Cotidiano

Preso na Lava-Jato, Gim Argello deixa PTB e se retira da vida pública

BRASÍLIA – O ex-senador Gim Argello (DF), réu na Operação Lava-Jato, anunciou nesta quinta-feira que vai deixar a vida pública. Ele mandou uma carta ao PTB, partido ao qual era filiado desde março de 2005, pedindo sua desfiliação e comunicando a renúncia à presidência da legenda no Distrito Federal.

Em carta enviada à direção do PTB, ele diz que se retira da vida pública por terem tentado “macular seu nome” e chegando “ao extremo, criando e envolvendo-me em uma situação que jamais existiu, e tudo o que procurarão, não sei o que, nada encontrarão, tornando-se assim uma situação de total indignação para mim e minha família, uma vez que não existe base jurídica e factual para a minha prisão bem como a manutenção da mesma”, escreveu Argello.

O político foi preso preventivamente na 28ª fase da Lava-Jato, em 12 de abril deste ano, acusado de receber propinas de R$ 5,3 milhões para barrar investigações sobre o cartel de empreiteiras na Petrobras. Ex-presidente do PTB no DF e ex-vice-presidente nacional do partido, Argello é suspeito de ter usado até mesmo uma igreja para lavar dinheiro de corrupção. Ele foi acusado dos crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa e obstrução às investigações.

O político foi citado em delação premiada de Ricardo Pessoa, dono da UTC, que contou que procurou o então senador, vice-presidente da CPI da Petrobras, para que não fosse convocado a depor nas comissões parlamentares em 2014, já depois de iniciada a Lava-Jato. O encontro foi na casa do parlamentar, no Lago Sul, em Brasília, e Argello pediu R$ 5 milhões para barrar as convocações. Pessoa disse ter perguntado se Argello garantiria “100%” que não seria convocado a depor. Argello teria respondido que “100% ninguém garante, mas 90% sim”. Uma semana depois do acerto, dois emissários de Argello – Paulo Roxo e Valério Neves Campos -, estiveram na sede da empreiteira em São Paulo para combinar o pagamento, que foi feito com doações oficiais nas contas de quatro partidos que se coligaram no Distrito Federal para as eleições de 2014.

Sem foro privilegiado quando a delação de Pessoa foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal, o ministro Teori Zavascki determinou que o caso fique com o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal.

Além de vice-líder do governo, Argello comandava o bloco formado no Senado pelos partidos PTB, PR, PSC, SD. Suplente, ele assumiu em 2007 e permaneceu no cargo até 2015. Ele substituiu Joaquim Roriz, também acusado de corrupção. Se houver outros políticos com foro privilegiado investigados por receber propina para atrapalhar os trabalhos da CPI, os nomes são mantidos em sigilo no STF.

Os R$ 5 milhões que Argello pediu à UTC foram pagos na forma de doação oficial a quatro partidos – DEM, PR, PMN e PRTB. Ao lado do PTB, eles formaram em 2014 a coligação “União e Força”, pela qual Gim Argello foi candidato ao Senado pelo Distrito Federal.

Apesar da tentativa, foi derrotado pelo senador Reguffe (Sem Partido-DF) nas eleições de 2014. Argello era suplente do ex-governador Joaquim Roriz no Senado. Com a cassação de Roriz, em 2007, ele assumiu a vaga.