Nos últimos cinco anos, um dos setores da economia cascavelense passa por adaptações para tentar se reerguer. É o caso da hotelaria, que viu suas reservas caírem depois da entrada de grandes redes nacionais e internacionais. Alguns até encontraram na venda ou locação da estrutura a tentativa de evitar prejuízos ainda maiores.
“De 2012 para cá, cinco novas redes de hotéis com potencial muito grande vieram a Cascavel. Os mais antigos, que funcionam desde 1970, precisaram evoluir, melhorar a estrutura, por conta desta nova concorrência”, relata o empresário e presidente do Cascavel Convention & Visitors Bureau, Felipe Casagrande.
Quem não se adequou a tempo viu a clientela ir em busca de algo mais atual. “Porém, aquele que não evoluiu ficou para trás”, afirma. Neste período, principalmente no auge da crise econômica do Brasil, entre 2015 e 2016, quatro hotéis fecharam em Cascavel. A maioria deles prestava serviços desde a década de 1980. Nem mesmo suas localizações próximas ao centro da cidade e também de vários pontos comerciais e turísticos puderam evitar o encerramento das atividades. “E me arrisco em dizer que, se nada for feito, muitos outros vão falir”, acrescenta Casagrande.
Além disso, o avanço tecnológico tem sido um entrave nessas negociações diretas com o cliente. Aplicativos de celulares, como o Airbnb e o Ebooking, têm facilitado a vida de quem precisa fazer uma reserva. A escolha não se resume a hotéis, mas também a residências e aparts. “O advento das novas tecnologias tem dado condições aos usuários em locar casas, por exemplo, por dia”, explica o presidente do Sindicato dos Bares, Hotéis, Restaurantes e Similares, Marcos Marchiori. Somente esses aplicativos consomem 120 leitos dos seis mil disponíveis hoje em Cascavel.
Como reagir?
Herança de seu pai, o hotel de Casagrande já é tradicional em Cascavel. No entanto, para não cair foi preciso muito esforço e criatividade. Uma das formas encontradas para manter os clientes foi a reforma da estrutura e a contratação de empresa especializada para treinar seus colaboradores. “A demanda caiu e as dificuldades apareceram”, conta.
Na metade de 2015, o pior cenário. Dos 20 funcionários, 15% deles foram demitidos. As médias das diárias, que em 2013 eram de R$ 170 aos apartamentos duplos, passaram para R$ 150, deixando de cobrir até mesmo a margem de lucro do empresário. “Foi uma série de fatores: a concorrência veio, a crise também, a demanda diminuiu e os custos aumentaram”, comenta.
Hoje, o hotel funciona com 18 trabalhadores, e somente agora começa a se recuperar. O fôlego só surgiu depois das mudanças. “Uma lotação ideal é de 65% ao mês. Naquela época, nem 40% da minha capacidade, que é de 150 leitos, era reservada”, ressalta.
Busca por eventos
É consenso entre as entidades que representam a classe hoteleira de que o turismo de negócios precisa ser fortalecido em Cascavel. No município, o único evento que movimenta a rede e que comporta 90% dos leitos ofertados é o Show Rural. Casagrande lembra que em feriados prolongados a tendência é sempre de hotéis vazios. “Depois dos cinco dias de feira, os outros 360 são bem difíceis aos hoteleiros”, lamenta.
A necessidade de trazer mais eventos à cidade virou uma das principais bandeiras de Casagrande à frente da presidência do Cascavel Convention. Segundo ele, reformar as antigas estruturas e treinar funcionários não basta quando não há atrativos para a prospecção de clientes. “Precisamos de mais eventos, de atrativos corporativos. Hoje, fizemos o contato com entidades de classe, universidades, empresários para que sejam nossos embaixadores fora daqui, que divulguem a cidade e mostrem, nos eventos que participam, de que temos porte para o turismo de negócios”, diz. Um livro de apresentação digital de toda a estrutura da cidade será distribuída aos organizadores de potenciais eventos, mostrando toda a estrutura, nos mais variados setores de Cascavel.
A intenção é de que os resultados apareçam até o fim de 2018. “Tudo é ainda muito incipiente, e em curto prazo as ações serão pouco visíveis. A tomada de decisão por eventos ocorre com muita antecedência, às vezes de até um ano. Pensando nisso, até o fim do próximo ano Cascavel deverá receber muitos eventos de grande porte”, garante Casagrande.
Mais um
Para 2018, Marchiori lembra que mais um hotel vai se instalar no município. Ele diz que há demanda, e que a crise não afetou as grandes redes. “Elas [as redes] estão contentes com a operação aqui”, afirma.