RIO – Se o termo “agender”, ou agênero, já é a palavra de ordem há algumas temporadas na alta-costura, começam a surgir iniciativas para levar a tendência ? que na verdade já ganhou status de filosofia ? para a vida real. A última delas é a HEX, marca carioca fundada pelo jovem ator e estilista Rafael Ferrero ao lado do irmão, o administrador Rodrigo Ferreira. O empurrãozinho final ficou por conta do autor de dramartugia Aguinaldo Silva, que comprou a ideia e virou embaixador da grife.
? A marca surgiu de uma necessidade como consumidor. Procurava algo diferente e não encontrava ? conta Rafael, que é morador de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio e já costumava usar peças de coleções femininas no dia a dia.
? Uso top cropped, sem ser oversized, para demonstrar que a gente tem a liberdade de vestir o que quiser ? explica o ator de 26 anos, que se diz acostumado a atrair olhares de reprovação nas ruas.
? Isso é maravilhoso, eu me visto para isso ? brinca ele ? Vou ser sincero: obviamente que fere a gente, mas, no fundo, se não recebo um olhar de crítica, acho que estou básico demais. Milhões de vezes tenho que ir até o Centro ou Santa Cruz e não mudo (de roupa) porque deveria me adaptar à realidade do lugar.
Para romper de vez com a ideia de que há roupas voltadas para cada sexo, a marca “rebatizou” os nomes das peças com termos gregos. O que seriam vestidos, por exemplo, podem ser “quíplos”, “pictogas” ou “togas”, de acordo com a modelagem. Outra inspiração é a rapper Karol Conka: a primeira coleção se chama ?Do Gueto Ao Luxo?, nome de uma das músicas da cantora curitibana.
? A Karol já foi uma pessoa próxima, mas acabamos nos afastando. Ela tem a mesma base de vida e vivência que eu, de ver as pessoas menosprezarem o nosso potencial. A coleção é basicamente inspirada no estilo dela, que veio para dizer que a beleza negra precisa ser vista e admirada.
Mais uma musa é a artista visual Joana Couto, que é transgênero e, ao lado de Miguel Lourenço, estrela o catálogo da marca.
? Tive uma amizade que me fez ver a necessidade dessas pessoas serem protagonistas. Decidi trabalhar com uma trans por isso, me culparia fosse alguém cisgênero.
As roupas da HEX podem ser adquiridas no e-commerce