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Renaud Lavillenie vence etapa da Liga Diamante em Paris

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PARIS ? Ovações, aplausos e um salto de 5m93 que lhe garantiu o primeiro lugar na etapa da Liga Diamante de Atletismo realizada em Paris. Era tudo o que o atleta da casa, o francês Renaud Lavillenie, desejava para esquecer as vaias do público brasileiro e o segundo lugar do pódio na prova de salto com vara nos Jogos Olímpicos do Rio. Celebrado efusivamente pelas tribunas do Stade de France desde que seu nome foi anunciado ao microfone ao adentrar no estádio, Lavillenie superou o americano Sam Kendricks e o tcheco Jan Kudlicka. O brasileiro Thiago Braz, campeão olímpico no Brasil (6m03) não competiu na capital francesa, mas reencontrará o rival francês no meeting de Zurique, em 1° de setembro.

O público se pôs de pé e aplaudiu sem cessar na hora dos saltos de Lavillenie, o atleta mais laureado da história do atletismo francês (campeão olímpico em Londres 2012) e ídolo em seu país. O locutor do estádio, em suas entrevistas e comentários, insistia em ressaltar o ambiente positivo e o clima de apoio aos competidores por parte dos torcedores. Entre um e outro salto, chegou a pegar sua filha no colo e recebeu mais aplausos quando a imagem apareceu nos telões do estádio.

Thiago e Lavillenie

– Não criava muitas expectativas após minha viagem ao Brasil, mas com todas as mensagens que recebi da França, imaginava que tudo o que ocorreu não poderia passar despercebido aqui. Eu devia isso aos franceses, e penso que o desempenho desta noite cabe também a eles, pois me apoiaram muito e fizeram com que pudesse me superar, apesar do meu desgaste físico. Não há nada melhor do que um estádio que aplaude todos os atletas ? desabafou Lavillenie em entrevista na zona mista, após sua vitória, numa clara referência aos acontecimentos no Rio.

Entre os torcedores franceses presentes no Stade de France, muitos ainda não digeriram ou entenderam o comportamento do público brasileiro, que vaiou Lavillenie durante a competição e também no dia seguinte, no momento do pódio e da entrega das medalhas. O atleta francês chegou a chamar a torcida no Engenhão de ?público de merda?.

Thierry Soeur, 53 anos lamentou o comportamento da torcida brasileira, contrário à imagem da população do país.

– Que os brasileiros apoiem seu atleta é um pouco normal, mas é verdade que conhecendo o público brasieiro, que tem a cultura do esporte, a alegria de viver, o espírito de festa, nós franceses fomos surpreendidos pelo que ocorreu. Ninguém entendeu nada do que aconteceu. Não é motivo para nenhum incidente diplomático, mas não foi bonito. E é uma grande pena que tenha ocorrido logo no Brasil ? disse.

Romain Garrivier, 29, foi ao Stade de France junto com sua namorada, Myriam Sabri, 28. Os dois foram os únicos ouvidos pelo GLOBO que desculparam em parte a atitude dos brasileiros no estádio do Engenhão.

– Acho que Lavillenie digeriu mal porque não obteve o que quis, se tivesse ganho, talvez não tivesse reagido da mesma forma. Nós franceses às vezes somos um pouco chauvinistas em relação aos nossos atletas. Não condeno totalmente o público brasileiro. Os brasileiros são grandes apaixonados pelo futebol, e acho que fizeram como fazem nos jogos, torceram pelo seu time, e funcionou. Não desejo o mal ao público brasileiro por isso ? disse Romain.

Para o presidente da Federação Francesa de Atletismo, Bernard Amsalem, no entanto, não há perdão:

– Fiquei chocado que não tenha sido respeitado este momento importante da vida de um atleta de alto nível, o pódio com o hino nacional e tudo mais. Para mim, foi algo muito chocante, e para ser bastante honesto, não entendi o público brasileiro.

Amsalem admite que o episódio marcou fortemente o atleta francês:

– Ele foi muito afetado, porque funciona de maneira afetiva, gosta de ouvir o público gritar, apoiá-lo. Em Londres, no terceiro salto de 5m97, havia um ruído incrível no estádio, e eu me dizia que ele não iria conseguir saltar. Mas conseguiu, e depois me disse que eram os gritos que haviam estimulado. No Brasil foi o contrário, lhe tiraram as forças.