Verdade que a ocasião era ingrata. Porque tudo que a seleção fizesse de ruim seria superdimensionado. E tudo que fizesse de bom, relativizado, dada a disparidade de força, tradição e história entre Brasil e Haiti. Mas é do jogo, é o mundo real. É preciso conviver com ele. O fato é que, na maior parte do tempo, não foram boas as sensações transmitidas pela seleção, apesar do 7 a 1 desta quarta, em Orlando, pela Copa América. A goleada, afinal, era esperada.
O exercício diante de um jogo como este é desvendar que observações oferecem conclusões para o futuro. E quais são prejudicadas pela fragilidade do rival. Mas de qualquer jogo, algo se tira. Ainda que sejam avaliações esparsas, não exatamente um diagnóstico do jogo coletivo da seleção brasileira.
A primeira coisa que aflorou foi a ansiedade da seleção. Em especial no primeiro tempo, não se via um time à vontade. Multiplicaram-se erros individuais de um time obrigado a fazer a quantidade de gols que o mundo cobraria do Brasil. A seleção é um time em imenso débito.
Outra observação: sempre que se colocou todo atrás da linha da bola, conforme o roteiro imaginado, o Haiti fez o Brasil se fartar de trocar passes. Já não parece haver dúvidas de que esta é a proposta, a ideia atual de jogo. Mas mesmo contra o Haiti, descontado o natural obstáculo do aglomerado de rivais protegendo a área, faltava algo de contundência, de profundidade. Os passes eram muito laterais, raramente abriam espaços para a penetração rumo ao gol.
Serviu para um exercício de movimentações ofensivas, ainda que feito contra um sparring. Por exemplo, a corrida de Jonas para a lateral do campo, abrindo espaço para Philippe Coutinho sair da esquerda e buscar o centro, em diagonal. Foi assim o lance do primeiro gol, aos 13 minutos. A movimentação coletiva propiciou a solução pelo talento. Coutinho conduziu, driblou e marcou.
Eis outra observação: Coutinho parece mais à vontade, o que representa um acréscimo de talento para o elenco.
Quando roubava a bola no campo rival, o jogo Brasil facilitava o jogo. Aí os espaços eram generosos. Uma das melhores jogadas do Brasil resultou no segundo gol de Coutinho, em virada rápida de jogo para Daniel Alves cruzar. E numa saída errada do goleiro, Daniel deu a Renato Augusto o terceiro gol.
A partir daí, não havia mais um rival aglomerado na defesa. Entrou Gabriel, com campo livre para correr na frente. E ele fez o quarto gol, aos 13. Virara treino, contra um Haiti que decidira tentar jogar um pouco também. Era justo esperar que o Brasil criasse até mais.
Veio a outra observação: Lucas Lima junto a Philippe Coutinho. Esta, possivelmente, prejudicada pela facilidade que o jogo apresentava. O meia do Santos fez bons lances, marcou um gol, o quinto, e deu passes. Mas o Brasil permitiu ao Haiti um gol. Perto do fim, Renato Augusto e Coutinho, no lance mais bonito da noite, fecharam o placar.
Com a goleada aplicada, a Seleção chegou a quatro pontos e deu um passo importante em busca da classificação à segunda fase. Pela terceira e última rodada da fase de grupos, o Brasil enfrenta o Peru, no próximo domingo (12).