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Seleções da Eurocopa têm 86 estrangeiros, seis deles nascidos no Brasil

Do lado de cá do Oceano Atlântico, convencionou-se chamar a Eurocopa de uma Copa do Mundo sem Brasil e Argentina pela qualidade do torneio e quantidade de seleções tradicionais que o disputam. Mas neste ano o Brasil estará lá. Não entrando em campo, pois a seleção está na Copa América dos Estados Unidos. Mas representado por um grupo de seis jogadores defendendo Itália, Espanha, Portugal, Polônia e até a Rússia.

O Brasil é apenas uma das nações que sequer fazem parte do continente europeu, mas estarão indiretamente jogando a competição que começa nesta sexta-feira com a partida entre França e Romênia, às 16h (de Brasília), em Saint-Denis (O Sportv transmite). Neste grupo, também há países da África, Ásia, Américas do Norte e Central e, claro, América do Sul. Dos 552 jogadores inscritos na competição, 86 não nasceram nos seus países de origem. São atletas com histórias diferentes umas das outras. Muitos são naturalizados, mas outros tantos são frutos do fluxo migratório do planeta, ganhando uma dupla nacionalidade e a opção de escolher qual nação gostaria de defender.

Há quem tenha até uma tripla nacionalidade. Caso de Thiago Alcântara. Filho do tetracampeão mundial Mazinho, o meia do Bayern de Munique nasceu na Itália, mas desde as categorias de base joga pela Espanha e hoje é um dos principais jogadores do time do técnico Vicente del Bosque, recordista de títulos ao lado da Alemanha e que inicia a Euro correndo por fora em busca do tetracampeonato.

A imigração faz uma seleção como a Turquia, por exemplo, ter seis dos seus oito estrangeiros nascidos na Alemanha (os outros vieram da Holanda e Dinamarca). Todos com sobrenomes que nada têm a ver com os Bauers, Schumachers ou Müllers tipicamente alemães. São filhos de imigrantes que foram para a Alemanha e optaram por jogar pelas seleções de seus pais e avós em um movimento diferente do hoje titular da seleção alemã Mesut Özil, que optou por jogar desde o início de sua carreira na equipe de Joachim Löw. A Alemanha tem mais de 1,5 milhão de turcos. É o maior contingente de imigrantes do país.

Por isso que a Eurocopa é proporcionalmente mais diversificada até mesmo do que a Copa do Mundo. No último Mundial do Brasil, que contava com 32 seleções, oito a mais, portanto, do que na Euro, havia menos jogadores estrangeiros (84), ainda que mais países representados (50) do que no torneio europeu.

Neste grupo de seleções com atletas nascidos em outros lugares, uma delas se destaca. Uma das cinco estreantes na competição, a Albânia tem 11 atletas nascidos longe das fronteiras albanesas. O contingente representa 47,8% dos 23 convocados pelo técnico italiano Gianni de Biasi. No grupo, há cinco atletas nascidos no Kosovo, entre eles o capitão Lorik Cana, quatro na Suíça, um na Alemanha e um na Macedônia.

Para um país relativamente jovem que ganhou uma série de imigrantes durante a guerra do Kosovo de 1999 e tem albaneses ou descendentes de albaneses espalhados pela Europa, encontrar atletas para defender a equipe foi o primeiro desafio do treinador quando chegou na seleção em 2011. O técnico viu mais de 450 jogos. Sendo que em cerca de 150 ele estava no estádio em 16 diferentes países do Reino Unido até o Azerbaijão.

– Foi um trabalho difícil. Especialmente nos dois primeiros anos, quando eu viajei por toda a Europa a procura de jogadores albaneses – lembra De Biasi, em entrevista ao GLOBO.

De Biasi foi responsável por uma grande renovação da seleção albanesa. Hoje, dos convocados para a Euro, dez tem até 25 anos. E 17 têm menos de 25 jogos pela equipe. Com ele, o grupo evoluiu. Saltou da 74ª colocação do ranking da Fifa para a 42ª, e se classificou para a primeira competição de sua história.

Nas eliminatórias, os albaneses surpreenderam seleções mais tradicionais como Dinamarca e Sérvia e se classificaram com o segundo lugar na chave, atrás de Portugal. Acabou ajudando na classificação uma vitória de 3 a 0 atribuída pela Corte Arbitral do Esporte (CAS) aos albaneses contra a Sérvia, em Belgrado, depois que a partida foi interrompida por uma confusão causada por um drone carregando uma bandeira pró-Albânia. Na ocasião, o zagueiro sérvio Mitrovic pegou a bandeira de uma forma brusca, o que irritou os albaneses, iniciando uma briga generalizada.

Numa região ainda com marcas fortes de disputas étnicas e de guerras recentes, isso foi o estopim para a invasão de torcedores sérvios, causando uma confusão ainda maior. Com isso, os albaneses abandonaram a partida e se recusaram a voltar ao gramado por temerem por sua segurança. Por causa destes três pontos, a seleção ficou na frente da Dinamarca, que acabaria eliminada pela Suécia nos playoffs. O que não tira o mérito de um time que cresceu muito em quatro anos. Nas eliminatórias para a Euro de 2012, os albaneses haviam ficado em penúltimo lugar da sua chave, a frente apenas de Luxemburgo.

– Cada jogador da Albânia se sente albanês. Eles demonstram um amor muito forte pela bandeira deles e do seu país. Eu admiro o orgulho pela nação albanesa que cada jogador nos mostra diariamente, especialmente em cada jogo. Sinto-me orgulhoso de treiná-los – disse o treinador, lembrando que alguns ficaram surpresos em saberem que podiam defender a equipe.

– No início eles ficaram um pouco surpresos. Alguns deles têm dupla nacionalidade. Mas nos últimos dois anos, eles mostraram muita flexibilidade e disponibilidade (para jogar).

SÓ DUAS SELEÇÕES SEM ESTRANGEIROS

A Albânia está no grupo A da Euro. Estreia neste sábado, às 10h (de Brasília), contra a Suíça, equipe que ostenta nada menos do que oito jogadores nascidos fora de suas fronteiras. Há representantes da Macedônia, Kosovo, Camarões, Cabo Verde e Costa do Marfim entre os suíços. Nesta sexta-feira, os albaneses apenas observarão seus futuros adversários. A França, que tem três atletas que não nasceram no país, e a Romênia, uma das duas únicas seleções da Euro com 100% dos jogadores nascidos em seu território. A outra é a República Tcheca.

– Os adversários são muito fortes. Sabemos que teremos que dar 100%, mas também temos que acreditar sempre e termos autoconfiança. Queremos passar da fase de grupos e ir adiante – afirmou De Biasi.

Além de Thiago Alcântara, a Eurocopa terá mais cinco brasileiros naturalizados atuando por outras seleções. Só a Itália tem dois. O volante Thiago Motta, que recebeu a camisa 10 do técnico Antonio Conte, e o atacante Éder, um dos destaques do Sampdoria e que no meio da temporada trocou o clube de Gênova pela Inter de Milão.

O veterano do grupo é o zagueiro e volante Pepe. Campeão europeu com o Real Madrid, ele vai para a sua quinta competição com a seleção portuguesa.

Embora tenham jogado no futebol brasileiro, os outros dois são mais desconhecidos. Ex-goleiro do Atlético-PR, Guilherme Marinato, do Lokomotiv Moscou, é reserva de Akinfeev na Rússia. Já o zagueiro Thiago Cionek, do Palermo, mas que teve passagens no Brasil pelo Cuiabá e pelo CRB, estará em campo pela seleção polonesa do artilheiro Robert Lewandowski.