Cascavel – Com uma expressiva folha de pagamento de mais de R$ 800 mil por mês, a Cettrans (Companhia de Engenharia de Transporte e Trânsito) pena para sair do vermelho. Tanto que, de janeiro a outubro deste ano, já acumula R$ 633.069 de saldo negativo. Apesar dos números ruins, que não têm expectativa de melhoras até o fim do ano, a previsão é de que ainda feche em condições melhores que as de 2016, cujo déficit foi de R$ 1.083.703,83. Um cenário ruim para quem tenta sobreviver.
A resposta para o saldo vermelho é sempre a mesma: que a companhia começa a receber a maioria das receitas com multas, licenciamentos e outros impostos apenas a partir do segundo semestre. Mas na prática não tem sido bem assim. “A arrecadação da companhia aumentou no segundo semestre em virtude das receitas de trânsito, e tecnicamente sofre acréscimos. A companhia permanece no vermelho, porém as despesas também aumentaram”, explicou, em nota, a Cettrans.
E não é por falta de arrecadação. Apenas com multas o caixa da Cettrans “engordou” este ano R$ 12.180.500,12, de janeiro a outubro. Mesmo com a receita milionária, a empresa pública não consegue pôr as contas em dia. O motivo principal é a folha de pagamento. Para administrar os serviços de trânsito, rodoviária e aeroporto, a companhia tem 235 funcionários celetistas, com uma despesa média de R$ 820 mil por mês.
Outro problema que assombra a entidade, há anos, são as ações trabalhistas, a maioria de quem ainda trabalha na empresa. No início do ano, havia 136 ações e hoje 65% delas ainda estão em andamento. Por mês, são pagos R$ 87 mil referentes a parcelamentos de acordos judiciais.
Acúmulo de prejuízos
É por conta desse acúmulo de prejuízos que na reforma administrativa proposta pelo Executivo, e que exclui quatro das 17 secretarias, a Cettrans deve ser extinta em 12 meses, tornando-se então uma autarquia, o que colocaria fim à enxurrada de ações trabalhistas.
Quem ainda resiste à ideia, já aventada em anos anteriores, são os funcionários, mesmo a administração tendo garantido que ninguém será demitido.
Os trabalhadores buscaram apoio na Câmara de Vereadores, que inicia a discussão da reforma amanhã, com a proposta de montar uma comissão para estudar a extinção. “A ideia é começar isso já nesta semana. Tivemos outras experiências de extinção de companhias em que alguns funcionários ficaram. Mesmo assim, existe uma ameaça aos trabalhadores”, disse o presidente da Cettrans, Alsir Pelissaro.
O vereador Rômulo Quintino apresentou uma emenda na qual pede a retirada do artigo que extingue a Cettrans em 12 meses, com a justificativa de que o assunto deve ser discutido mais.
Desabafo
O assunto tem sido tratado publicamente, inclusive nas redes sociais. Uma das funcionárias mais antigas e conhecidas da Cettrans pelo seu trabalho, a especialista em Educação no Trânsito Vânia Müetzemberg tem questionado a proposta de extinção: “A quem interessa extinguir um órgão de trânsito que é referência nas ações de prevenção e redução de óbitos no País? O velho discurso da ‘indústria da multa’ ou de que precisa ‘humanizar o trânsito’ prevaricando diante do desrespeito à legislação não cola mais. Os familiares das vítimas do desrespeito no trânsito apoiam e valorizam o trabalho da Cettrans, pois compreendem que tirar de circulação e penalizar infratores não é ‘pegadinha’, é humanização do trânsito, é dever do poder público, é respeito à vida”, desabafou.