NITERÓI ? Para o diretor e ator Amir Haddad, um dos maiores nomes do teatro brasileiro, lugar de arte é qualquer um. Tanto que, há 36 anos, ele comanda o grupo Tá na Rua, que faz apresentações em espaços públicos. Seguindo os ensinamentos do mestre, acontece amanhã a primeira edição do ?Arte no Fala!?, no Fala! Bed and Breakfast, albergue na Praia de Itacoatiara. Na programação, a exibição do documentário sobre Haddad, ?Cirandeiro?, dirigido por Cláudio Boeckel, e as performances de poesia da atriz e poeta Betina Kopp.
? O hostel é novo, e a ideia é transformá-lo num polo cultural da Região Oceânica, que é muito pobre culturalmente. Itaipu e Itacoatiara mais ainda. Queremos trazer os artistas da região para se apresentarem, e a população daqui para assistir ? explica Betina, que é também produtora do evento, previsto para acontecer a cada dois meses.
um discípulo fiel
Cláudio Boeckel, que é diretor de novelas na TV Globo e criador da série infantil ?Gaby Estrella?, do canal Gloob, demorou oito anos para produzir o filme sobre Haddad, de quem foi aluno e com quem, depois, trabalhou como ator. Boeckel o conheceu quando estudava na Casa de Artes de Laranjeiras e teve o seu trabalho de conclusão do curso dirigido por ele.
? Quando Haddad chegou, destruiu tudo o que a gente tinha aprendido naqueles anos todos, fez uma revolução na nossa cabeça. Depois, ele trabalhou com o Joãosinho Trinta naquele desfile famoso da Beija-Flor, de 1989, em que o Cristo estava coberto, e eu fui junto. Não desgrudei mais do velho. Ele é um bruxo ? diz Boeckel.
A primeira exibição do documentário foi no Festival do Rio, em 2012, na abertura da mostra ?Retratos?. Depois, o filme foi exibido no Festival Íbero-Americano, além de outros eventos.
? É um documentário-fábula. Não tem depoimento algum. É só dramaturgia ? explica Boeckel.
Para a montagem, o diretor usou imagens de arquivo, além de material inédito, gravado por ele em exibições e ensaios de trabalhos de Haddad, que continua na ativa aos 79 anos.
? Plantei uma câmera dentro do grupo; deixei-a com um ator. Há uma cena, por exemplo, em que ele dá, em um dos atores, um esporro gigantesco, que serve para todo mundo e transcende o teatro. Porque é uma metáfora, na verdade. Ele pega o trabalho do ator e fala sobre cidadania, sobre o ser humano, sobre a vida ? diz.
Betina, que também trabalhou com Haddad, vai se apresentar antes e depois da exibição do documentário. A primeira performance é a ?Poesia para degustar?, em que ela oferece a cada pessoa um cardápio com 14 poetas. Já a segunda é a ?Poiesis?, em que declama poemas acompanhados pela trilha composta por um DJ.
? Brinco que sou uma jukebox de poesia viva. A pessoa escolhe o poema e eu o falo para ela. Como é pessoal, direto, intimista, é lindo. Porque eu a vejo se emocionar e me emociono. Fico cheia de energia quando acabo, porque recebo muita em troca ? conta Betina.