RIO ? Um projeto cultural idealizado para celebrar a vida e a obra da cantora Maysa (1936-1977) está sob o escrutínio do Ministério da Cultura (MinC), por ter apresentado documentos falsos junto ao seu orçamento. Responsável pela produção e pela proponência do projeto ?Maysa?, o produtor cultural Deco Gedeon reagiu com cautela à reportagem publicada nesta quarta-feira pela ?Folha de São Paulo?, que obteve a informação de que o seu projeto ? enviado ao Ministério da Cultura (MinC) em 2015 ? continha um orçamento falso de aluguel de equipamento de ar-condicionado. Segundo ele, a sua empresa (Fidellio Produções) não foi a responsável pela falsificação do orçamento e do seu envio ao MinC, mas sim a empresa Brancalyone Produções, sua parceira no projeto e cujo sócio-propretário Edinho Rodrigues seria o diretor de produção de ?Maysa?. Orçado em R$ 15,7 milhões, o projeto pretende realizar uma peça teatral, uma exposição e um portal web, e contará com o filho da cantora, Jayme Monjardim, para a direção artística da montagem.
? O que aconteceu é que essa parte, desde a cotação do aluguel de ar-condicionado até o envio do orçamento ao MinC, ficou sob a responsabilidade do Edinho e da sua produtora, e alguém da equipe dele cometeu esse erro, de forjar um orçamento sem entrar em contato com o fornecedor ? diz Gedeon. ? Foi um erro grave, que está sendo investigado pelo Edinho e que deve ser investigado pelo MinC, claro. Da minha parte, fiquei sabendo desse orçamento falso pela imprensa, e é importante deixar claro que o Jayme não tem qualquer relação com a feitura desse orçamento.
Aprovado pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (Cnic) em maio de 2016, o projeto ?Maysa? não teve a sua aprovação publicada no Diário Oficial até o momento, e ainda depende dessa etapa para que possa dar início ao processo de captação de recursos junto à iniciativa privada. O produtor cultural conta que ?o projeto foi aprovado pela Cnic sem maiores problemas?, e que durante o processo de aprovação o MinC enviou ?diligências e questionamentos que foram respondidos?, mas que ?nenhum deles se referia a esse ítem do orçamento?, diz, referindo-se ao aluguel dos equipamentos de ar-condicionado.
? Não recebemos nada do MinC questionado qualquer irregularidade com esse item ? diz Gedeon. ? O MinC avalia os valores e não os documentos, mas pode ser que uma denúncia anônima tenha gerado uma reação do MinC que, na segunda-feira passada, entrou em contato conosco para solicitar três orçamentos com assinaturas e papeis timbrados. Até ali, havíamos enviado apenas um orçamento de aluguel, através do Edinho. Mas apesar desse problema, quero deixar claro que o projeto não captou nenhum recurso ainda, não causou prejuízo direto a ninguém e estamos corrigindo esse problema.
No entanto, o empresário Joaquim Carlos Aranha, proprietário da Loca Energy, diz se sentir lesado pelo uso ?de um orçamento falso com o nome da minha empresa?, diz.
? Fiquei sabendo de tudo isso através da imprensa ? diz Aranha. ? Nunca fiz qualquer orçamento para essas produtoras. Para piorar, eles forjaram dois documentos. O primeiro não tinha a minha assinatura, mas a marca da minha empresa. Mas depois eles forjaram um outro, com uma falsa assinatura minha, e enviaram ao MinC. É um absurdo. Esse Edinho me ligou no último fim de semana, ainda insistindo para eu fazer um orçamento, e depois abriu o jogo dizendo que foi um problema ocorrido com um funcionário da empresa dele. Eu disse que não queria conversa: ?Vocês falsificaram a minha assinatura, não me ligue mais e considere-se no lucro se eu não entrar com uma ação contra vocês?, foi o que eu disse a ele. Mas não sei se vou acioná-los.
Além do orçamento fabricado em nome da Loca Energy, as produtoras apresentaram ao MinC outros dois orçamentos, de duas empresas diferentes, para o aluguel de 20 aparelhos de ar-condicionado durante 180 dias. De acordo com os orçamentos, tal aluguel gira em torno de R$ 2,5 milhões. Segundo Gedeon os aparelhos seriam utilizados para climatizar uma arena com capacidade de 600 espectadores que seria construída para receber a montagem, que seria apresentada no Rio, em São Paulo e em Porto Alegre. Até o fim desta edição a reportagem buscou contato com o produtor Edinho Rodrigues, mas não obteve retorno.