O Parlamento do Gabão foi incendiado nesta quarta-feira por manifestantes que protestavam pelo anúncio oficial da reeleição do presidente Ali Bongo Ondimba, no poder desde 2009, horas antes das forças de segurança atacarem o comitê eleitoral da oposição em Libreville.
? Todo o prédio está em chamas ?, indicou à AFP Yannick, um morador da capital, Libreville, presente na Assembleia. Uma grande coluna de fogo emanava do palácio Leon-Mba à noite, informaram jornalistas da AFP que estavam à distância.
?Eles entraram e atearam fogo ? disse a mesma testemunha, que assegurou que as forças de segurança haviam retrocedido.
Ao menos seis pessoas foram baleadas e levadas para o hospital Chambrier de Libreville, segundo a AFP. Alguns feridos confirmaram que foram baleados pelas forças da ordem na região do Parlamento.
No final da noite, o líder da oposição, Jean Ping, disse à AFP que seu comitê de campanha em Libreville foi atacado pelas forças de segurança. ?Atacaram à 01H00 (21H00 Brasília). Foi a Guarda Republicana. Primeiro bombardearam com helicópteros, depois por terra. Há 19 feridos, alguns deles muito graves ?, disse Ping em conversa por telefone, acrescentando que não estava no local.
Um porta-voz do governo disse que o ataque teve como objetivo ?os criminosos? que incendiaram a Assembleia. De acordo com a comissão eleitoral, o presidente em fim de mandato foi reeleito para um segundo período de sete anos com 49,80% dos votos, contra os 48,23% obtidos por Jean Ping, de 77 anos, outrora chefe do regime de Omar Bongo, já falecido, que dirigiu o país durante 41 anos, até 2009.
A diferença de votos foi de 5.594 de um total de 627.805 inscritos neste pequeno país petroleiro de 1,8 milhão de habitantes. O presidente em final de mandato poderia explicar sua reeleição pelos votos obtidos em seu feudo familiar, o Alto Ogooué, onde arrecadou 95,46% dos votos, sendo a participação na região superior a 99%.
Resultado questionado pela oposição, que reclamou uma recontagem de votos. Antecipando-se às confusões, as forças de segurança foram deslocadas, por prevenção, para vários pontos estratégicos da cidade desde terça-feira, véspera da divulgação do resultado da eleição de sábado.
Nesta quarta-feira à noite, a tensão continuava na cidade: pontos de controle, grandes avenidas fechadas, veículos blindados nos cruzamentos, comércios fechados desde terça-feira ao meio-dia e muitos habitantes em suas casas.
Desde que foi anunciada a controversa vitória de Bongo, as confusões começaram entre as forças de segurança e opositores, ao grito de “Ali deve ir”.
“Lamentamos três mortos e vários feridos durante a manifestação de hoje”, escreveu em sua conta no Twitter Jean Ping. No fim da tarde, o porta-voz do governo desmentia a existência de vítimas.
Enquanto ocorriam os incidentes, Ali Bongo comemorava uma eleição “exemplar”, “em paz e transparente”, em seu primeiro discurso após o anuncio da vitória.
A Comissão Eleitoral foi objeto de pressões de várias frentes para que recontasse o resultado voto a voto. Pressão vinda inclusive da França e da União Europeia, que pediram “transparência e imparcialidade”.