RIO ? Uma das duas estátuas de leões alados, localizadas na entrada do Parque Guinle, em Laranjeiras, foi destruída na madrugada deste domingo. A escultura, de ferro fundido e bronze, que fica em cima de um pedestal, foi encontrada por moradores no chão, na manhã de hoje, totalmente despedaçada.
Marco Antônio Santos, porteiro de um dos prédios próximos à entrada do parque, disse que seu colega da madrugada foi avisado por um casal de pedestres que três jovens vandalizavam a estátua. Ele afirmou também que, quando o amigo chegou ao local, não havia mais ninguém.
Transeuntes estão acostumados a ver uma viatura da PM constantemente estacionada no local.
? O veículo não fica parado o tempo todo, é responsável pelo patrulhamento da área do Palácio Laranjeiras. Então, os vândalos provavelmente aproveitaram que os policiais não estavam no local e destruíram o monumento ? explica o cabo Edmílson, que na manhã deste domingo fazia a segurança do local.
A 1ª Companhia Independente da Polícia Militar, que atua no Parque Guinle e Palácio Laranjeiras, explicou, via assessoria, que uma viatura fica estacionada em frente o parque durante todo o dia. Já de noite, o veículo efetua rondas pela região. Foi dito também que o comandante da Companhia distribuiu recentemente um panfleto para os moradores e síndicos do parque, contendo um telefone para que sejam feitas denúncias de qualquer natureza. Por fim, a PM afirmou que irá trabalhar em conjunto com o Serviço Reservado para identificar e prender os vândalos.
A aposentada Nedina Levy é moradora da rua Conde de Baependi, próxima ao parque, e presidente da associação de moradores do Parque Guinle, um grupo da região que trabalha na conversavação do local. Foi ela que, ao encontrar a estátua destruída, a isolou com um cone e uma fita. A senhora afirma que, apesar da boa conservação do parque, o espaço sofre com o vandalismo e a sujeira deixada por grupos de jovens.
? É um absurdo o que fizeram com a estátua. Além de ser parte componente do parque, ela é também um monumento histórico, já que o local é tombado. Além disso, eles picham as placas, bebem, quebram as garrafas e jogam os cacos pela areia dos parquinhos, que, no dia seguinte estará cheio de crianças.
Nedina afirma também que, por o grupo ter uma postura contrária às badernas e o vandalismo, já foi ameaçada.
? Não tenho ideia de quem foi, mas picharam em letras garrafais no portão da Comlurb, ?Nedina vai morrer?. Eu não ligo, mas isso é só mais um exemplo da desordem que é vista no parque em algumas noites.
Outro morador do local, o advogado Samuel Antero, confirma o que Nedina diz.
? Eu cresci nesse parque, brincava aqui quando criança, usava papelão para escorregar pela grama e, hoje, venho com o meu filho. É muito triste ver o que aconteceu. E não é só a estátua, a placa de informações, por exemplo, está toda pichada. Essas coisas contrastam com o bom estado do parque.
Já o empresário Igor dos Santos, que visitava o local, ficou impressionado com a audácia dos criminosos.
? Eu passei por lá, vi os pedaços e, por curiosidade, tentei levantar um. Pesa muito, e olha que foi só um fragmento. Fico pensando no trabalho que eles tiveram para, por pura maldade, tirá-la do local e jogá-la no chão.
O parque estava lotado na manhã deste domingo e o sentimento de quem via o monumento quebrado era de indignação. Frequentadores passavam pelo local, olhavam chocados a destruição e comentavam uns com os outros.
? Houve uma melhora considerável nos últimos anos, colocaram novos brinquedos para as crianças e os jardins foram restaurados, mas você fica pensando por que uma coisa dessas acontece. O parque é público, todos têm o direito de o frequentar, seja de dia ou de noite, mas destruir o bem por, talvez, pura diversão? ? argumenta o bancário Marcos Amaral, que, assim como Antero, também estava com o filho.
Não é a primeira vez que o monumento sofre, seja por acidente ou por um ato criminoso.
? Há poucos anos um caminhão bateu em sua base, que precisou ser reformada. Uma outra vez, um morador roubou a estátua. Ele foi denunciado por outros de seu prédio, que viram o monumento na garagem, teve que devolvê-lo e foi punido com uma pena de trabalhos voluntários ? conta Nedina.
A Gerência de Monumentos e Chafarizes, da Secretaria de Conservação e Serviços Públicos, é responsável pela manutenção de peças como esta. Em nota, a secretaria afirmou que o estátua será levada para o depósito da instituição, onde técnicos irão avaliar os danos e definir como serão feitos os reparos. Por isso, ainda não é possível prever quanto será gasto neste trabalho.
Ainda de acordo com a secretaria, o último alvo de vandalismo na cidade, em dezembro do ano passado, havia sido a estátua de Noel Rosa, que ficava no Boulevard Vinte e Oito de Setembro, em Vila Isabel. O monumento foi removido, levado para uma fundição, onde será feito uma restauração. O valor deste serviço será de R$ 95 mil. Por fim, foi informado também que a Gerência conta com um orçamento anual de R$ 2,5 milhões destinados à manutenção e restauro de monumentos e chafarizes. Nos últimos dez meses a prefeitura gastou R$ 215 mil somente devido a atos de vandalismo.
O Parque Guinle foi concebido, nos anos 1920, como os jardins da residência do empresário Eduardo Guinle, um palacete neoclássico. Em 1940, o local passou para as mãos do governo federal e, em 1943, o urbanista Lucio Costa desenvolveu um plano de urbanização para a região, onde foi construído um conjunto de seis edifícios residenciais. Na mesma época, o paisagista Burle Marx redesenhou os jardins, originalmente projetados pelo francês Gérard Cochet. Hoje, o palacete, rebatizado de Palácio Laranjeiras, é utilizado como residência oficial do governador do estado.