O relatório do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas, elaborado pela Organização das Nações Unidas – ONU, revelou que as mudanças climáticas estão certamente relacionadas às atividades humanas, assim como há certeza de que a Terra está mais quente que nos últimos 125 mil anos.
A estiagem que fez o Paraná decretar situação de emergência hídrica nos últimos meses é uma das consequências de anos de degradação do nosso planeta.
Sem chuvas desde abril, a principal responsável pela seca é La Niña, fenômeno que causa o resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial e seu efeito faz com não se formem chuvas regulares no Paraná. Um estudo publicado em janeiro pela revista Nature Climate Change mostrou que o aquecimento global pode dobrar o risco de ocorrência de uma forma extrema do fenômeno La Niña.
Sem perspectiva de chuvas suficientes para regularizar nosso sistema hídrico, a permanência da estiagem em todas as regiões paranaenses fez com que, neste mês, o Governo do Estado estendesse para todo o Paraná a situação de emergência hídrica, que até então era válida apenas para a Região Metropolitana de Curitiba e para o nosso Sudoeste.
O decreto autoriza os órgãos estaduais a empregar recursos humanos e materiais, veículos e equipamentos para auxiliar nas operações de abastecimento humano e dessedentação dos animais, além de autorizar as empresas que prestam serviços de saneamento a executar rodízios de 24 horas, desde a interrupção até a retomada do abastecimento.
Aos agricultores, que já somam inúmeras perdas pela estiagem desde o ano passado, a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento implementou medidas de apoio a fim de melhorar a eficiência no uso da água nas suas atividades, além de orientar sobre o cumprimento da restrição de captação hídrica.
A estimativa de produção de grãos para a safra deste ano, conforme a Seab, é 16% menor que a do ano passado, embora a área plantada seja 4% maior, devido à estiagem, geada e pragas.
Além da falta de água nas cidades e prejuízo no campo, a conta de energia elétrica já está em bandeira vermelha P2, com custo de R$ 9,50 por cada 100 kWh (na bandeira amarela, o custo é de R$ 1,87). Isso porque nossa produção de energia vem majoritariamente de usinas hidrelétricas, que também necessitam de recursos hídricos. Com a seca dos rios, é necessário utilizar as usinas termelétricas, que convertem a queima do carvão em eletricidade, um processo muito mais custoso financeiramente e em recursos naturais.
Para se ter uma ideia, o Rio Paraná, que abriga em sua bacia mais de 50% dos reservatórios mais importantes para a geração de energia e abastecimento, enfrenta a pior seca dos últimos 70 anos.
Já há indícios que chegamos em um quadro irreversível sobre a questão do aquecimento global. Em alguns locais do planeta, já há guerra sobre água, algo essencial para a vida na Terra.
Mesmo diante de todas essas situações, há quem ainda duvide das consequências do uso sem planejamento de recursos naturais e questione o alerta que vem sendo emitido por especialistas há anos sobre o assunto. Talvez seja hora de deixar a teoria de lado para colocar a mão na massa, criando políticas públicas de incentivo à preservação, como a qualificação de profissões que contribuam para a sobrevida no nosso planeta e conscientização sobre assuntos como reciclagem, transporte coletivo e limpo e consumo consciente. É um trabalho de formiguinha, eu sei, que deve ser feito com equilíbrio, paciência e perseverança, porque o foco no resultado é, infelizmente, a longo prazo.
Eduardo Albani Dala Costa é engenheiro ambiental e vereador em Pato Branco