Reportagem: Juliet Manfrin
Toledo – A estagnação do mercado da soja no cenário internacional influenciada pela China – que está com estoques completos e comprando menos por conta dos problemas sanitários – não afetou ainda o bom desenvolvimento das exportações do oeste do Paraná. Números recém divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior do governo federal revelam que as sete maiores economias do oeste já exportaram mais de US$ 1,4 bilhão neste ano.
O número é 58% maior que o registrado no mesmo período de 2018, quando haviam sido faturados US$ 889,5 milhões e muito perto do que foi vendido em todo o ano passado (US$ 1,65 bilhão), ou seja, em sete meses as exportações representam 85% desse valor. “Se mantivermos o ritmo de vendas externas nessas mesmas proporções, teremos vendido até agosto o mesmo valor faturado nos 12 meses de 2018”, afirma o economista Marcelo Dias ao considerar que, em média, o oeste tem exportado US$ 220 milhões por mês.
Em julho, por exemplo, foram exportados quase US$ 231,7 milhões, acima dos US$ 220,5 milhões vendidos em junho. “Isso inverte inclusive o cenário nacional, que registrou queda mês passado nas exportações. No caso da região, o grande filão são as proteínas, sobretudo de frango, que têm ganhado cada vez mais espaço e conquistado mercados, como é o caso da própria China, que está abatendo matrizes de suínos por conta da peste africana e precisa de todas as carnes para alimentar sua população”, avaliou.
Mas não foi só em volume financeiro que o oeste aumentou seu mix de exportações neste ano. Em toneladas, o salto foi de 102%, saindo de 1,06 milhão de toneladas de janeiro a julho de 2018 para 2,139 milhões de toneladas agora. “Nos primeiros meses do ano vendemos mais commodities do que em 2018, como é o caso de Toledo, com a venda de muita soja para o mercado asiático. Vender grãos acaba sendo mais barato que vender carne, que é um produto com valor agregado. Nos últimos meses o movimento intenso foi pela comercialização do milho diante da supersafra que daqui, então são produtos que rendem menos financeiramente”, explica o economista.
Embora tenham influenciado, a soja e o milho não são responsáveis pelo boom nas exportações deste ano. Isso porque as proteínas, como de frango, respondem por mais de 60% das exportações regionais, ou seja, algo próximo a US$ 840 milhões.
Guerra comercial e cambial: o perigo à vista
Para o economista Marcelo Dias, o acirramento da guerra comercial entre China e Estados Unidos terá reflexos em duas frentes no Brasil, numa delas bem perigosa. “Certamente vai intensificar a procura por produtos brasileiros para suprir o que a China deixa de comprar dos EUA. As acusações de que a China está fazendo manipulação cambial para desvalorizar a própria moeda também desvalorizou o real, deixando os produtos brasileiros mais atrativos e baratos lá fora, porém, isso é muito nocivo à economia global”, alertou. “Essa é uma condição em que se pode ganhar em alguns aspectos, mas perder muito mais em outros”, completa.
Segundo ele, não se pode descartar o risco de uma guerra cambial sem precedentes.
- AUMENTO DE PRODUÇÃO: Reavaliação do milho calcula quase 5,5 milhões de toneladas na região
- Em alta, exportações do complexo soja chamam a atenção
Importações e saldo recorde
Embora em ritmo mais ponderado, as importações também crescem no oeste. Foram US$ 313,8 milhões em produtos adquiridos de outros países neste ano, contra US$ 254,2 milhões em 2018, elevação de 24%.
Os principais produtos importados continuam sendo os fertilizantes e/ou produtos para sua composição química.
Assim, o saldo da balança regional já se aproxima de US$ 1,1 bilhão, cuja expectativa é alcançar, até o fim do ano, algo próximo de US$ 1,9 bilhão. “Os números consolidados para a região até o momento são os melhores de toda a série histórica [iniciada ainda na década de 1990] e o ano vai fechar, sem dúvida, com o melhor desempenho que já alcançamos, pois os contratos já foram firmados”, destacou o economista Marcelo Dias.
“Estamos fazendo o dever de casa e estamos focados na nossa produção. Onde houver uma boca que queira comer, o Paraná e o oeste têm um papel essencial nisso, deverá estar preparado e com qualidade sanitária para fornecer a esse mercado”, garante o secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento. Norberto Ortigara.