Curitiba – Minutos após ter sido solto, em palanque armado diante da sede da Polícia Federal em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso que indicou o tom que deve adotar daqui pra frente: forte ataque à Lava Jato e setores do Judiciário.
O petista falou em “safadeza” e “canalhice” do que chamou de “lado podre” de Ministério Público Federal, da Polícia Federal, da Justiça e da Receita Federal. Setores que, segundo ele, trabalharam para criminalizar a esquerda, o PT e o próprio Lula. Também atacou o ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato.
“As portas do Brasil estarão abertas para eu percorrer este país”. Ele ainda criticou a situação do desemprego do País e se referiu ao presidente Jair Bolsonaro como “mentiroso” em redes sociais.
Após investigação e denúncia da Lava Jato de Curitiba, o petista foi condenado por Moro sob a acusação de aceitar a propriedade de um tríplex, em Guarujá, como propina paga pela OAS em troca de três contratos com a Petrobras. A pena de Lula, depois confirmada pela segunda instância no Tribunal Regional Federal, foi definida pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) em oito anos, dez meses e 20 dias. Lula foi preso em abril de 2018 e ficou 580 dias detido.
A soltura do ex-presidente ocorreu menos de 24 horas depois de o STF (Supremo Tribunal Federal) ter decidido, por 6 votos a 5, que um condenado só pode ser preso após o trânsito em julgado, o que alterou a jurisprudência que, desde 2016, tem permitido a prisão logo após a condenação em segunda instância.
A soltura de Lula foi determinada pelo juiz federal Danilo Pereira Junior. A decisão foi publicada às 16h15, e o petista deixou a sede da PF às 17h40.
Mais condenados começam a sair
A decisão do STF, de que é inconstitucional a prisão após condenação em segunda instância, abriu caminho para a soltura de ao menos 13 presos da Lava Jato, entre ex-executivos de empreiteiras, doleiros e ex-dirigentes da Petrobrás, além do ex-presidente Lula.
O Conselho Nacional de Justiça informou que a decisão do Supremo impactará, ao todo, 4.895 pessoas com condenação em segunda instância em todo o País. Entre eles, réus da Lava Jato.
O ex-ministro José Dirceu está no grupo que pode ser solto. Ele cumpre pena no Complexo Médico-Penal de Pinhais de 30 anos, 9 meses e 10 dias por corrupção e lavagem de dinheiro. Seu irmão, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, também pode deixar a prisão, mesmo condenado a 10 anos, 6 meses e 23 dias.
Ontem mesmo a defesa de Dirceu já protocolou pedido de soltura baseado na decisão do STF.
Em Minas Gerais, a Justiça soltou o ex-governador Eduardo Azeredo (ex-PSDB), condenado a 20 anos e um mês de prisão por participação no mensalão mineiro. O ex-governador estava preso em um batalhão do Corpo de Bombeiros na zona sul da capital. O ex-tucano cumpria pena desde 23 de maio do ano passado.
Dólar dispara
Com a soltura de Lula, a Bolsa de Valores brasileira teve forte queda de 1,8% nessa sexta-feira (8). A cotação do dólar disparou e subiu 1,8%, a R$ 4,168, maior valor desde 17 de outubro. Dentre emergentes, o real foi a moeda que mais se desvalorizou na sessão, que também foi negativa para o mercado financeiro global. Na semana, a moeda americana acumula alta de 4,25%, a maior alta semanal desde agosto de 2018, quando a cotação subiu 4,8% e foi a R$ 4,10.