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Laboratório antidoping da Rio-2016 tenta ficar longe do 'padrão Rússia'

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Eles são numerosos e discretos. Dos mais de seis mil que serão colhidos na Olimpíada do Rio, em cabines individuais nas arenas de competição, somente 1% costuma aparecer para o público – a frequência daqueles que vêm com resultado positivo. Esse é o protocolo usual dos exames realizados com atletas em grandes competições esportivas. No caso destes Jogos Olímpicos, porém, o controle antidoping chega cercado de holofotes. Parte disso se deve ao escândalo de manipulação observado nos últimos Jogos, os do inverno, em Sochi-2014. Mas também entram em jogo as dúvidas que cercam o único laboratório do Brasil, e um dos 34 em todo o mundo, autorizado a conduzir esse tipo de exame.

Rússia Doping – 30 de julho

O diretor do Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD), professor Francisco Radler, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), rechaça qualquer comparação com o escândalo vivido pelo Laboratório de Moscou. Este foi descredenciado pela Agência Mundial Antidoping (Wada) após evidências de destruição de amostras positivas colhidas de atletas russos durante os Jogos de Sochi, na Rússia.

Já o LBCD teve seu credenciamento suspenso em junho, mas voltou à normalidade a tempo de realizar o controle de dopagem nos Jogos do Rio. Suspeita-se, embora ninguém confirme oficialmente, que a suspensão tenha ocorrido por conta de um falso positivo – isto é, dizer que está dopado alguém que na verdade não está.

O motivo seria o mesmo que levou à retirada o credenciamento do laboratório, em 2013, antes da Copa do Mundo no Brasil. A autorização da Wada só foi recuperada em 2015. Além disso, um antigo membro da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem, o português Luiz Horta, acusou o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e o Ministério do Esporte de frearem a realização de exames surpresas com atletas brasileiros. A versão, de contornos russos, foi negada pelos dois órgãos.

– O laboratório está perfeitamente capacitado para detecção de dopagem – garante Radler – Seria importante para nós que todos refreassem essa atitude de dopagem para que possamos ter os Jogos mais limpos da história. Para nós, um resultado adverso é uma situação extremamente desagradável e constragendora. Nosso trabalho técnico, quando feito adequadamente, pode gerar uma suspensão e acabar com uma carreira.

Recentemente, amostras analisadas no LBCD acusaram doping em duas esperanças de medalha do Brasil na Olimpíada: a nadadora Etiene Medeiros e a velocista Ana Claudia Lemos. A primeira acabou absolvida pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e a segunda recebeu suspensão de cinco meses, já cumprida.

Doping 3.8

Radler acredita que, além do trabalho do laboratório, outro fator que pode inibir doping durante os Jogos é a evolução “exponencial”, em suas palavras, da tecnologia. Só em reanálises de amostras colhidas em Londres-2012 e Pequim-2008, por exemplo, o Comitê Olímpico Internacional (COI) identificou mais de cem casos de doping que haviam passado despercebidos à época.

RESULTADOS EM ATÉ TRÊS DIAS

O laboratório antidoping da UFRJ foi criado em 1989, então com o nome de Lab Dop, para atender à demanda da Copa América de futebol daquele ano, realizada no Brasil. Chamado muitas vezes de Ladetec, que na verdade é nome de todo o complexo de laboratórios do Instituto de Química da UFRJ, o Lab Dop teve credenciamento da Wada entre 2003 e 2013, e depois novamente a partir de 2015, após ser rebatizado de LBCD, ter um prédio novo construído e ver a chegada de novos equipamentos, ao custo total de R$ 151,3 milhões.

A suspensão do credenciamento do LBCD, em junho, lançou dúvidas sobre a realização de exames antidoping na Olimpíada do Rio. Como trata-se do único laboratório autorizado pela Wada no país, a solução seria enviar as amostras para algum país estrangeiro, como foi feito na Copa do Mundo, o que aumentaria custos e o tempo de divulgação dos resultados.

A expectativa do diretor do LBCD é que alguns resultados fiquem prontos em apenas 24h; outros, de acordo com a quantidade de métodos distintos pedidos pelo COI, podem levar até dois ou três dias. A ideia é não só corrigir eventuais injustiças após as competições, mas também tentar impedir que um atleta dopado flagrado em uma eliminatória, por exemplo, possa chegar à final de sua competição dias depois.

– Não há laboratório de controle de dopagem no mundo que esteja preparado para os Jogos Olímpicos. O volume de trabalho é pelo menos dez vezes maior do que o esforço. Por isso tivemos a chegada de especialistas internacionais, além de contratações de profissionais que já somam 500 dias de treinamento e poderão manter na universidade o conhecimento adquirido com a operação dos Jogos – explica Radler.