RIO ? Aos 21 anos a pesquisadora Denise Fitzgerald teve uma paralisia na perna que
progrediu de dormência a paralisia total em duas horas ? uma mielite transversa
aguda, inflamação das substâncias cinzenta e branca da medula espinal,
geralmente tratada com corticoides. O dano foi temporário, mas inspirou Denise a
pesquisar os sistemas de reparo do cérebro e, ontem, sua descoberta à frente do
laboratório de Neuroimunologia da Universidade Queen, em Belfast, no Reino
Unido, foi relatada como uma esperança na luta contra esclerose múltipla.
A principal diferença entre as duas condições é que a mielite transversa é um
evento único, enquanto a esclerose múltipla é um ataque de longo prazo à
mielina, um revestimento protetor que permite que os sinais elétricos se
desloquem pelos nervos. Sem mielina, o cérebro não controla o corpo. Na
esclerose múltipla, o sistema imunológico ataca a mielina, como se fosse um
agente invasor. No experimento publicado na na revista ?Nature Neuroscience? o
grupo de neurocientistas, imunologistas e pesquisadores de células-tronco do
qual Denise faz parte descobriram uma forma de regenerar a mielina.
HABILIDADE RARA
Numa série de experimentos com camundongos, um tipo de glóbulo branco
(chamado de célula T-reguladora) que é atraído pela mielina danificada no
cérebro, coordena a recuperação quimicamente, usando uma proteína com o nome
técnico de CCN3. Como as células-tronco têm a rara habilidade de se transformar
em outros tipos de células, a CCN3 diz para elas se tornarem células de produção
de mielina.
? De minha perspectiva, é um passo fundamental na biologia do reparo ? disse
a pesquisadora à BBC. ? Nosso objetivo é usar tudo isso para desenvolver novas
drogas que possam reparar a mielina e talvez fazer com que os pacientes
recuperem funções.
O próximo passo da pesquisa é fazer testes em tecidos
humanos no lugar de camundongos.