Política

Entidades do setor produtivo divergem sobre corte da taxa de juros pelo Copom

Dinheiro, Real Moeda brasileira
Dinheiro, Real Moeda brasileira

 

Brasília e Rio de Janeiro – Apesar de estar na direção certa, na avaliação “dividida” dos especialistas, a decisão do BC (Banco Central) de cortar a Taxa Selic (juros básicos da economia) em 0,5 ponto percentual, é tímida e não impede a desaceleração econômica, na avaliação de entidades da indústria e de centrais sindicais, que pedem mais ousadia da autoridade monetária.
Em nota, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) considerou a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) “compreensível, mas insuficiente”. A entidade ressaltou que a taxa de juros real (acima da inflação) está em 8,5% ao ano, 4 pontos percentuais acima dos juros neutros, que não estimulam nem desestimulam a atividade econômica.
“Tenho a plena convicção de que a queda de juros não está na velocidade que nós precisamos. Na verdade, estamos em uma armadilha, porque a nossa Taxa Selic atingiu um patamar bastante desestimulante. Entendo que não é possível fazer uma queda abrupta, mas o Banco Central poderia ser um pouco mais desafiador e ter iniciado uma redução mais acelerada”, afirmou em nota o novo presidente da CNI, Ricardo Alban.
Já a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) considerou a decisão acertada, em função do cenário econômico atual. A entidade avalia que os dados recentes evidenciam dinâmica mais favorável da inflação para o consumidor. “As projeções para a inflação, em 2024 e 2025, indicam estabilidade, permanecendo dentro da meta estabelecida. Além disso, os indicadores econômicos de curto prazo sustentam a perspectiva de desaceleração nos próximos trimestres”.
Apesar da análise positiva, a Firjan destacou que fatores externos trazem incertezas ao cenário atual, como a elevação das taxas de juros nos Estados Unidos e a guerra no Oriente Médio, que trouxe preocupações para o mercado de energia. “Mais do que nunca, é fundamental manter o compromisso firme com o equilíbrio fiscal e com as metas estabelecidas. A solvência da dívida pública desempenha um papel crucial no amortecimento dos efeitos das incertezas que permeiam o cenário internacional. A credibilidade fiscal é um pilar essencial para preservar a percepção do risco país e favorecer a continuidade dos cortes de juros”, indicou a Firjan.

Crédito
Para a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), a redução da taxa Selic para 12,25% ao ano barateará pouco o crédito e as prestações. Com o impacto na ponta final diluído, por causa da diferença muito grande entre a taxa básica e os juros efetivos de prazo mais longo, o tomador de novos empréstimos sentirá pouco os efeitos do afrouxamento monetário.
Segundo a Anefac, o juro médio para as pessoas físicas passará de 123,71% para 122,71% ao ano. Para as pessoas jurídicas, a taxa média sairá de 59,98% para 59,24% ao ano. A Selic passou de 12,75% para 12,25% ao ano. No financiamento de uma geladeira de R$ 1,5 mil em 12 prestações, por exemplo, o comprador desembolsará R$ 0,39 a menos por prestação e R$ 4,64 a menos no valor final com a nova taxa Selic. O cliente que entra no cheque especial em R$ 1 mil por 20 dias pagará R$ 0,27 a menos.
Em relação às pessoas jurídicas, as empresas pagarão R$ 62,55 a menos por um empréstimo de capital de giro de R$ 50 mil por 90 dias, R$ 24,92 a menos pelo desconto de R$ 20 mil em duplicatas por 90 dias e R$ 2,67 a menos pela utilização de conta garantida no valor de R$ 10 mil por 20 dias.

Reflexos na Poupança

A Anefac também produziu uma simulação sobre o impacto da nova taxa Selic sobre os rendimentos da poupança. Com a taxa de 12,25% ao ano, a caderneta só rende mais que os fundos de investimento quando o prazo da aplicação é curto e a taxa de administração cobrada pelos fundos é alta.
Segundo as simulações, a poupança rende mais que os fundos em apenas três cenários: quando o correntista aplica em fundos com taxa de administração de 3% ao ano, aplicação de até um ano em fundos com taxa de 2,5% ao ano e aplicação de até seis meses em fundos com taxa de 2% ao ano.
Na comparação com fundos com taxa de administração de 2,5% ao ano, a poupança rende o mesmo quando o dinheiro ficar aplicado entre um e dois anos.
A vantagem dos fundos ocorre mesmo com a cobrança de Imposto de Renda e de taxa de administração. Isso porque a poupança, apesar de ser isenta de tributos, rende apenas 6,17% ao ano (0,5% ao mês) mais a Taxa Referencial (TR), que aumenta quando a Selic sobe. Esse rendimento da poupança é aplicado quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, o que ocorre desde dezembro de 2021.