ECONOMIA

Feijão vem perdendo espaço para produtos ultraprocessados, diz Ibrafe

Entenda como o Brasil, maior produtor de feijão, enfrenta a queda no consumo desse alimento essencial e nutritivo - Foto: Seed-PR
Entenda como o Brasil, maior produtor de feijão, enfrenta a queda no consumo desse alimento essencial e nutritivo - Foto: Seed-PR

Cascavel e Paraná - O Brasil ocupa a liderança mundial na produção de feijão, alimento base do tradicional “Prato Feito” e símbolo da mesa dos brasileiros. Ainda assim, o consumo interno vem caindo ano após ano, dando lugar a produtos ultraprocessados. Para especialistas do setor, o cenário representa não apenas uma ameaça econômica, mas também um problema de saúde pública e até de soberania alimentar.

Em entrevista à equipe de reportagem do Jornal O Paraná, Marcelo Lüders, presidente do Ibrafe (Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses), avalia que a sociedade precisa reagir de forma urgente. “Sempre me pergunto: como o Brasil, maior produtor de feijão do mundo, pode conviver com a queda constante no consumo interno desse alimento? É um contrassenso. Temos um produto completo, nutritivo, barato e democrático, mas que ainda não recebe o valor que merece. Precisamos agir agora”, defende.

De acordo com Lüders, a pauta não pode ser tratada apenas como responsabilidade dos produtores. Instituições de peso já abraçaram a causa, entre elas a Embrapa, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), a Associação dos Produtores Irrigantes do Mato Grosso (Aprofir), o Instituto Terras Altas (TAA), o Good Food Institute (GFI) e a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Feijão.

“Essa união prova que o tema não é restrito ao setor produtivo ou à academia. É uma questão de toda a sociedade, porque o feijão está ligado à saúde, à cultura e à economia nacional”, ressalta o presidente do Ibrafe.

Estudos apontam que o consumo regular de feijão — ao menos cinco vezes por semana — contribui para reduzir riscos de doenças crônicas, melhora a qualidade de vida e pode aliviar gastos do sistema público de saúde. No campo econômico, a cadeia produtiva envolve milhares de famílias agricultoras, gera empregos na indústria e ainda abre espaço para o crescimento das exportações.

Culturalmente, o feijão mantém seu posto de protagonista no prato típico brasileiro. O tradicional “arroz com feijão”, acompanhado de proteína e salada, é considerado por especialistas o maior símbolo da identidade alimentar nacional. “Negligenciar esse patrimônio é abrir mão de uma herança que conecta gerações. Defender o feijão é defender o Brasil real, o Brasil de verdade”, destaca Lüders.

Mobilização pela valorização

Para que o feijão reassuma o protagonismo no dia a dia do brasileiro, o Ibrafe defende uma ação conjunta. Consumidores precisam se conscientizar, escolas devem reforçar práticas de alimentação saudável, restaurantes podem valorizar o prato tradicional, enquanto o setor público tem papel central em políticas de incentivo.

No lado produtivo, os agricultores são chamados a investir em qualidade, rastreabilidade e sustentabilidade, aliados a uma comunicação mais próxima com o consumidor. Nesse contexto, surge o movimento “Viva Feijão!”, que busca sensibilizar diferentes segmentos da sociedade.

“Esse movimento nasce simples, mas tem potencial de crescer e se tornar uma grande campanha nacional. Acredito que o futuro do feijão é também o futuro dos alimentos de verdade no Brasil. Não podemos aceitar que um alimento tão completo e acessível seja relegado a segundo plano”, afirma o presidente do Ibrafe.

O feijão como bandeira nacional

Para Lüders, a valorização do feijão não é apenas um desafio setorial, mas uma oportunidade de construir um movimento de identidade e orgulho coletivo. “Temos instituições, temos parceiros e temos um legado cultural que nos obriga a agir. A hora é agora. Precisamos transformar o feijão em símbolo de saúde, de orgulho e de união nacional”, conclui.

Na história

Terça-feira, dia 17, entrou para a história na cadeia do feijão. Segundo especialistas, nesta data, foram registrados os maiores volumes de negócios com o feijão das últimas três décadas. Um sinal evidente de mercado aquecido e compradores atentos às oportunidades, conforme nota encaminhada pelo Ibrafe. “Os preços se mantiveram firmes, e os produtores não cederam nas negociações. Essa resistência deu confiança aos compradores, que voltaram às compras de forma mais agressiva”, comenta Lüders.