Cotidiano

Líderes opositores vão aos EUA pedir aplicação de Carta Democrática contra Venezuela

CARACAS ? Líderes opositores da Venezuela vão aos Estados Unidos pedir formalmente à Organização de Estados Americanos (OEA) que aplique a Carta Democrática Interamericana contra o governo de Nicolás Maduro. O anúncio, feito pelo encarregado de política externa da Assembleia Nacional, Luis Florido, no domingo, veio após a casa legislativa decretar que houve ruptura da ordem constitucional no país. Segundo Florido, irão a Washington dirigentes da Mesa de Unidade Democrática (MUD) ? coalizão de partidos opositores.

Em uma sessão tumultuada no domingo, a Assembleia Nacional, liderada pela oposição, pressionou para que Maduro seja julgado por violar a democracia dias depois de as autoridades terem interrompido um referendo revogatório contra o impopular presidente esquerdista do país.

A medida não deve avançar, já que o governo e a Suprema Corte têm minado sistematicamente a legislatura afirmando que esta será ilegítima até remover três parlamentares acusados de compra de votos. Mas o gesto marcou uma nova escalada nas tensões políticas no país. No sábado, 12 países da OEA, entre os quais Brasil, Argentina, Uruguai, Colômbia, México, Chile e Costa Rica expressaram preocupação e instaram o governo Maduro a buscar vias de diálogo.

? É um julgamento político e legal contra o presidente Nicolás Maduro para ver que responsabilidade ele tem na ruptura constitucional que quebrou a democracia, os direitos humanos e o futuro do país ? disse o líder da maioria opositora, Julio Borges, durante uma sessão especial do Congresso.

A sessão foi interrompida brevemente quando cerca de cem manifestantes aparentemente pró-governo invadiram o local com cartazes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e gritando ?A Assembleia vai cair!? antes de serem escoltados para fora por funcionários.

Parlamentares opositores disseram que pessoas ficaram feridas e tuitaram fotos de dois homens recebendo atendimento depois de terem sido supostamente golpeados na cabeça. Também houve relatos de que alguns jornalistas tiveram suas câmeras e coletes de proteção roubados.

? O Partido Socialista está mostrando o que deixou. Não há ideias ou argumentos, só violência! ? disse o líder opositor e duas vezes candidato presidencial Henrique Capriles.

ACUSAÇÃO DE FRAUDE

A coalizão de oposição, que almeja pôr fim a 17 anos de chavismo no poder, disse que a suspensão da segunda etapa de uma coleta de assinaturas para um plebiscito contra Maduro, ocorrida na quinta-feira, mostra que a Venezuela abandonou a democracia.

Autoridades do partido governista acusam a oposição de fraudar a primeira coleta de assinaturas e dizem que a coalizão está tentando dar um golpe de Estado para obter o controle das reservas de petróleo da Venezuela.

Apesar da riqueza do petróleo, a Venezuela mergulhou em uma crise econômica inédita, e muitos venezuelanos temem que o referendo aumente as chances de tumultos sociais no país já volátil e violento.

A coalizão opositora conclamou uma grande manifestação pacífica para quarta-feira, apelidada de ?A Tomada da Venezuela?.

Na sessão tensa de domingo, parlamentares também trocaram farpas. Políticos do PSUV mostraram fotos do falecido líder Hugo Chávez, enquanto congressistas opositores gritaram ?O povo está faminto e quer um referendo revogatório!?.

O Congresso concluiu a sessão declarando que o governo Maduro deu um golpe de Estado impedindo o referendo, e parlamentares desencavaram uma acusação antiga de que Maduro na verdade é colombiano, e por isso inelegível para ser presidente, embora ainda não tenham apresentado nenhuma prova.