RIO e SÃO PAULO – Em meio à crise econômica e à queda no consumo de combustíveis, cujas vendas recuaram 5% este ano até abril, o grupo Ultrapar decidiu ampliar sua posição no setor de distribuição no país. O grupo informou ontem que sua subsidiária Ipiranga fechou a compra da distribuidora de combustíveis Ale por R$ 2,17 bilhões. Segundo analistas, a operação tem como principal atrativo fortalecer a presença da Ipiranga no Nordeste.
No mercado de combustíveis, já se sabia que a Ale era uma ?candidata à venda?. Quarta colocada no ranking de distribuidoras do país ? porém, bem atrás de BR Distribuidora, Ipiranga e Raízen ? a Ale chegou a ser negociada em diferentes ocasiões nos últimos três anos.
Com o negócio, a Ipiranga consolidou sua posição como a segunda maior distribuidora do país, atrás da BR Distribuidora, passando a ter agora 25,8% do mercado de venda de gasolina, contra os 20,4% anteriores, segundo dados consolidados do último relatório da Agência Nacional do Petróleo (ANP). A BR, da Petrobras, tem 29% de participação. Com um faturamento da ordem de R$ 300 bilhões anuais, cada 1% de mercado de combustíveis representa um ganho de cerca de R$ 3 bilhões de participação de mercado.
A Ale possui uma rede de aproximadamente 2 mil postos e 260 lojas de conveniência, enquanto a Ipiranga detém 7.241 postos e rede de 1.919 lojas. Segundo um executivo do setor, a venda da Ale já estava sendo aguardada.
? A empresa (Ale) estava grande demais para ser regional, mas era pequena para ter uma atuação forte a nível nacional. Estava no meio do caminho e precisava definir seu futuro. Já a Ipiranga reforça sua posição no Nordeste, onde tinha uma atuação mais fraca ? destacou o executivo.
?A rede Ale, com sede em Natal (RN), tem forte presença no Nordeste e complementa geograficamente a rede de postos da Ipiranga, que possui menor participação nesses mercados em relação ao restante do país e tem focado seus investimentos nessa região?, disse a Ultrapar em comunicado.
A Ale tem participação de 7,3% nas vendas de combustíveis no Nordeste que, somados aos 13,8% da Ipiranga, permitirá à rede do grupo Ultra elevar para 21,1% sua fatia na região.
NO SUDESTE, 34,7% DO MERCADO
Segundo uma fonte próxima do negócio, o Nordeste é considerado estratégico às grandes redes porque é um mercado que, além do potencial de crescimento, perde menos vendas em períodos de crise como o atual, e cresce mais fortemente em momentos de expansão econômica.
No Sudeste, segundo dados da ANP, ao incorporar os 5,2% de participação da Ale na região aos seus 29,5%, a Ipiranga passará a ter 34,7% do mercado, encostando nos 36,6% da BR, líder no setor.
O negócio está sujeito à aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e de acionistas da Ultrapar.
O valor a ser pago aos vendedores terá a dedução da dívida líquida da Ale, em 31 de dezembro de 2015, e será sujeito a ajustes de capital de giro e endividamento líquido na data do fechamento da transação. O endividamento líquido da Ale era de R$ 737 milhões no fim de dezembro de 2015. A Ale encerrou 2015 com receita de R$ 11,4 bilhões e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de R$ 275 milhões de reais.
A Alesat Combustíveis S.A., controladora da rede Ale de distribuição de combustíveis, foi criada há 20 anos com a união da distribuidora de óleo diesel ALE Combustíveis, controlada pelo grupo mineiro Asamar, com a Satélite Distribuidora de Petróleo, do empresário Marcelo Alecrim, do Rio Grande do Norte.
A Alesat também tem como sócio o fundo americano Darby Overseas Investments, que tem um braço de private equity na Amércia Latina.
Além da Ipiranga, a Ultrapar atua em várias áreas de varejo, como na distribuição de GLP, o gás de botijão, por meio da Ultragaz, que é líder do mercado. O grupo atua também na indústria de especialidades químicas e petroquímica, por meio da Oxiteno, com presença nos Estados Unidos, no Uruguai, no México e na Venezuela.