RIO ? A quinta noite de competição da Première Brasil foi marcada por lágrimas, dentro e fora da tela. Antes mesmo do início da sessão de “O filho eterno”, de Paulo Machline, nesta terça-feira, a equipe do filme fez discursos apaixonados e não segurou a emoção, como se já preparasse o público para a projeção.
Adaptação do romance homônimo de Cristóvão Tezza, “O filho eterno” foca na relação entre um pai (Marcos Veras, em seu primeiro papel dramático no cinema) e um filho com síndrome de Down. Roberto (Veras) é tomado de alegria quando a mulher, Cláudia (Débora Falabella), dá à luz durante a Copa do Mundo de 1986. Mas seu mundo vira de cabeça para baixo quando ele recebe a notícia de que a criança, Fabrício (Pedro Vinícios), tem a síndrome.
Roberto entra em desespero, e, em vez de se habituar à nova situação, começa a ter pensamentos sombrios. Deixa de ter prospectos para o futuro. Acha que perdeu a liberdade para sempre. E chega a buscar consolo na possibilidade de o seu filho morrer cedo. Mas “O filho eterno” é um filme de boas intenções, e o protagonista, eventualmente, aprende a amar o garoto.
O primeiro a apresentar o longa-metragem, no Roxy, foi o produtor Rodrigo Teixeira, que se emocionou ao lembrar do aniversário de dez anos de sua empresa, a RT Features. Hoje o produtor brasileiro de maior sucesso no exterior (responsável por “A bruxa”, “Frances Ha”, “Love”, entre outros), Teixeira citou o primeiro longa que fez, “O cheiro do ralo” (2006), também exibido no Festival do Rio, e não segurou as lágrimas. Ele também agradeceu ao escritor Cristóvão Tezza, presente na plateia, por ter cedido os direitos da obra.
Acompanhado do elenco de “O filho eterno”, o diretor Paulo Machline, indicado ao Oscar pelo curta-metragem “Uma história de futebol” (1998), também fez um discurso apaixonado:
? Hoje fui dar um mergulho e pensei por que tinha feito esse filme. Posso dizer que virei uma outra pessoa após as filmagens. Algo aconteceu durante a produção que me deixou diferente: um pai melhor, um amigo melhor, uma pessoa que entende mais da única coisa de que precisamos na vida. Precisamos focar no amor. Esse filme me fez voltar à essência do amor nas pessoas ao nosso lado. É um filme de amor. Queria que cada um de vocês passasse por essa experiência ? disse o cineasta, aplaudido.
Mais cedo, foi exibido o documentário “Curumim”, de Marcos Prado. A obra relata a vida de Marco “Curumim” Archer, o brasileiro morto por fuzilamento na Indonésia, em 2015, após quase 12 anos preso no país por tráfico de drogas. O diretor manteve contato, por quase três anos, com o condenado, que também registrou o seu cotidiano na prisão usando uma câmera escondida.
? A ideia era fazer um filme em três atos: a biografia de Curumim, o presídio e as escolhas que ele faria quando fosse solto. Porque todos acreditavam que ele fosse ser libertado em algum momento. Infelizmente, o pior aconteceu ? afirmou o cineasta de “Estamira” (2004) e “Paraísos artificiais” (2012).
A Première Brasil segue nesta quarta, com sessões do documentário “Superorquestra”, de Sérgio Oliveira, e “Era o Hotel Cambridge”, de Eliane Caffé.