da manhã do sábado, dia 6, primeiro dia da Olimpíada, a maioria dos atletas ainda estará descansando após ter participado da Cerimônia de Abertura na noite anterior. O público carioca talvez ainda esteja se dando conta que os Jogos estão começando, se preparando para o primeiro fim de semana do Rio como, de fato, cidade olímpica. A catarinense Rosane Budag, porém, já estará entrando em ação para valer. A bola já até terá rolado alguns dias antes nos primeiros jogos do futebol, mas a primeira medalha da Rio-2016 sairá da prova de carabina de ar de 10 metros, no tiro esportivo, com final marcada para as 10h30m, em Deodoro.

? O foco estará todo nessa prova. Acho que a pressão será grande e que devo ficar nervosa. É impossível o atleta dizer que está tranquilo. Vai ser minha primeira Olimpíada, né? ? disse Rosane, por telefone, de Curitiba, onde mora.

Aos 42 anos, Rosane começou no tiro por acaso. A gravidez do segundo filho foi complicada. Edward, hoje com 14 anos, nasceu prematuro de seis meses e, para aliviar o estresse, a catarinense de Blumenau começou a atirar.

? Por nascer prematuro, o Edward precisou ficar 72 dias na UTI, e eu fiquei no hospital acompanhando ele. Foi bem complicado. Naquela época, meu marido atirava e eu resolvi ?dar uns tirinhos? para desestressar. Comprei material e comecei a praticar.

O que parecia apenas um hobby logo acabou virando coisa séria.

? Sou muito competitiva, e o tiro é um desafio pessoal. Você não precisa de outra pessoa para praticar, então todo dia eu ia no estande tentar bater minha marca. E conseguia. Em seis meses quebrei o recorde brasileiro.

Rosane se apaixonou pelo esporte e largou o emprego de gerente financeira em uma multinacional (“meu pai ficou bem revoltado com isso”, recorda) para se dedicar ao tiro. Na Rio-2016, além da carabina de ar de 10 metros ela vai competir, cinco dias depois, na carabina de três posições, sua prova preferida, em que a atleta dá 20 tiros deitada, na posição de sniper, 20 tiros ajoelhada e 20 de pé, todos a 50 metros do alvo.

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? Me sinto mais confortável nessa prova, que é ao ar livre. A munição é de cartucho, tem cheiro de pólvora, enquanto a outra, na carabina de 10 metros, é de ar comprimido. A prova é mais desafiadora e real.

O que pouca gente sabe é que, se não fosse uma intervenção paterna, Rosane poderia ter construído uma carreira bem longe dos estandes de tiro, no glamouroso mundo das passarelas. Na adolescência, a bela catarinense pensou em ser modelo, mas ‘seu’ Nelson Budag não gostou muito da história.

?Tive convites, fiz curso de modelo e até fiz alguns desfiles, mas meu pai não permitiu e logo ‘cortou minhas asinhas’. Olha que tenho três primas que foram miss, incluindo uma Miss Brasil. É uma família de mulheres bonitas!

Quando digo que sou do tiro, as pessoas recuam e brincam falando “ai, que medo”. É um saco isso

Namorada há dois anos e meio do paulista Felipe Wu, Rosane só tem elogios para o principal nome do tiro esportivo brasileiro. Felipe é o atual líder do ranking mundial na pistola de ar de 10 metros e venceu etapas da Copa do Mundo na Tailândia e Azerbaijão neste ano.

? A criatura é muito calma. Ele se concentra de uma maneira impressionante, o gene chinês dele é muito forte!

Do relacionamento pessoal, a primeira brasileira a brigar por medalha na Rio-2016 tira também lições profissionais.

? Treinamos juntos nos fins de semana. Ou ele vem para Curitiba ou eu vou para São Paulo. Temos a rotina normal de um casal que trabalha na mesma coisa. Ele me orienta em algumas coisas.

‘BULLYING COM O ESPORTE’

Calma e concentração, assim como foco e equilíbrio, são palavras onipresentes no tiro esportivo. Mas se tem uma coisa que tira a tranquilidade de Rosane é o preconceito que existe com o esporte que deu as primeiras medalhas olímpicas ao Brasil. Na Antuérpia, em 1920, o tiro brasileiro foi ouro com Guilherme Paraense, prata com Afrânio da Costa e bronze com a equipe formada por Guilherme, Afrânio, Dario Barbosa, Fernando Soledade e Sebastião Wolf.

? Eu sou alta (1,74m), grandona, e quando estou com uniforme de atleta todo mundo acha que jogo vôlei. Quando digo que sou do tiro, as pessoas recuam e brincam falando “ai, que medo”. É um saco isso. Também é muito difícil arranjar patrocinador. Ninguém quer associar sua imagem a um esporte com arma. Só conquistando mais medalhas para mudar essa situação.

Nada melhor do que um bom desempenho na Rio-2016 para iniciar essa mudança. Mesmo sabendo que não está entre as principais candidatas, Rosane acredita que pode surpreender e ser a primeira brasileira a ganhar uma medalha no tiro.

? Todas são favoritas. Quem chegou a uma Olimpíada tem nível alto. Chance, todos têm.