Enquanto muitas mulheres comemoram o dom da maternidade, outras vivem momentos de angústia, pois esperam por uma gravidez que demora a acontecer. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 15% da população mundial em idade fértil enfrenta alguma dificuldade nesse sentido. Além disso, as mulheres optam por ter filhos cada vez mais tarde. Segundo o IBGE, as gestações de mulheres de 30 a 39 anos aumentaram de 22,5% para 30,8%, e a idade avançada dificulta a gravidez.
Felizmente, nos últimos anos houve importantes avanços que permitem preservar a saúde reprodutiva e viabilizar o sonho da maternidade, como a tradicional fertilização in vitro (FIV), que em 2018 completou quatro décadas. O congelamento de gametas (óvulos, embriões e espermatozoides) se tornou uma realidade, além da seleção de genes e outras terapias.
Cabe ressaltar o desenvolvimento de novos métodos diagnósticos e terapêuticos para problemas como a endometriose, doença que atinge mais de 7 milhões de brasileiras e é uma das principais responsáveis pela infertilidade feminina.
“A endometriose pode ser tratada por cirurgia laparoscópica, um procedimento minimamente invasivo que permite a remoção da doença em variados sítios”, explica Mauricio Simões Abrão, professor associado e diretor da Divisão de Endometriose do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP e diretor da clínica de Medicina da Mulher. “Atualmente, também se pode realizar cirurgias robóticas, com movimentos mais seguros e precisos”.
O melhor entendimento da etiologia da doença contribui para os avanços no tratamento. Estudos recentes do nosso grupo sugerem que a causa da doença pode estar relacionada ao desequilíbrio bacteriano. “Os resultados ampliam as possibilidades de estudar novos medicamentos para tratar a doença, como o antibiótico moxifloxacina”, esclarece o médico.
O diagnóstico da adenomiose, patologia similar à endometriose, também vem passando por avanços significativos.
Onipresentes em nossa vida cotidiana por meio das redes sociais, os algoritmos emergem como uma promissora alternativa para preservar a fertilidade, especialmente para as pacientes que podem ter a fertilidade comprometida por câncer ou doenças benignas, como endometriose ou adenomiose, ou estão com mais de 30 anos.
“Os softwares e os aplicativos médicos podem armazenar dados e informações provenientes de milhões de mulheres”, explica Maurício. “Ao processar essas informações, podem, em cada caso específico, estabelecer se a paciente precisa ou não lançar mão de métodos de preservação de fertilidade, de acordo com suas características. Isso permite identificar com mais precisão as pacientes que necessitam dessas alternativas terapêuticas, evitando procedimentos desnecessários e, ao mesmo tempo, permitindo realizar o sonho de ser mãe àquelas que assim o desejarem”.