Política

Em Cascavel, economista faz análise do tabuleiro geopolítico e mazelas mundiais

Em Cascavel, economista faz análise do tabuleiro geopolítico e mazelas mundiais

Cascavel – Em Cascavel para proferir palestra sobre os cenários macroeconômicos do Brasil e mundo e o tabuleiro geopolítico, a convite da Sisprime do Brasil, um dos maiores nomes da economia brasileira com três décadas de experiência no mercado financeiro mundial, Roberto Dumas visitou a Redação do Jornal O Paraná e abordou temas inerentes aos mais recentes acontecimentos registrados no mundo e seus impactos diretos no Brasil.
Dumas iniciou a conversa falando de “dois Brasis”: o relativo e o absoluto. Em relação ao primeiro, quando os investidores estrangeiros não aportam recursos em países como Rússia, Venezuela e Argentina, a alternativa é voltar os olhares para países como Brasil, México e Índia, ou seja, economias de mercado emergente. “São locais em que a inflação não é de 130% e tampouco de 16 paridades internacionais, como observado atualmente na Argentina”, cita.
Já o Brasil absoluto, mostra que alguns problemas já eram piores há seis meses. Para Dumas, o arcabouço fiscal não é bom, pois não fará a dívida pública cair. “O mercado está em lua de mel. A dívida pública sobe, mas não chega a 100% e a inflação foi controlada”.
Na visão do economista, a reforma tributária “não é boa e nem excelente”. Entretanto, a espinha dorsal é ótima, pela não cumulatividade de impostos. Segundo Dumas, o IVA (Imposto sobre Valor Agregado) ajuda muito a produtividade das indústrias. “Não é excelente, pois há exceções, como educação, saúde, transporte público”.

Mérito do BC
As taxas de juros tendem a cair, porque a inflação observada não é atribuída ao atual governo. “A autonomia do Banco Central ajudou a controlar a inflação com maior taxa de juros. De inflação de oferta passou a ser de demanda, gerando esse controle”. Então, qual o motivo de uma taxa de juros ser tão alta? A resposta é: “O governo gasta demais e recorre a empréstimos do setor privado”.
O Brasil já deu muito calote com relação a dívida pública. Ele lembra os calotes no Plano Bresser em 1987, no Plano Collor e problema na câmara cambial em 1989, fazendo só aumentar a dívida publica e ultrapassar a marca dos 12 trilhões. “Nossa política monetária é refém da política fiscal”.
Outro ponto observado por Dumas é o reflexo da queda na taxa de juros, que vai gerar o “desemprego natural”. “Se baixar de 7%, a inflação já começa a beliscar, pois hoje, no Brasil, não temos muitos trabalhadores capacitados”.
Dumas destaca que é preciso avançar quando o assunto é saneamento básico. “90% da região norte do Brasil não tem água tratada e quando o assunto é Brasil, 50% do País necessitam dessa cobertura”, comenta. “Suprindo essas lacunas, o Brasil passará a ser mais competitivo, com pessoas mais inteligentes, por isso a necessidade de mais investimentos na educação básica e não apenas no superior”. Para Dumas, saneamento e educação vão tornar o Brasil uma potência mundial.

Agronegócio
Sobre o agronegócio, o Brasil é referência para o mundo na produção e comercialização de alimentos. Mas, muito do status conquistado é atribuído aos nossos principais compradores, como a China. “A China tem valorizado seu povo, elevando os salários dos trabalhadores e investido fortemente na urbanização”, salienta. Dumas recorda que em 2018 e 2019, 350 milhões de porcos foram dizimados por causa da febre suína. “Na época, o porco vivia de lavagem, que são restos de comida. Hoje, todo o rebanho suíno chinês de alimenta de ração, basicamente composto de soja e milho, obrigando-os a importar grande parte da produção brasileira de grãos”.
Ele lembrou ainda que a guerra travada entre a Ucrânia e a Rússia ricocheteou na Europa, que está em recessão e pode piorar, devido ao aumento do preço da energia elétrica.
Box
Experiência no BRICS
Na sua trajetória, Dumas já atuou no Banco dos BRICS em Shanghai, um dos principais centros financeiros mundiais, nas áreas de operações estruturadas e risco de crédito. Foi também representante do banco Itaú BBA em Shanghai e atualmente é professor de Economia Internacional e Economia Chinesa no Insper, Ibmec São Paulo, Fundação Instituto de Administração (FIA-USP) e Saint Paul Business School.
Autor de livros de referência sobre economia mundial, Roberto Dumas é reconhecido pela sua expertise em temas relacionados ao mercado financeiro internacional e cenários econômicos. Na área acadêmica, Roberto Dumas é mestre em Economia pela Universidade de Birmingham na Inglaterra, Mestre em Economia Chinesa pela Universidade de Fudan (China), graduado e pós-graduado em administração e economia de empresas pela FGV e Chartered Financial Analyst conferido pelo CFA Institute (USA).