NITERÓI ? Em meio a um cenário adverso, após a retomada da atividade no início da década de 2000, o setor naval enfrenta uma grave crise e tem perspectiva de novas baixas para este ano. De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói e Itaboraí, dois estaleiros devem encerrar as atividades até dezembro: o Vard, na Ilha da Conceição, com cerca de 300 funcionários; e o Aliança, no Barreto, com 400 trabalhadores. Dos aproximadamente 18.500 trabalhadores empregados nos estaleiros da cidade em 2012 (de acordo com o sindicato, o ano representa o auge da indústria), restaram cerca de 3.100, distribuídos em sete estaleiros. O número de vagas que já foram fechadas equivale a 83% dos postos de trabalho em 2012.
Com a diminuição da atividade, a arrecadação da prefeitura no setor caiu. Em 2015, Niterói recebeu R$ 50 milhões a menos em ISS (Imposto Sobre Serviços) referente ao setor naval comparado com o ano anterior.
? Virou pó ? resumiu o prefeito Rodrigo Neves (PV), sobre a queda na arrecadação.
Os números do desemprego constam em um levantamento realizado pelo gabinete do deputado estadual Flávio Serafini (PSOL).
Crise nos estaleiros de NiteróiEm nota, o Vard afirmou que as operações do estaleiro em Niterói ?serão encerradas no segundo semestre de 2016? porque ?a carteira de encomendas (…) se encerra com a entrega de sua última construção?. A nota acrescenta que parte dos funcionários será transferida para a unidade de Pernambuco.
O estaleiro Aliança não se manifestou até o fechamento desta edição. A UTC e o estaleiro Eisa/Mauá também foram procurados para comentar os números: representantes do primeiro preferiram não se pronunciar; os do segundo não foram localizados.
O estaleiro Renave, por sua vez, diz que há uma ?triste expectativa para o setor?. A empresa cita a situação da Petrobras, entre outros motivos, para justificar o cenário adverso, enquanto o comunicado enviado pela gerência geral do Estaleiro Brasa diz que foi necessário ?desmobilizar um grande número de funcionários em maio, depois da entrega do último projeto?.
SEM PERSPECTIVA DE MELHORA
Especialistas asseguram que a queda na cotação do barril de petróleo, que provocou a redução dos investimentos no setor, e a paralisia provocada na Petrobras com os desdobramentos da Operação Lava-Jato explicam a queda de produtividade.
? Poucos estaleiros vão resistir. Nossa estimativa é que cerca de 50% dos empregos que ainda existem no setor (em Niterói) devam ser extintos ? projeta, pessimista, José da Silva Júnior, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói e Itaboraí.
O coordenador da graduação em Engenharia Naval e Oceânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Felipe Assis, observa que a retomada do setor na década de 2000 foi baseada na indústria do petróleo, com encomendas da Petrobras. O estímulo, analisa, gerou uma nova dependência do setor. Para o especialista, a tendência é de redução de atividade e de mão de obra:
? É possível retomar, mas não no patamar que se imaginava. Não há saída palpável no curto e médio prazos.
Na contramão das expectativas, o Enaval afirmou ter planos de aumentar o número de funcionários, a partir de agosto, ?em função de novas obras contratadas?. Porém, a nota assinada pelo seu diretor-presidente, Amauri Rodrigues, afirma que o ?contingente máximo de funcionários no final de 2014 foi próximo de 1.200 pessoas?. Atualmente, são 380 funcionários, diz o comunicado.
Em meio a um cenário de crise, o secretário municipal da Indústria Naval e Petróleo e Gás, Luis Paulino, acredita que a licença para a dragagem do Canal de São Lourenço esteja autorizada pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) no início de 2017 para o início da dragagem. A ação, considerada essencial para aumentar o calado (profundidade) do canal ? e consequentemente a capacidade dos estaleiros da região de absorverem projetos maiores ?, é orçada em aproximadamente R$ 300 milhões.