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Olimpíada começa em Brasília com promessa de paralisação de policiais civis

BRASÍLIA – Vias interditadas, mudanças no trânsito, órgãos públicos sem expediente ou com horário reduzido, e muitos militares e PMs nas ruas ou de prontidão. Poderia ser o Rio de Janeiro, mas esse é o cenário de Brasília a partir desta quinta-feira, uma vez que a cidade recebe dez jogos de futebol da Olimpíada. O que não estava no script oficial é a deflagração de uma paralisação de 48 horas da Polícia Civil, justamente no dia de estreia da seleção brasileira. A decisão foi tomada em assembleia na terça, e os agentes prometem inclusive piquetes em frente ao Mané Garrincha.

Do lado dentro do estádio, palco das partidas, houve algumas melhorias. Seu ponto fraco, o gramado, está em melhores condições que nos jogos do Campeonato Brasileiro ocorridos na cidade ao longo do ano. Apesar de receber dez partidas – três a mais do que na Copa do Mundo -, o clima olímpico ainda não contagiou a capital do país. Resta saber se isso mudará hoje, quando Brasília sedia às 13h a primeira partida do torneio masculino, entre Dinamarca e Iraque. Às 16h, entra em campo a seleção brasileira, contra a África do Sul.

Segundo o governo do Distrito Federal (GDF), a grama do Mané Garrincha recebeu tratamento especial, com a contratação de uma empresa para fazer manutenção por um ano. O próprio governo local adotou medidas pontuais, como iluminação artificial para melhorar a qualidade do gramado, além de ter feito reparos na rede hidráulica e elétrica do estádio.

Em Brasília, problema na grama não é exclusividade do Mané Garrincha. No Cave, um estádio menor que seria usado como campo de treinamento, o gramado também deixou a desejar. Assim, outro local foi credenciado para substituí-lo: o centro de treinamento do Brasiliense, onde o Flamengo costuma treinar quando joga em Brasília. Ao todo, há mais três campos de treinamento na cidade, incluindo dois estádios – Bezerrão e Abadião – e o Centro de Capacitação Física do Corpo de Bombeiros.

Além da grama, as autoridades locais também estão dando atenção especial para a segurança. Serão 4 mil militares das Forças Armadas e, até a decisão dos policiais civis de paralisar as atividades, falava-se em 4,5 mil agentes dos órgãos de segurança pública do Distrito Federal. Nessa conta, entram também policiais militares e agentes do Detran, entre outros.

Entre as medidas adotadas, haverá uma varredura da equipe de defesa química, biológica, radiológica e nuclear no Exército no estádio Mané Garrincha em dias de jogo. Também entrará em operação um equipamento que interfere no sinal de drones, impedindo de que eles sobrevoem a área próxima ao local de competição. Na estação central do metrô, a mais próxima do estádio, a menos de 2 km, já houve até simulação de ataque terrorista.

Os policiais militares locais também já tiveram outra função nos preparativos da Olimpíada em Brasília. A seleção da África do Sul, a primeira a chegar a Brasília em 24 de julho, já fez vários treinos. Um deles, na última sexta-feira, foi contra o time amador da PM. Segundo o GDF, a equipe foi bicampeã em 2014 e 2015 do torneio mundial de polícias e bombeiros. Mas isso não impediu que eles fossem goleados por 4 a 0 pelos sul-africanos.

Nos últimos dias, o motorista brasiliense já se deparou com alguns efeitos da Olimpíada. Batedores estão escoltando os ônibus das seleções do Grupo A, o mesmo do Brasil, cujos jogos serão principalmente em Brasília. Assim, às vezes é preciso esperar alguns minutinhos a mais para poder seguir viagem.

Hoje e nos demais dias de jogo, as mudanças serão maiores. Vias perto do estádio serão interditadas. Outras sofrerão algumas restrições. Linhas de ônibus terão reforços e algumas foram criadas apenas para levar os torcedores para perto do estádio. Um alento ao brasiliense será a suspensão da greve dos metroviários, mas isso ocorrerá só nos dias de jogo. A medida foi determinada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), que considerou o impacto da Olimpíada na cidade.

O trânsito e a segurança vêm sendo citados por vários órgãos públicos para mudar seus horários nos dias de jogo. Não haverá expediente hoje, por exemplo, na sede de nenhum dos poderes locais: Executivo, Câmara Legislativa, Tribunal de Justiça e Ministério Público. Isso porque ps prédios ficam próximos do estádio e dentro da área de segurança. Na quarta e sexta-feira da semana que vem, a medida será repetida. E na terça, o expediente será reduzido.

Alguns órgãos federais, como os tribunais superiores, a cerca de 5 km do Mané Garrincha, também vão reduzir a jornada de trabalho. No Supremo Tribunal Federal (STF), no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o atendimento ao público será das 8h às 13h, a tempo de acompanhar o jogo da seleção. As sessões de julgamento, normalmente marcada para o período da tarde, serão pela manhã. No caso do TSE, em que os ministros costumam se reunir pela manhã, sequer haverá sessão. A Câmara dos Deputados e a Justiça Federal do DF também mudarão seus horários. O governo federal e Senado, por outro lado, prometem que terão expediente normal.

Na segurança, Brasília já teve um incidente relacionado à Olimpíada. Na semana passada, um vigilante que trabalhava no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, onde são vendidos os ingressos das partidas, foi preso em flagrante após tentar estuprar uma torcedora.

Para evitar problemas durante os jogos, haverá um juizado do torcedor dentro do estádio. Além disso, a Força Aérea Brasileira (FAB) vai fechar o espaço aéreo de Brasília nesses dias. Estarão proibidos, por exemplo, voos de treinamento, instrução e turísticos, além operações de paraquedas, parapentes, balões, dirigíveis, ultraleves, aeronaves experimentais, asas-deltas, aeromodelos e drones. Segundo a FAB, aviões de caça e helicópteros estarão de alerta para interceptarem aeronaves que desrespeitarem as regras. O aeroporto da cidade vai funcionar normalmente.