BUENOS AIRES – A história da companhia aérea LaMia tem capítulos obscuros que incluem denúncias de fraude na Venezuela, negócios com um empresário chinês atualmente preso por corrupção, vínculos com governadores chavistas e a negação por parte do Instituto Nacional de Aeronáutica Civil (Inac, da Venezuela) de operar no país como ?prestador do serviço público de transporte de passageiros, carga e correio? por não respeitar o artigo 66 da Lei de Aeronáutica Civil, ou seja, por não contar com a competência básica para realizar operações de transporte aéreo em condições seguras. Os detalhes do passado da LaMia foram publicados nesta quinta-feira pelo jornal ?El Tiempo?, da Colômbia, que fez uma profunda investigação sobre a empresa.
De acordo com a reportagem do diário colombiano, a LaMia nasceu em 16 de agosto de 2010, graças ao respaldo do governador do estado venezuelano de Mérida, Marcos Díaz Orellana. A ideia era transformar a companhia em uma das mais fortes do mercado interno de transporte aéreo, criando cerca de 700 postos de trabalho e adquirindo, através de um convênio com a China, 12 aeronaves.
Isso foi o que o governador chavista anunciou, há mais de seis anos. No entanto, o ?El Tiempo? checou informações da aeronáutica venezuelana e constatou que nada do que foi prometido saiu do papel. ?A empresa e seu gestor, o economista venezuelano de origem espanhola Ricardo Albacete, fazem parte de uma história cheia de vazios e anomalias?, informou o jornal colombiano.
Segundo documento da Corte Suprema da Venezuela, obtido pelo ?El Tiempo?, ?antes de entrar no mercado aeronáutico Albacete enfrentou uma denúncia por suposta fraude?. A relação do venezuelano com o empresário chinês Sam Pa, com negócios em países africanos como Angola, também teriam contribuído à ruína da empresa.
?Uma manhã de setembro de 2011, os trabalhadores da LaMia (na Venezuela) encontraram seus escritórios desmantelados e quatro anos depois Sam Pa foi capturado (pelo governo chinês)?, contou o jornal colombiano.
Anos depois, Albacete reapareceu, vinculado a outro governador chavista, Carlos Mata Figueroa, do estado de Nova Esparta, onde está localizada a famosa Ilha Margarita. Foi assim que a empresa se transformou em Linha Aérea Margarita e começou a oferecer voos para Caracas, Maracaibo, Aruba, Medellín, Panamá Manaus, Miami e até mesmo Boston. Foi naquele momento, segundo apurou o ?El Tiempo?, que Albacete comprou os três aviões RJ85, que formavam a frota da LaMia refundada anos depois na Bolívia. Um deles foi o que caiu na Colômbia, com o time da Chapecoense.
Os aviões chegaram primeiro a Aruba, enquanto aguardavam autorização dos organismos venezuelanos para poder operar. Mas a autorização nunca chegou. O que sim chegou foi uma negação por parte do Instituto Nacional de Aeronáutica Civil (Inac, da Venezuela) de operar na Venezuela como ?prestador do serviço público de transporte de passageiros, carga e correio? por não respeitar o artigo 66 da Lei de Aeronáutica Civil, ou seja, por não contar com a competência básica para realizar operações de transporte aéreo em condições seguras.
Anos mais tarde, a LaMia ressurgiu das cinzas na Bolívia, com os mesmos aviões que não conseguiu utilizar na Venezuela. De acordo com o ?El Tiempo?, Albacete tentou vender as aeronaves para seu sócio chinês, mas a operação nunca chegou a ser fechada.
O empresário sim conseguiu alugar os aviões para os bolivianos Marco Rocha e Miguel Quiroga, que começaram a voar oferecendo alguns dos preços mais competitivos do mercado regional. Assim, começaram a ser contratados por seleções de futebol e clubes de todo o continente, entre eles times do Brasil, Argentina, Paraguai e Colômbia.