Links SAGRIO ? Em meio à um fim de semana de fortes reações à ordem executiva anti-imigração de Donald Trump, era esperado que a indústria cultural se posicionasse. Na noite deste domingo, a cerimônia de premiação do SAG Awards, organizada pelo Sindicato dos Atores de Hollywood, surgiu como palco ideal para isso. No total, 13 astros discursaram na festa contra a postura do novo presidente dos Estados Unidos.
Tudo começou com Ashton Kutcher, responsável pelo discurso de abertura da 23ª edição do SAG Awards. “Boa noite a meus companheiros do sindicato, a todos em casa e a todos que estão em aeroportos e pertencem ao meu país. Vocês são parte do nosso tecido, e nós amamos vocês”, disse o astro de “Efeito borboleta” e That 70’s show”, assim que abriu seu monólogo.
Após levar mais um prêmio por sua atuação na série “Veep” ? o de melhor atriz em série cômica ?, Julia Louis-Dreyfus brincou sobre um possível ataque de hackers russos na votação do SAG Awards antes de falar sério: “Eu gostaria que vocês soubessem que eu sou a filha de um imigrante. Meu pai sofreu perseguição religiosa na França ocupada por nazistas… E eu amo este país. Esta proibição contra imigrantes é uma mancha, e é antiamericana”. Ashton Kutcher: Opening Monologue | 23rd Annual SAG Awards | TNT
O veterano William H. Macy, premiado com a estatueta de melhor ator em série cômica por “Shameless”, usou do humor para alfinetar o presidente. “Eu gostaria de remar contra a maré nesta noite e agradecer ao presidente Trump… Por fazer Frank Gallagher parecer tão normal”, disse, referindo-se ao seu personagem na série ? um ausente pai de família constantemente desempregado que gasta seu escasso orçamento em bebida. Links Trump
A onda seguiu com a vitória de “Orange is the new black” como melhor elenco de série cômica. Taylor Schilling, que interpreta a protagonista Piper, pegou o microfone e exaltou a diversidade dos seus companheiros de trabalho. “Estamos aqui representando um grupo diverso de pessoas, representando gerações de famílias que buscaram uma vida melhor aqui, de lugares como Nigéria, República Dominicana, Porto Rico, Colômbia, Irlanda…”, enumerou. “E sabemos que vai depender de nós, e provavelmente de vocês, também, continuar contando histórias que mostrem que nossa união é mais forte do que aqueles que buscam nos dividir”.
Após Viggo Mortensen e Kathryn Hahn, astros de “Capitão fantástico”, subirem ao palco para apresentar um prêmio, o sueco fez uma referência ao filme (sobre uma grande família que leva um estilo de vida alternativo) ao erguer seu punho e dizer “poder para as pessoas!”.
Foi a deixa para Mahershala Ali, muçulmano há 17 anos e eleito melhor ator coadjuvante por “Moonlight”, fazer um dos discursos mais fortes da noite.
“Nós ficamos presos nas minúcias, nos detalhes que nos tornam diferentes. Acho que existem duas maneiras de olhar para isso. Existe a oportunidade de ver a textura daquela pessoa, as características que a fazem única. E existem também a possibilidade de entrar em guerra por conta disso”, disse. “Minha mãe é pastora. Eu sou muçulmano. Ela não deu cambalhotas quando eu contei que me converti, 17 anos atrás. Mas eu digo a vocês agora: nós deixamos isso de lado. E eu sou capaz de vê-la, e ela é capaz de me ver. Nós nos amamos, o amor cresceu”.
DAVID HARBOUR FAZ CONVOCAÇÃO ENTRE CARETAS DE WINONA
Enquanto Sarah Paulson, vencedora do SAG Awards de melhor atriz em telefilme ou minissérie por ?American crime story: the people vs. O.J. Simpson?, convocou as pessoas a doarem dinheiro para a União Americana pelas Liberdades Civis “para proteger os direitos e a liberdade de pessoas em todo o país”, Bryan Cranston, que levou a versão masculina da categoria por “All the way”, tentou mais uma vez entrar na pele de Lyndon B. Johnson, ex-presidente dos EUA que interpretou no filme.
“O que Lyndon Johnson pensaria sobre Donald Trump? Eu honestamente sinto que ele botaria a mão no ombro e desejaria a Trump sucesso. E ele sussurraria algo que já disse diversas vezes, como uma forma de encorajamento: apenas não mije na sopa que todos nós comeremos”, apostou.
Muito emocionada com a vitória como melhor atriz por “La la land: Cantando estações”, Emma Stone não deixou de se posicionar: “Estamos em um momento realmente complicado no nosso país e coisas são muito imperdoáveis, assustadoras e demandam ações. Eu sou muito grata por fazer parte de um grupo de pessoas que se importa e que quer refletir sobre a sociedade”.
Outro momento de destaque da noite foi a surpreendente e expressiva vitória de “Stranger things” como melhor elenco de série dramática. A cena foi ainda mais marcante quando David Harbour, que interpreta o policial Jim Hopper, fez um discurso poderoso, acompanhado por reações no mínimo curiosas de Winona Ryder (veja abaixo). Stranger Things Cast: Acceptance Speech | 23rd Annual SAG Awards | TNT
“Esse prêmio vindo de vocês, que levam seu ofício a sério, e sinceramente acreditam, como eu, que grandes atuações podem mudar o mundo, é um apelo para nossos colegas irem mais fundo e, através da arte, batalhar contra o medo, o egocentrismo e o narcisismo. Cultivar com o nosso ofício uma sociedade mais empática e compreensiva”, convocou ele.
Enquanto Winona seguia com suas caretas, Harbour fez referência a trama de “Stranger things”: “Estamos todos juntos nesta jornada horrível, dolorosa, alegre, emocionante e misteriosa que é estar vivo. Como mostramos na contínua narrativa de ‘Stranger things’, nós vamos repelir os bullies, vamos abrigar os esquisitos e os marginalizados, aqueles que não têm casa, vamos superar as mentiras, vamos caçar monstros, e quando estivermos perdidos em meio à hipocrisia e à violência casual de certos indivíduos e instituições, nós vamos, assim como o delegado Jim Hopper, socar a cara de algumas pessoas que tentarem destruir os mais fracos, os desprotegidos. E nós faremos tudo isso com alma, com coração e com alegria. Agradecemos por esta responsabilidade”. Hidden Figures Cast: Acceptance Speech | 23rd Annual SAG Awards | TNT
Na categoria mais importante da noite ? a de melhor elenco ?, “Estrelas além do tempo” saiu como vencedor. Protagonista do longa, Taraji P. Henson exaltou a trama baseada no livro escrito por Margot Lee Shetterly. “O filme é uma história sobre união. A história é sobre o que acontece quando deixamos nossas diferenças de lado. E quando nos unimos como raça humana, nós vencemos. O amor vence. Sempre”, afirmou.
Agora, a expectativa é para saber como serão as performances e discursos da indústria musical na 59ª edição do Grammy Awards, marcada para o dia 12 de fevereiro. E, dois domingos depois, os grandes nomes de Hollywood voltar a se reunir para a aguardada premiação da Academia, no Oscar 2017.