Jair Ventura tem sido um solucionador de problemas neste início de 2017 do Botafogo. Decisões desde cedo na Libertadores, cada hora com um desfalque e, ainda por cima, a missão de adaptar um time que ameaça mudar de característica com Camilo e Montillo juntos com Roger. Nesta terça-feira, quando a formação que iniciou o jogo parecia perder terreno, devolveu ao time alguns de seus traços mais conhecidos. Colocou Sassá no jogo, ampliou a velocidade da equipe e, dez minutos depois, viu o atacante iniciar a jogada do gol da vitória, de Rodrigo Pimpão, nos 2 a 1 sobre o Estudiantes.
Muitos times disputam a Libertadores, claro. Poucos parecem dar tanto valor a estar nela quanto este Botafogo. Time e torcida. Se em campo o Botafogo teve, em alguns momentos, mais vigor do que requinte técnico, na arquibancada os 30 mil alvinegros participaram ativamente o tempo todo. Antes do jogo, se não houve o tradicional mosaico, teve lugar o bonito efeito gerado por tirar brancas com a inscrição “Nílton Santos é Fogo”.
Não é novidade que os volantes são uma espécie de motor deste Botafogo. Característica comum no futebol de hoje, bastante demarcada no alvinegro, ficam com a bola durante boa parte do jogo, tentando iniciar jogadas, em especial diante de defesas fechadas. Acabam se tornando um termômetro do time. Ontem, Aírton e Bruno Silva demoraram a conseguir jogar.
Um pouco por equívocos individuais, muito por dificuldades coletivas. Diante de um Estudiantes com pouca iniciativa, sem tantos recursos técnicos, o Botafogo teve a bola no início. Desenhou-se um tipo de jogo que tira da zona de conforto a equipe de Jair Ventura. O treinador, um pouco prever o desafio que o time teria, e muito por levar a campo seus nomes mais talentosos, tinha dois meias em campo: Camilo e Montillo. Mas estes, assim como Rodrigo Pimpão, raramente se conectavam a Aírton e Bruno Silva. A posse de bola do Botafogo era pouco criativa.
Os volantes tinham a bola com muitos metros diante de si sem opções de passe. O Botafogo era superior, precisava construir caminhos até o gol. Bastou uma jogada trabalhada para conduzir o alvinegro à área rival em passes seguidos. Pimpão saiu na ponta esquerda para o centro e recebeu de Bruno Silva. A bola passou por Montillo, chegou ao lado direito, de onde surgiu o cruzamento e o belo gol de Roger.
Passado o gol, o jogo de contra-ataque, especialidade alvinegra, poderia se desenhar. Mas foi apenas num chute longo de Camilo que o goleiro Andújar foi incomodado, espalmando a escanteio.
?Feliz pelo gol, precisamos melhorar um pouquinho, caprichar, para marcar ? disse Roger, no intervalo.
O segundo tempo apresentaria ao Botafogo a outra face do problema. Embora moldado desde a temporada passada como um time que gosta de atacar os espaços deixados por rivais, a formação levada a campo ontem não era tão propícia ao jogo de velocidade. Em especial após 45 minutos já jogados, quando Montillo já não tinha o mesmo ritmo. E Roger, presença fundamental na área para abrir o placar, dava menos opções de jogo quando o time se posicionava mais atrás, esperando a chance de contra-atacar.
Aos poucos, o Botafogo perdeu presença em campo, contato com a bola e, apesar de uma ou duas estocadas com algum perigo, via o Estudiantes ditar o ritmo e se sentir à vontade. Uma falta precipitada de Marcelo originou o gol de Otero, aos 16 minutos. Golpe duro para a torcida e para o time, que desmoronou por alguns minutos.
O aniversariante Jair Ventura, que ontem completou 38 anos, mudou a cara do jogo justamente ao devolver a velocidade ao Botafogo. E o fez justamente quando o Estudiantes perdeu fôlego, talvez fruto na inatividade dos times argentinos em 2017. Primeiro, o técnico lançou Sassá no lugar de Montillo. Com dois pontas, foi mais fácil abrir a defesa do Estudiantes. Dez minutos depois da mexida, aos 33, saiu o gol de Rodrigo Pimpão, outro personagem desta caminhada alvinegra na Libertadores, tantas são suas participações decisivas.
Com o Estudiantes aberto e cansado, Jair colocou Guilherme na vaga de Roger e passou a ter um time corredor por excelência. Andou mais perto do terceiro gol e foi menos ameaçado. O Botafogo segue firme e forte na corrida pela América.
Pela Libertadores, o alvinegro volta a campo no dia 13, contra o Atlético Nacional da Colômbia, fora de casa