O último domingo de janeiro marca do Dia Mundial de Combate à Hanseníase, doença infecciosa com registro histórico e clínico desde os tempos bíblicos. Desde 2016, o Ministério da Saúde, consolidou a cor roxa para as campanhas de conscientização, orientação e prevenção para hanseníase.
A hanseníase é transmitida por uma bactéria, conhecida como bacilo de Hansen e a contaminação acontece pelas vias aéreas superiores, por meio de espirros, tosse, fala e respiração.
Para que ocorra essa contaminação é preciso contato direto e prolongado com o portador. O período de incubação também é longo, de dois anos em média, mas pode levar até dez anos para se manifestar. Entre os primeiros sintomas estão as manchas pelo corpo, com alteração ou perda de sensibilidade local, fraqueza e dores nas articulações de braços, pernas, mãos e pés.
A doença atinge pessoas de todas as idades e muitas vezes passa despercebida, porque seu sinal mais visível, as manchas, não doem, não coçam, não incomodam. Isto faz com que o diagnóstico aconteça tardiamente, quando o doente já apresenta incapacidades físicas por comprometimento dos nervos.
“O alerta do Dia Mundial é para que a população e mesmo os profissionais da saúde fiquem atentos para a doença, pois o tratamento cura a hanseníase”, explica o secretario da Saúde do Paraná, Beto Preto.
Tratamento
O diagnóstico e o acompanhamento são feitos pela rede pública de saúde, por meio das unidades básicas e centros especializados.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) indica a poliquimioterapia como terapêutica, com a associação de três antibióticos. O tratamento dura seis para os casos mais leves e 12 meses para os casos mais avançados, podendo ser prolongado.
Assim que começa a fazer uso do medicamento o doente deixa de transmitir a bactéria e os sintomas, que podem provocar lesões neurais, deformidades e incapacidades, ficam mais controlados.
“Por isso, a divulgação das informações sobre a doença é fundamental e tem sido um esforço constante da Secretaria Estadual de Saúde, a fim de aumentar o diagnóstico, diminuir a transmissão e evitar sequelas com o tratamento oportuno”, complementa o secretário Beto Preto.
Diagnóstico
O diagnóstico de caso de hanseníase é essencialmente clínico e epidemiológico, realizado por meio do exame geral e dermatoneurólogico para identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade e comprometimento de nervos periféricos.
Paraná registrou 510 casos, inclusive crianças
Em 2019, o Paraná teve 510 novos casos de pacientes confirmados com hanseníase, sendo oito casos registrados em crianças. Do total, 80% procurara ajuda médica já em fase avançada da doença.
São mais de 3 mil doentes em tratamento e acompanhamento no Estado. A maioria do sexo masculino, em idade produtiva, de 20 a 59 anos.
Em cada 100 doentes, aproximadamente 50 apresentam sequelas físicas.
De 2.000 para cá, o sistema de informação de agravos da Secretaria da Saúde do Paraná totaliza 25.540 notificações para a hanseníase.
O Plano Estadual de Saúde prevê manter os índices de cura dos casos de hanseníase diagnosticados na casa dos 90%. O Paraná é reconhecido nacionalmente pela manutenção dessa taxa de cura. Para isso, a secretaria seguirá com todas as etapas do tratamento: suspeição de casos, com monitoramento de suspeitos e pessoas próximas a ele; diagnóstico, medicamentos, e acompanhamento na atenção primária, com fluxos de encaminhamento estabelecidos à atenção secundária, terciária, referências e equipe multiprofissional.
Brasil é o segundo país com mais ocorrências recentes de hanseníase
A hanseníase, que tinha se tornado apenas parte de narrativas religiosas e mitológicas da Idade Média, voltou a ser protagonista no século XXI. Segundo a OMS, o Brasil tem em média 30 mil novos casos de hanseníase por ano. No País, a doença afeta, principalmente, homens com mais de 60 anos na Região Nordeste.
A hanseníase é uma doença crônica infectocontagiosa causada pela microbactéria Mycobacterium leprae que atinge primariamente a pele e os nervos. Em estágios mais avançados, afeta também os órgãos internos, como fígado, testículos e a cavidade ocular, podendo matar. “Os principais sintomas são manchas com diferentes colorações [vermelhas, brancas ou marrons], nódulos espalhados pelo corpo todo, perda de sensibilidade tátil, térmica e dolorosa, dores fortes, inchaços, febre e feridas”, explica a dermatologista membro da Doctoralia, Vivian Brazi.
Sintomas
Ainda de acordo com a especialista, dependendo da fase em que o paciente se encontra, os sintomas podem ser diferentes. “Nos estágios iniciais, as manchas que se localizam na pele são discretas. É justamente nesse momento que o diagnóstico deve ser realizado para que seja feito um tratamento adequado. Já em estágios avançados, os sintomas se tornam mais evidentes e outras manifestações podem surgir”, ressalta.
Mas não é preciso se alarmar, pois é difícil contrair a doença. “A hanseníase é transmitida de uma pessoa para outra, principalmente, pelas vias aéreas e por áreas machucadas da pele e das mucosas. Para ser infectado é necessário convívio íntimo e prolongado com uma pessoa doente sem tratamento. Além disso, cerca de 90% da população possui uma carga autoimune contra a doença, ou seja, o organismo reage antes que ela se prolifere”, esclarece a Vivian.
Segundo Vivian, a melhor maneira de evitar a contaminação é com o diagnóstico precoce da doença e com o tratamento adequado de todos os portadores.
Como tratar gestantes com hanseníase
O ginecologista e obstetra Alberto Guimarães alerta para cuidados contra a hanseníase na gravidez. Segundo ele, como é uma doença que avança de maneira lenta e gradual, muitas pessoas que nem sabem que têm hanseníase acabam engravidando. Caso o diagnóstico seja feito durante a gestação, a principal questão é o tratamento que envolve vários medicamentos e que podem ter alteração no bebê, mas isso depende da fase em que foi feito o diagnóstico e do momento em que se inicia o tratamento. O tratamento da hanseníase dentro e fora da gravidez é o mesmo, com polimendicação, ou seja, a utilização de vários medicamentos.
O pré-natal de uma gestante com hanseníase será diferenciado, já que, dependendo da gravidade da doença, podem existir sequelas na criança.
Na hanseníase, a questão começa pela pele, mas o bacilo causador da doença tem preferência por atacar os nervos periféricos e a partir disso começam as outras complicações, inclusive a doença pode comprometer a visão por conta da alteração do nervo ótico, atrofiar músculos, alteração da movimentação. Além de a pessoa também perder a autoestima e acabar se isolando, devido a essas situações. Durante o pré-natal, são tomados cuidados gerais para diminuir essas complicações referentes ao ataque dos bacilos nos nervos periféricos da mãe.