RIO – Ela chega com um vestido vermelho, de manga comprida e cintura marcada. Coincidência ou não, é a mesma cor e o mesmo estilo da roupa da menina que protagoniza o quadro pintado por Tania Lima de Castro, há 48 anos. Ela era então Tania Gonçalves Lima. Uma menina de 13 anos que participava de um ateliê de artes plásticas em Copacabana e que, incentivada pela professora na época, mandou um desenho para o México, sede dos Jogos daquele ano de 1968. O governo mexicano criara um festival infantil e incentivou crianças de todo o mundo a enviarem ilustrações sobre a Olimpíada. O tema era a amizade entre os povos. Mais de 1.200 desenhos foram recebidos. Muitos vieram do Brasil – e três resistiram em um acervo até hoje. Agora eles voltam ao Rio, para uma exposição especial organizada pelo México. O GLOBO descobriu essa história e lançou um desafio mês passado: encontrar uma daquelas então crianças. E não é que achamos? Essa é a história do reencontro de Tania com seu desenho, 48 anos depois.
– Sempre adorei desenhar. Produzia muito, por isso meus pais tinham me colocado no ateliê. Aí a professora, Maria de Lourdes Novaes, escolheu esse meu quadro para mandar para o México. Autorizei, achando que não o veria nunca mais. Mas a vida me trouxe essa surpresa – diz Tania, ao lado do quadro, no Museu Histórico Nacional, na Zona Portuária do Rio.
Hoje Tania, aos 61 anos, é arquiteta e trabalha para a Prefeitura do Rio, com projetos de habitação. É mãe de um casal, que herdou a veia artística. O menino gosta de música, e a menina, de arte, como a mãe. Tania ainda pinta nas horas vagas.
– É incrível como o quadro se preservou está perfeito. Essa menina sou eu. A menina do cabelo comprodio, escuro, de vestido vermelho, meias. Essa imagem sou eu sentada em uma paisagem no Recreio dos Bandeirantes, com a imagem refletida na água – ri Tania.
Menina do espelho d´água reencontra desenho olímpico 48 anos depois
O reencontro aconteceu depois de uma matéria de 13 de julho, na qual O GLOBO contava a busca do Consulado mexicano no Rio pelos pequenos autores dos desenhos de 1968.
– Um dia recebi uma mensagem de um colega de turma da faculdade. Ele copiou a matéria que O GLOBO tinha feito e colou na mensagem. Fui vendo os desenhos e imediatamente reconheci o meu. Então procurei o Consulado mexicano, me identifiquei. Todos vibraram muito. Meus amigos, colegas de trabalho. Minha família então, nem se fale. São pessoas que sabem do meu amor pela arte – diz Tania.
E o que mudou, em todos esses anos? A Tania de hoje se reconhece naquela menina do ateliê de Copacabana?
– Crescemos, amadurecemos, mas mantemos nossa essência. Até me emociono. Acho que não mudei muito. Continuo gostando de vermelho e continuo com essa vontade de contribuir para a união das pessoas. É uma emoção, nao dá para descrever como me sinto.
O governo mexicano guardou ainda parte de um mural feito por outras crianças brasileiras: Francisco José Serrador e Sergio Eugenio de Ridios Bath. Hoje, Francisco é advogado e mora em Lisboa. Já Sergio trabalha no Itamaraty, em Brasília.
– É uma honra encontrar Tania, poder compartilhar esse momento e parte dessa história. Muito emocionante. Esses desenhos terão destaque especial em uma exposição sobre México 1968, aqui no Museu Histórico Nacional – diz Luis Javier de la Torre, diretor-criativo da exposição México 1968 e presidente do Patronato Ruta de la Amistad A.C. – Nossa ideia é fazer uma exposição itinerante, com os desenhos que também recebemos de crianças de outros países, há 48 anos. Há um mundo por descobrir.
A exposição vai estar em cartaz no Museu Histórico Nacional, também sede da Casa México durante os Jogos, até 18 de setembro.
E essa história ainda não acabou. Ainda falta encontrar as autoras dos outros dois desenhos que foram enviados ao México em 1968.
– Colegas Beatriz Diamante e Maria Cristina da Silva Teles, onde estão vocês? – convoca Tania.
Reconheceu os desenhos no vídeo? É um dos autores ou sabe de quem são as ilustrações? Escreva para este e-mail: [email protected]
