Consórcio da Paz une governadores e marca ofensiva da oposição sobre segurança pública

Como adiantou O Paraná na edição de sexta-feira, governadores de direito e centro-direita lançaram uma aliança inédita na segurança pública. O “Consórcio da Paz” pretende integrar ações de combate ao crime organizado entre estados e fortalecer a autonomia regional diante do governo federal. O movimento ocorre após a megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, que deixou 121 mortos, incluindo quatro policiais, e reacendeu o debate sobre os limites da atuação das forças de segurança.

O encontro, articulado por Cláudio Castro (PL-RJ), reuniu Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União-GO), Jorginho Mello (PL-SC), Eduardo Riedel (PP-MS) e a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP). Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) participou por videoconferência. A ausência mais notada foi a de Ratinho Junior (PSD-PR), que apesar de ter sido anunciado para reunião, acabou cancelando sua participação devido ao atraso no leilão de rodovias do Paraná, em São Paulo.

O evento serviu também como gesto de solidariedade política a Castro, alvo de críticas por causa do número de mortes na operação. “Fiz questão de estar aqui para me solidarizar com o Castro e parabenizar as polícias do Rio. Tivemos a maior apreensão de armas e prisão coletiva de criminosos de alta periculosidade. Foi uma operação bem planejada e sucedida”, afirmou Zema.

Contraponto

Além da pauta de segurança, a reunião foi vista como um movimento de articulação política da centro-direita, que pretende se posicionar como alternativa ao governo Lula nas eleições de 2026. Três dos participantes — Zema, Caiado e Tarcísio — são cotados como possíveis candidatos à Presidência.

O grupo expressou insatisfação com a PEC da Segurança Pública, enviada pelo Planalto ao Congresso, sob o argumento de que o texto concentra poder na União e enfraquece a autonomia regional dos estados. Os governadores também defendem que as facções criminosas sejam classificadas como organizações terroristas, proposta que enfrenta resistência do governo federal.

“O governo quer centralizar e padronizar respostas em um país desigual. Santa Catarina é o estado mais seguro do Brasil e tem realidade diferente dos demais. O que precisamos do governo federal é controle de fronteiras e recursos para equipar nossas forças”, disse Jorginho Mello.

Correligionário de Castro e aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mello também criticou a política de desarmamento. “O poder do crime é medido por fuzis, não por pistolas de CACs. Essas armas chegam pelas fronteiras, não das casas dos cidadãos de bem”, afirmou.
A Megaoperação

Na sexta-feira (31), o governo fluminense divulgou um levantamento sobre os suspeitos mortos na operação. Segundo a Secretaria de Polícia Civil, nove eram chefes do tráfico em diferentes estados, entre eles PP (Pará), Mazola (Bahia), Fernando Henrique dos Santos (Goiás) e Russo (Espírito Santo).

O secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, afirmou que os complexos do Alemão e da Penha são “centros de comando” das operações interestaduais do Comando Vermelho, com ramificações em todo o país. O governo considera que a operação desarticulou parte significativa da estrutura logística da facção.

Ratinho Junior

Mesmo ausente, Ratinho Junior sinalizou apoio à criação do consórcio e anunciou que pretende discutir com o relator da PEC da Segurança Pública, Mendonça Filho (União-PE), propostas para endurecer a legislação penal. “Nós prendemos muito, mas soltamos muito, porque as nossas leis são frágeis […] Somos um país continental, e os crimes são diferentes em cada região. Os estados deveriam ter essa autonomia a mais para poder legislar em cima de questões criminais”, declarou Ratinho Junior, que ainda em São Paulo fez contato com o governador Cláudio Castro, informando que não participaria da reunião, mas reafirmando seu apoio à iniciativa do Governo do Rio de Janeiro.

Cooperação e disputa política

O “Consórcio da Paz” nasce com o objetivo declarado de unir esforços no combate ao crime organizado e trocar informações sobre tráfico de armas, drogas e lavagem de dinheiro entre os estados. Mas o movimento também representa uma disputa de protagonismo político.

Enquanto o governo federal defende uma política nacional de segurança com coordenação centralizada, os governadores buscam reforçar a descentralização e a autonomia regional, numa pauta que combina estratégia administrativa e discurso eleitoral.

Com a escalada da violência e o fortalecimento das facções, o grupo aposta que a segurança pública será um dos principais temas da campanha presidencial de 2026 — e quer ocupar, desde já, o centro desse debate.